Risco de mudança de uniformes
Pedro J. Bondaczuk
O homem forte panamenho,
general Manuel Antonio Noriega, escapou, ontem, de sua segunda tentativa séria
de golpe de Estado desde que assumiu o poder de fato em seu país, em 12 de
agosto de 1983, sucedendo a um outro oficial carismático das Forças de Defesa
do Panamá, general Omar Torrijos. A anterior havia sido encabeçada pelo chefe
da polícia nacional, coronel Leônidas Macias, em 16 de março de 1988.
O
que não se sabe é até quando ele vai teimar em não ceder às evidências. Ou
seja, até quando não vai perceber que a população local deseja a democracia.
Quer exercer livremente o direito de voto, como aliás ocorre em praticamente
toda a América Latina (até o Chile, de Augusto Pinochet, terá eleições presidenciais
no corrente ano).
As
acusações contra Noriega se acumulam, enquanto ele teima, olimpicamente, em
desafiar mundos e fundos. Perante a opinião pública internacional, suas
afirmações têm sido sempre iguais. Ou seja, as de que todo o problema que o envolve
se resume, basicamente, na tentativa norte-americana de não devolver o Canal do
Panamá a esse país, conforme prevê o acordo assinado entre o general Omar
Torrijos e o ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter.
Mas
ele é acusado de usar isso como mero pretexto, para tapear os panamenhos. Para
despertar neles pruridos nacionalistas. Há pessoas que garantem que o general,
na verdade, seria uma peça chave dos cartéis de narcotraficantes colombianos.
Muitos
chegam a indagar como o Panamá conseguiu sobreviver economicamente, mesmo após
as sanções que lhe foram impostas pelo antecessor de George Bush na Casa
Branca, Ronald Reagan. Afinal, naquela oportunidade, a economia panamenha
estava virtualmente falida.
O
dinheiro que o país possuía nos bancos norte-americanos foi congelado. A sua
participação na exploração do Canal do Panamá foi cortada. Houve um momento em
que faltaram verbas até para pagar os salários dos funcionários públicos.
Subitamente, não se falou mais dessa crise. Ela acabou virtualmente esquecida,
como se esse país, que não dispõe de tantos recursos assim, houvesse achado uma
mina inesgotável de divisas.
De
fato, muita coisa suspeita ficou no ar. A esta altura, para todo mundo, seria
melhor que Noriega pensasse numa saída pelo menos honrosa. Isto enquanto ainda
há tempo. Caso ele não se disponha a tal gesto de grandeza, corre o risco de
numa dessas tentativas golpistas, como a de ontem, acabar sendo de fato
enxotado do poder.
Em
tais circunstâncias, o destino que o esperaria não seria, convenhamos, dos
melhores. O hoje homem forte do Panamá poderia ter de trocar o seu pomposo
uniforme de general, de agora, por um “pijama listrado” de alguma penitenciária
da Flórida. E isto, certamente, jamais deve ter passado por sua cabeça em
momento algum.
(Artigo publicado na página 12,
Internacional, do Correio Popular, em 4 de outubro de 1989).
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