Por que o mundo anda de cabeça virada?
Pedro J.
Bondaczuk
“O mundo anda de cabeça virada”. Esta expressão, que
usamos comumente quando nos deparamos com algum crime bárbaro ou atentado
terrorista brutal, é mais certa do que se possa pensar. Isto porque, segundo
estimativas bastante conservadoras, pelo menos 10% da população mundial faz uso
de algum tipo de droga. Ou seja, há pelo menos 50 milhões de viciados, desde a
União Soviética à Tailândia, dos Estados Unidos à Austrália, da Bolívia ao
Paquistão. Destes, 20 milhões são norte-americanos, o que representa 30% de
todos os que consomem tóxicos no mundo.
Por essa razão, este país vem
empreendendo uma dispendiosa campanha publicitária visando a conter, e se
possível extirpar, os tentáculos do tráfico internacional de entorpecentes.
Desde o início do mês, filmetes têm sido mostrados na televisão de todo o
território dos EUA, para revelar ao público os efeitos danosos da maconha, da
cocaína, da heroína, do haxixe e de outros produtos de consumo mais popular,
tais como o “crack” e o chamado “pó de anjo”.
Num desses filmes exibidos na TV
é mostrado ao telespectador um paciente, deitado numa mesa de cirurgia de um
hospital e um médico, com os olhos vidrados, com um bisturi nas mãos, fumando
um cigarro de maconha antes da operação. Um locutor, ao final das contas,
pergunta: “Você gostaria de estar nessa situação?”.
Outros filmes mostram um piloto
de jato drogado, um engenheiro, etc., sempre com mensagens idênticas. O
objetivo da campanha é o mesmo dos traficantes: chocar a opinião pública. O que
é diferente, é a motivação.
Enquanto quem traficas procura se
impor diante dos viciados, pela força bruta, para que jamais saiam de suas
garras e permaneçam como perpétuos clientes, a publicidade tenta mostrar,
especialmente aos jovens, a terrível armadilha na qual podem estar se metendo
ao lançarem mão do uso de entorpecentes.
O presidente Ronald Reagan está
seriamente empenhado em livrar os Estados Unidos desse domínio do vício. Para
tanto, investe uma verba monumental, de US$ 2 bilhões, para reprimir os
criminosos, recuperar os drogados e induzir os que ainda não consomem essas
substâncias para que jamais as consumam ou ao menos “experimentem”.
Com toda essa ofensiva, todavia,
a dolorosa constatação que se pode fazer, com os dados existentes, é uma só: “O
mundo está perdendo esta guerra contra os chefões do narcotráfico
internacional”. E só há uma maneira de vencer este inimigo: enfrentando-o com
as suas próprias armas.
(Artigo publicado na
página 68, Polícia, do Correio Popular, em 22 de março de 1987).
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