Sunday, May 19, 2013


Casa Branca prestigia rei Hussein


Pedro J. Bondaczuk
  
O rei Hussein, da Jordânia, é considerado hoje elemento-chave (pelo menos por parte dos líderes ocidentais) para uma solução negociada na intrincada questão do Oriente Médio. Classificado como moderado dentro do mundo árabe, tem bom trânsito entre a ala maior (por isso mais representativa) dos palestinos, ou seja, a facção da OLP fiel ao velho líder Yasser Arafat.

O convite feito ontem, em Roma, pelo primeiro-ministro israelense, Shimon Peres, para que o monarca visite Israel, embora surpreendente, não é, portanto, fora de propósito. Ele apenas traduz em palavras o pensamento da Casa Branca. Aliás, expresso também verbalmente, e com bastante clareza, pelo presidente norte-americano, Ronald Reagan, na entrevista que concedeu ao jornal “The New York Times” no dia 12 passado.

Na oportunidade, ele afirmou, taxativamente: “Não acredito que se possa conseguir a paz negociada no Oriente Médio sem o rei Hussein da Jordânia”. E aduziu: “E com pelo menos a permissão dos palestinos, representando-os em negociações diretas com os israelenses”.

Pouca coisa (ou quase nada) filtrou do recente acordo firmado pelo monarca jordaniano com Yasser Arafat. Pelo que pudemos entender, ambos estariam de acordo basicamente na criação de um Estado federado palestino, nas áreas atualmente ocupadas por Israel, na Cisjordânia e Faixa de Gaza.

A exeqüibilidade dessa medida, entretanto, é bastante discutível, para não dizer praticamente nula. E por várias razões. A primeira delas é a existência das colônias judias na área, que se disseminaram por toda a região especialmente durante o governo de Menachen Begin.

Elas foram construídas por judeus ortodoxos, elementos de difícil trato até para os dirigentes israelenses. Esses colonos gozam de relativa autonomia na organização e direção de suas comunidades, que são como minúsculos Estados dentro do Estado. É bom que não se perca de vista que tanto a Cisjordânia quanto a Faixa de Gaza estão ocupadas há praticamente 18 anos. Tempo demais para que os israelenses concordem em se desfazer dessas áreas.

Outro ponto importante a considerar é a desconfiança até patológica de Telaviv com relação aos palestinos. Para Israel (e não sem uma certa dose de razão), o que esse povo na verdade deseja não é uma convivência pacífica com o Estado judeu, mas sim a sua extinção.

Tanto é que os israelenses não são ainda sequer reconhecidos até hoje pelos palestinos. Teria o monarca jordaniano condições de modificar isso? Poderia ser considerado um interlocutor confiável pelas partes envolvidas? Como, por exemplo, os palestinos pró-Síria, que não mais reconhecem sequer a liderança de Arafat.

O rei Hussein, que é o 38º descendente de Maomé e que ascendeu ao trono hachemita da Jordânia em 1953, conta com uma infinidade de inimigos no mundo árabe (e até mesmo no seu próprio reino), por causa da sua formação ocidental (estudou na Universidade de Harrow e na Academia Militar de Sandhurst, ambas na Inglaterra).

Desde menino, dos seus 16 anos (em 1951), escapou por verdadeiro milagre de dezenas de atentados. Seus adversários mais ferrenhos já tentaram matá-lo por envenenamento, bombas terroristas, ataque aéreo de quatro caças contra o pequeno bimotor que ele pilotava, tiros de fuzil, tiros de metralhadora e outras formas, que no momento não nos ocorrem. Não se pode dizer, portanto, que ele seja amado por sua gente.

No final do ano passado, bastou que restabelecesse relações com o Egito, para que os árabes radicais voltassem a ameaçar Hussein mais uma vez de morte. E esses grupos extremados não são tão pequenos., ou impotentes, ou inexpressivos, como se costuma, erroneamente, julgar.

O que poderia acontecer caso o rei se dispusesse a imitar o gesto heróico de Anwar Sadat e falar no Knesset israelense? Talvez nada! Mas talvez seus inimigos logrem, finalmente, seu intento, e façam com ele o que fizeram com Abdulah, o antecessor de seu pai, assassinado em Jerusalém em 1951, época em que a cidade ainda era a capital jordaniana.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 21 de fevereiro de 1985).

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