Casa Branca prestigia rei Hussein
Pedro J. Bondaczuk
O rei Hussein, da Jordânia,
é considerado hoje elemento-chave (pelo menos por parte dos líderes ocidentais)
para uma solução negociada na intrincada questão do Oriente Médio. Classificado
como moderado dentro do mundo árabe, tem bom trânsito entre a ala maior (por
isso mais representativa) dos palestinos, ou seja, a facção da OLP fiel ao
velho líder Yasser Arafat.
O
convite feito ontem, em Roma, pelo primeiro-ministro israelense, Shimon Peres,
para que o monarca visite Israel, embora surpreendente, não é, portanto, fora
de propósito. Ele apenas traduz em palavras o pensamento da Casa Branca. Aliás,
expresso também verbalmente, e com bastante clareza, pelo presidente
norte-americano, Ronald Reagan, na entrevista que concedeu ao jornal “The New
York Times” no dia 12 passado.
Na
oportunidade, ele afirmou, taxativamente: “Não acredito que se possa conseguir
a paz negociada no Oriente Médio sem o rei Hussein da Jordânia”. E aduziu: “E
com pelo menos a permissão dos palestinos, representando-os em negociações
diretas com os israelenses”.
Pouca
coisa (ou quase nada) filtrou do recente acordo firmado pelo monarca jordaniano
com Yasser Arafat. Pelo que pudemos entender, ambos estariam de acordo
basicamente na criação de um Estado federado palestino, nas áreas atualmente
ocupadas por Israel, na Cisjordânia e Faixa de Gaza.
A
exeqüibilidade dessa medida, entretanto, é bastante discutível, para não dizer
praticamente nula. E por várias razões. A primeira delas é a existência das
colônias judias na área, que se disseminaram por toda a região especialmente
durante o governo de Menachen Begin.
Elas
foram construídas por judeus ortodoxos, elementos de difícil trato até para os
dirigentes israelenses. Esses colonos gozam de relativa autonomia na
organização e direção de suas comunidades, que são como minúsculos Estados
dentro do Estado. É bom que não se perca de vista que tanto a Cisjordânia
quanto a Faixa de Gaza estão ocupadas há praticamente 18 anos. Tempo demais para
que os israelenses concordem em se desfazer dessas áreas.
Outro
ponto importante a considerar é a desconfiança até patológica de Telaviv com
relação aos palestinos. Para Israel (e não sem uma certa dose de razão), o que
esse povo na verdade deseja não é uma convivência pacífica com o Estado judeu,
mas sim a sua extinção.
Tanto
é que os israelenses não são ainda sequer reconhecidos até hoje pelos
palestinos. Teria o monarca jordaniano condições de modificar isso? Poderia ser
considerado um interlocutor confiável pelas partes envolvidas? Como, por
exemplo, os palestinos pró-Síria, que não mais reconhecem sequer a liderança de
Arafat.
O
rei Hussein, que é o 38º descendente de Maomé e que ascendeu ao trono hachemita
da Jordânia em 1953, conta com uma infinidade de inimigos no mundo árabe (e até
mesmo no seu próprio reino), por causa da sua formação ocidental (estudou na
Universidade de Harrow e na Academia Militar de Sandhurst, ambas na
Inglaterra).
Desde
menino, dos seus 16 anos (em 1951), escapou por verdadeiro milagre de dezenas
de atentados. Seus adversários mais ferrenhos já tentaram matá-lo por
envenenamento, bombas terroristas, ataque aéreo de quatro caças contra o
pequeno bimotor que ele pilotava, tiros de fuzil, tiros de metralhadora e
outras formas, que no momento não nos ocorrem. Não se pode dizer, portanto, que
ele seja amado por sua gente.
No
final do ano passado, bastou que restabelecesse relações com o Egito, para que
os árabes radicais voltassem a ameaçar Hussein mais uma vez de morte. E esses
grupos extremados não são tão pequenos., ou impotentes, ou inexpressivos, como
se costuma, erroneamente, julgar.
O
que poderia acontecer caso o rei se dispusesse a imitar o gesto heróico de
Anwar Sadat e falar no Knesset israelense? Talvez nada! Mas talvez seus
inimigos logrem, finalmente, seu intento, e façam com ele o que fizeram com
Abdulah, o antecessor de seu pai, assassinado em Jerusalém em 1951, época em
que a cidade ainda era a capital jordaniana.
(Artigo publicado na página 11,
Internacional, do Correio Popular, em 21 de fevereiro de 1985).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment