Saturday, May 18, 2013


Vésperas de nova crise


Pedro J. Bondaczuk

A atual recessão mundial teve como estopim, segundo o consenso geral, os dois grandes entrechoques do setor petrolífero, que ficaram conhecidos como “crises do petróleo”. O primeiro ocorreu em 1974, quando os países árabes nacionalizaram seus poços e foi criada a Opep.

Num piscar de olhos, os preços do barril do produto subiram para a estratosfera, pondo fim a um período em que essa matéria-prima tinha um custo absurdamente baixo. O segundo choque ocorreu em outubro de 1980, quando o Iraque invadiu o território iraniano, atravessando o disputado Rio Shatt-Al-Arab, iniciando a atual guerra do Golfo Pérsico.

Em ambas as oportunidades, nós, brasileiros, saímos perdendo. E até hoje essas crises do petróleo são mencionadas pelos tecnoburocratas como causas de nossa derrocada econômica. Para os que demonstravam entusiasmo com a estabilidade dos últimos três anos nos preços do petróleo, (havendo, inclusive, em virtude do excesso de oferta no mercado até mesmo uma queda no valor do barril, sendo este vendido, por exemplo, pela Nigéria, por até US$ 27,5), vai agora um doloroso recado:  podem esquecer as esperanças de uma volta aos bons tempos e preparar-se para uma situação crítica.

Os contínuos ataques de iranianos e iraquianos a petroleiros no Golfo Pérsico estão puxando, irresistivelmente, os preços para cima. Principalmente em razão da exorbitante alta dos seguros dos navios que operam na zona, que foram elevados, na manhã de ontem, pela seguradora Lloyds, de Londres, para 72,1% do valor da embarcação.

Aumentado o frete, certamente se elevará, também, em conseqüência, o custo do produto transportado. O ministro do Petróleo da Arábia Saudita, xeque Zaki Yamani, advertia, sabiamente, no dia de ontem: “A elevação de preço no valor do seguro, mais do que os ataques do Irã e do Iraque aos petroleiros que trafegam no Golfo, inviabilizará a venda do petróleo da região”.

Aí, sem dúvida, a oferta do produto, certamente, cairá, voltando a ser menor do que a procura. E pela inflexível lei de mercado, a da oferta e da procura, os preços...É isso mesmo. Os preços subirão à estratosfera, encarecendo tudo o que dependa do petróleo. E que Deus tenha piedade de nós...       

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 26 de maio de 1984)

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