Thursday, February 15, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Dramas metropolitanos


Dramas metropolitanos



Pedro J. Bondaczuk


As duas cidades mais importantes do Estado, São Paulo e Campinas, comemoram, neste ano, aniversários com números redondos, que por mera convenção, acabam se tornando marcantes e merecendo festejos especiais. A Capital de todos os paulistas, por exemplo, celebra, no próximo dia 25, 450 anos de fundação, ostentando o status (não se sabe se positivo ou não) de terceira maior metrópole do mundo em termos de população, superada, apenas, por Tóquio e pela Cidade do México.

Seu gigantismo, porém, traz problemas inerentes a essa condição e, como seria de se esperar, tão gigantescos quanto o seu próprio tamanho. Conta, por exemplo, com um número enorme de favelas, caldo de cultura da violência, que continua em espiral crescente. Tem carências, ainda, no que se refere a saneamento básico, a transportes, a emprego, à saúde e a tantos e tantos outros setores.

Campinas, por seu turno, vai fazer 230 anos em 14 de julho e, guardadas as proporções, enfrenta as mesmas contradições e carências de zonas urbanas superpopulosas como São Paulo. Acaba de completar seu primeiro milhão de habitantes, mas a qualidade de vida dos seus moradores está muito distante da ideal, e da importância que tem no contexto econômico e cultural do País. Faltam recursos para fazer face a todas suas necessidades, que crescem em progressão geométrica, enquanto o dinheiro disponível aumenta (quando aumenta) em progressão aritmética. O resultado desse descompasso é o agravamento dos desníveis sociais, da exclusão, da desigualdade, com o consequente aumento da miséria e da criminalidade.

Há um equívoco muito grande, por parte de muitas pessoas, quanto à questão populacional. E este é o de relacionar o número de habitantes de uma determinada localidade ao seu progresso material. Raciocina-se que, quanto mais gente integra determinada comunidade, maior é a sua capacidade de gerar riquezas, já que conta com mais cérebros, mais braços, mais indivíduos para trabalhar. Se todos tivessem idênticas oportunidades, e igual acesso à educação, contínua e de boa qualidade, até que isso poderia ser admissível. Mas não é o que ocorre via de regra.

Quase nunca essa correspondência, entre população e progresso, é verdadeira. Aliás, se existir, em algum lugar, essa hipotética igualdade de oportunidades, certamente, será exceção, jamais regra. Pelo contrário, mais gente implica, como diz a lógica, em maiores necessidades de recursos para investimentos. Se o número de habitantes fosse fator de progresso, por si só, Bombaim, na Índia, por exemplo, ou Calcutá, ou Xangai, ou o Cairo estariam entre os melhores lugares do mundo para se morar. E as pessoas razoavelmente informadas sabem que não são.

O que se espera, nas duas importantes metrópoles paulistas, portanto, é que as autoridades caiam em si e promovam campanhas, não para atrair um maior número de pessoas para as respectivas cidades, mas em sentido exatamente contrário. Ou seja, que estimulem a saída de excedentes populacionais para localidades em que eles sejam mais úteis, que comportem um número maior de pessoas e que lhes proporcionem, por consequência, reais oportunidades para progredir e viver melhor.

(Editorial da Folha do Taquaral de 5 de janeiro de 2004).


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