Nossa guerra é contra a miséria
Pedro J. Bondaczuk
O presidente Collor de Mello,
ao praticar, nesta semana, um ato simbólico, mas de enorme
significado político, pôs fim a uma controvérsia que se arrastava
por três anos e restituiu o País à realidade. Ao jogar duas pás
de cal no poço de 320 metros de profundidade, cavado no campo de
provas da Serra do Cachimbo, no Pará, decidiu que o governo iria
cumprir o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares obtido na
cidade mexicana de Tlatloco, em vigor desde 1º de julho de 1970, não
produzindo a bomba atômica brasileira.
Até porque, a nossa guerra,
na qual toda a sociedade precisa se empenhar, é outra. É contra a
miséria que afeta a grande maioria da população, num país tido e
havido como a oitava maior economia do mundo ocidental. É contra a
ignorância, fruto da carência e que a perpetua. É contra a
insalubridade do nosso povo, contra as injustiças sociais, contra
comportamentos distorcidos, desenvolvidos e perpetuados ao longo do
tempo.
As armas, para esse tipo de
combate, são diferentes. São a probidade administrativa, o rigoroso
e fanático apego e cumprimento da legislação vigente, a vontade
política para executar o que é justo, certo, factível e
indispensável, sem olhar o status e nem a fortuna dos beneficiários.
Afinal, todas as Constituições que o Brasil já teve preceituaram a
igualdade da totalidade dos cidadãos perante a lei.
O simples fato de haver
passado pela cabeça de alguém (e pela controvérsia levantada desde
1988, a despeito dos desmentidos, isso ocorreu) a ideia do País, que
enfrenta tantos e tão complexos problemas, fabricar um artefato
nuclear, que traz em si tantos riscos e absolutamente nenhum
benefício, chega a ser algo constrangedor.
Quando as superpotências
começam a se conscientizar da loucura que é um líder, uma
corporação ou um país deterem um poder tão terrível em suas
mãos, capaz de eliminar, por completo, a vida neste planeta, povos
que ainda estão em estágios muito atrasados, que sequer se
conscientizaram do valor e da importância da democracia (que é o
mínimo de consciência que um homem civilizado deve ter), correm
atrás dessa sandice, desperdiçando rios de dinheiro, que sequer
lhes basta para minorar sua miséria, isto é assustador!
O pai da ciência do
Comportamento, Konrad Lorenz, disse, certa feita, numa entrevista: “O
homem civilizado comete oito pecados capitais. Todos provam que a
humanidade contemporânea está em perigo. Deles, o mais fácil de
controlar seria a bomba atômica, pois basta não fabricá-la ou não
jogá-la. Mas levando em conta a incrível burrice coletiva da
humanidade, já é um fim difícil de alcançar”.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de setembro de 1990)
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