Friday, February 16, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Nossa guerra é contra a miséria


Nossa guerra é contra a miséria



Pedro J. Bondaczuk


O presidente Collor de Mello, ao praticar, nesta semana, um ato simbólico, mas de enorme significado político, pôs fim a uma controvérsia que se arrastava por três anos e restituiu o País à realidade. Ao jogar duas pás de cal no poço de 320 metros de profundidade, cavado no campo de provas da Serra do Cachimbo, no Pará, decidiu que o governo iria cumprir o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares obtido na cidade mexicana de Tlatloco, em vigor desde 1º de julho de 1970, não produzindo a bomba atômica brasileira.

Até porque, a nossa guerra, na qual toda a sociedade precisa se empenhar, é outra. É contra a miséria que afeta a grande maioria da população, num país tido e havido como a oitava maior economia do mundo ocidental. É contra a ignorância, fruto da carência e que a perpetua. É contra a insalubridade do nosso povo, contra as injustiças sociais, contra comportamentos distorcidos, desenvolvidos e perpetuados ao longo do tempo.

As armas, para esse tipo de combate, são diferentes. São a probidade administrativa, o rigoroso e fanático apego e cumprimento da legislação vigente, a vontade política para executar o que é justo, certo, factível e indispensável, sem olhar o status e nem a fortuna dos beneficiários. Afinal, todas as Constituições que o Brasil já teve preceituaram a igualdade da totalidade dos cidadãos perante a lei.

O simples fato de haver passado pela cabeça de alguém (e pela controvérsia levantada desde 1988, a despeito dos desmentidos, isso ocorreu) a ideia do País, que enfrenta tantos e tão complexos problemas, fabricar um artefato nuclear, que traz em si tantos riscos e absolutamente nenhum benefício, chega a ser algo constrangedor.

Quando as superpotências começam a se conscientizar da loucura que é um líder, uma corporação ou um país deterem um poder tão terrível em suas mãos, capaz de eliminar, por completo, a vida neste planeta, povos que ainda estão em estágios muito atrasados, que sequer se conscientizaram do valor e da importância da democracia (que é o mínimo de consciência que um homem civilizado deve ter), correm atrás dessa sandice, desperdiçando rios de dinheiro, que sequer lhes basta para minorar sua miséria, isto é assustador!

O pai da ciência do Comportamento, Konrad Lorenz, disse, certa feita, numa entrevista: “O homem civilizado comete oito pecados capitais. Todos provam que a humanidade contemporânea está em perigo. Deles, o mais fácil de controlar seria a bomba atômica, pois basta não fabricá-la ou não jogá-la. Mas levando em conta a incrível burrice coletiva da humanidade, já é um fim difícil de alcançar”.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de setembro de 1990)



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