Vésperas
de nova crise
Pedro J. Bondaczuk
A atual recessão mundial teve como estopim, segundo
o consenso geral, os dois grandes entrechoques do setor petrolífero, que
ficaram conhecidos como “crises do petróleo”. O primeiro ocorreu em 1974,
quando os países árabes nacionalizaram seus poços e foi criada a Opep.
Num piscar de olhos, os preços do barril do produto
subiram para a estratosfera, pondo fim a um período em que essa matéria-prima
tinha um custo absurdamente baixo. O segundo choque ocorreu em outubro de 1980,
quando o Iraque invadiu o território iraniano, atravessando o disputado Rio
Shatt-Al-Arab, iniciando a atual guerra do Golfo Pérsico.
Em ambas as oportunidades, nós, brasileiros, saímos
perdendo. E até hoje essas crises do petróleo são mencionadas pelos
tecnoburocratas como causas de nossa derrocada econômica. Para os que
demonstravam entusiasmo com a estabilidade dos últimos três anos nos preços do
petróleo, (havendo, inclusive, em virtude do excesso de oferta no mercado até
mesmo uma queda no valor do barril, sendo este vendido, por exemplo, pela
Nigéria, por até US$ 27,5), vai agora um doloroso recado: podem esquecer as esperanças de uma volta aos
bons tempos e preparar-se para uma situação crítica.
Os contínuos ataques de iranianos e iraquianos a
petroleiros no Golfo Pérsico estão puxando, irresistivelmente, os preços para
cima. Principalmente em razão da exorbitante alta dos seguros dos navios que
operam na zona, que foram elevados, na manhã de ontem, pela seguradora Lloyds,
de Londres, para 72,1% do valor da embarcação.
Aumentado o frete, certamente se elevará, também, em
conseqüência, o custo do produto transportado. O ministro do Petróleo da Arábia
Saudita, xeque Zaki Yamani, advertia, sabiamente, no dia de ontem: “A elevação
de preço no valor do seguro, mais do que os ataques do Irã e do Iraque aos
petroleiros que trafegam no Golfo, inviabilizará a venda do petróleo da
região”.
Aí, sem dúvida, a oferta do produto, certamente,
cairá, voltando a ser menor do que a procura. E pela inflexível lei de mercado,
a da oferta e da procura, os preços...É isso mesmo. Os preços subirão à
estratosfera, encarecendo tudo o que dependa do petróleo. E que Deus tenha
piedade de nós...
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 26 de maio de
1984)
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