A lei é para todos
Pedro J. Bondaczuk
O presidente Itamar Franco
decretou intervenção nas 17 estatais vinculadas ao Ministério dos
Transportes que converteram os salários em Unidade Real de Valor
pelo pico, em vez da média, infringindo a lei. Além disso, numa
atitude lógica e necessária, afastou os membros das diretorias e
dos conselhos de administração dessas empresas.
É preciso acabar de vez com a
impunidade para aqueles que malbaratam recursos públicos, ainda mais
quando, para isso, se valem de meios ilegais, como foi o caso. A
conversão salarial inadequada significou um aumento de milhões de
dólares nas folhas de pagamento dessas estatais, num momento em que
se faz indispensável o governo conter gastos para evitar déficits
e, por consequência, mais inflação.
O que faz esses senhores
pensarem que são especiais em relação aos demais brasileiros? Se
os salários na iniciativa privada foram convertidos pela média,
qual a razão de no funcionalismo ou nas estatais existir uma regra
diferente? Esses diretores não se dão conta de que os recursos que
desperdiçaram, agindo ilegalmente --- e é esse o ponto que precisa
ser enfatizado, o da ilegalidade --- se originam de uma carga
tributária absurda e escorchante?
Há lógica em retirar tamanho
volume de dinheiro dos setores produtivos da sociedade para "doar"
a quem não faz jus? Marcos Cézari, em artigo publicado na Folha de
S. Paulo de 2 de junho de 1991, reproduzido pelo professor Marcos
Cintra em seu livro "Tributação no Brasil e o Imposto Único"
(Makron Books Editora), constata que a classe média, a grande
sacrificada neste País, trabalha duas horas e meia diárias, da sua
jornada de oito, apenas para pagar impostos federais, estaduais e
municipais. Isso perfaz a considerável cifra de 31,89% da renda
familiar.
Daí a revolta do cidadão
cumpridor de seus deveres ao tomar conhecimento de irregularidades
como essa. Que as punições não se limitem a essas 7 estatais.
Todas as que eventualmente burlaram a lei devem, também, pagar, caso
existam outras.
Não há maior estímulo à
corrupção e à ilegalidade do que a impunidade. Agiu corretamente,
portanto, o presidente Itamar Franco ao tomar essa atitude. Caso,
como chefe de governo, não viesse a agir assim, estaria, por
omissão, sendo cúmplice dos infratores.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de maio de 1994).
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