Papel dos homens públicos
Pedro J.
Bondaczuk
A revelação de um novo escândalo sexual, envolvendo uma
prostituta de luxo, nascida na Índia e naturalizada britânica, Pámela Bordes,
vem agitando a imprensa e os meios políticos da Grã-Bretanha. A mulher teria
afirmado a uma revista pornográfica que dispõe de informações capazes de
derrubar o governo inglês.
De imediato, a opinião pública
relacionou o caso com outro ocorrido há um quarto de século, que foi o
“affaire” amoroso entre o então ministro da Guerra da Grã-Bretanha, John
Profumo, e a “call girl” Christine Keller, hoje uma “respeitável” e milionária
senhora, afastada do palco principal dos acontecimentos. Apenas nesta semana,
portanto, este é o segundo escândalo sexual a estourar em âmbito internacional.
O outro foi a surpreendente
confissão, feita anteontem, num programa de televisão, pelo primeiro-ministro
da Austrália, Bob Hawke, de que vem traindo a sua esposa há algum tempo. Com
lágrimas nos olhos, o premier disse estar arrependido disso e que ama muito a
mulher. Como se vê, casos de corrupção (administrativa ou pessoal) não faltam
para engordar as manchetes.
Recapitulando, brevemente, os
mais óbvios, podemos mencionar, por exemplo, o “Irangate”, no momento em que o
seu pivô, o ex-tenente-coronel Oliver North, enfrenta um Grande Júri, com
possibilidades de passar o resto da sua vida numa prisão, caso seja condenado.
Ainda nos Estados Unidos, outra
questão que está pegando fogo é a referente aos atos de suborno de autoridades
do Pentágono para facilitar a vitória em concorrências públicas de determinadas
empresas fornecedoras do Departamento de Defesa.
Na União Soviética, embora tenha
passado um pouco a grande onda de revelações escandalosas que l’as se deflagrou
assim que Mikhail Gorbachev assumiu o poder e começou uma devassa na vida
pública local, há o caso do genro do ex-líder, Leonid Brezhnev, cujo julgamento
está próximo do final.
Na França e no Japão, os fatos de
corrupção versam sobre manipulações de políticos e empresários nas bolsas de valores
dos respectivos países. Entre os franceses, para ganhar dinheiro em cima da
venda da norte-americana Triangle para
as estatal Pechiney. Entre os japoneses, foram presentinhos em ações da
poderosa “Recruit” para homens públicos facilitarem as coisas para a empresa.
Por causa desse incidente, vários
ministros foram demitidos, “managers” de grande e sólida reputação acabaram
sendo presos e o próprio gabinete do primeiro-ministro Noboru Takeshita está
balançando. E não se pode esquecer do expurgo que o Partido Comunista Chinês
está fazendo, eliminando 23 mil filiados dos seus quadros.
E por quê? Por causa da
corrupção! Como se vê, muita, mas muita gente mesmo ainda não entende o papel
verdadeiro do homem público, achando, de forma megalomaníaca, que os cargos que
lhes são atribuídos são homenagens pessoais e não deveres de cidadãos que se
devem cumprir.
(Artigo publicado na página 17,
Internacional, do Correio Popular, em 23 de março de 1989).
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