Saturday, February 24, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Sistema ideal


Sistema ideal



Pedro J. Bondaczuk



O Brasil precisa de um sistema político em que as crises possam ser bem administradas e não interfiram em sua vida econômica. Algo que preserve as instituições, sejam quais forem as circunstâncias, e os cidadãos tenham condições de trabalhar normalmente, sem maiores sustos.

Carece de uma forma de governo moderna, descentralizada e sobretudo transparente, que, caso não impeça por completo, torne pelo menos muito difícil alguém com poder de mando cair na tentação de se corromper ou fazer vistas grossas à corrupção ao seu redor.

A democracia caracteriza-se por crises que, quando bem administradas, geram uma quantidade indescritível de energia, que impulsiona uma sociedade democrática ao desenvolvimento. Não é, como alguns pensam, um procedimento pacífico, consensual, sem traumas. A unanimidade existe apenas em ditaduras, onde a palavra do ditador é a lei. Nos regimes ditatoriais as crises inexistem, mas nunca nas democracias.

A experiência de outros povos demonstra que – até estatisticamente – o sistema de governo mais seguro, mais lógico e mais racional é o parlamentarismo, com ou sem Poder Moderador, tendo como chefe de Estado tanto um presidente, quanto um rei ou um imperador, não importa.

Estão aí os exemplos da Alemanha, do Japão, da Itália, da França, do Canadá, da Suécia, da Bélgica e de tantos outros povos para atestar a eficácia dessa forma de gestão da coisa pública. Mas do que o Brasil precisa é de um regime parlamentarista bem implantado, e não de algo como o que foi engendrado em 1961, após a renúncia do então presidente Jânio Quadros, decidido a toque de caixa, com o único objetivo de permitir que João Goulart assumisse a Presidência sem que os militares o derrubassem e naquela ocasião se registrasse uma guerra civil no País, já que os gaúchos, na oportunidade, haviam se erguido em armas, dispostos a evitar uma quartelada.

O parlamentarismo de que os brasileiros carecem é o acompanhado do indispensável voto distrital, para dar maior representatividade ao Parlamento, e que seja extensivo a Estados e municípios. A legislação eleitoral teria de ser modificada e adaptada à nova realidade.

Precisaria conter, por exemplo, um dispositivo como o existente na Alemanha, que exige que um partido político, para ser reconhecido como tal, deve ter pelo menos 4% dos votos nas eleições gerais. Esse simples detalhe acabaria com a atual parafernália de siglas de aluguel. O País teria agremiações políticas de fato, com programas, diretrizes claras e uma ideologia que as fundamentasse.

Houvesse um parlamentarismo desse tipo entre nós agora, e a sociedade não viveria o atual clima de confrontação, com a probabilidade do pedido de impeachment do presidente Fernando Collor. Se o primeiro-ministro ou o seu gabinete se mostrassem incompetentes, ou ímprobos, ou omissos, bastaria uma moção de censura do Parlamento para que eles caíssem, sem picuinhas de comadre, sem sustos e sem este festival de histeria que se observa agora. Está aí algo para o eleitor pensar bem para o plebiscito de abril do ano que vem.

(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 23 de agosto de 1992).


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