Dramas metropolitanos
Pedro J. Bondaczuk
As duas
cidades mais importantes do Estado, São Paulo e Campinas, comemoram,
neste ano, aniversários com números redondos, que por mera
convenção, acabam se tornando marcantes e merecendo festejos
especiais. A Capital de todos os paulistas, por exemplo, celebra, no
próximo dia 25, 450 anos de fundação, ostentando o status (não se
sabe se positivo ou não) de terceira maior metrópole do mundo em
termos de população, superada, apenas, por Tóquio e pela Cidade do
México.
Seu
gigantismo, porém, traz problemas inerentes a essa condição e,
como seria de se esperar, tão gigantescos quanto o seu próprio
tamanho. Conta, por exemplo, com um número enorme de favelas, caldo
de cultura da violência, que continua em espiral crescente. Tem
carências, ainda, no que se refere a saneamento básico, a
transportes, a emprego, à saúde e a tantos e tantos outros setores.
Campinas,
por seu turno, vai fazer 230 anos em 14 de julho e, guardadas as
proporções, enfrenta as mesmas contradições e carências de zonas
urbanas superpopulosas como São Paulo. Acaba de completar seu
primeiro milhão de habitantes, mas a qualidade de vida dos seus
moradores está muito distante da ideal, e da importância que tem no
contexto econômico e cultural do País. Faltam recursos para fazer
face a todas suas necessidades, que crescem em progressão
geométrica, enquanto o dinheiro disponível aumenta (quando aumenta)
em progressão aritmética. O resultado desse descompasso é o
agravamento dos desníveis sociais, da exclusão, da desigualdade,
com o consequente aumento da miséria e da criminalidade.
Há um
equívoco muito grande, por parte de muitas pessoas, quanto à
questão populacional. E este é o de relacionar o número de
habitantes de uma determinada localidade ao seu progresso material.
Raciocina-se que, quanto mais gente integra determinada comunidade,
maior é a sua capacidade de gerar riquezas, já que conta com mais
cérebros, mais braços, mais indivíduos para trabalhar. Se todos
tivessem idênticas oportunidades, e igual acesso à educação,
contínua e de boa qualidade, até que isso poderia ser admissível.
Mas não é o que ocorre via de regra.
Quase nunca
essa correspondência, entre população e progresso, é verdadeira.
Aliás, se existir, em algum lugar, essa hipotética igualdade de
oportunidades, certamente, será exceção, jamais regra. Pelo
contrário, mais gente implica, como diz a lógica, em maiores
necessidades de recursos para investimentos. Se o número de
habitantes fosse fator de progresso, por si só, Bombaim, na Índia,
por exemplo, ou Calcutá, ou Xangai, ou o Cairo estariam entre os
melhores lugares do mundo para se morar. E as pessoas razoavelmente
informadas sabem que não são.
O que se
espera, nas duas importantes metrópoles paulistas, portanto, é que
as autoridades caiam em si e promovam campanhas, não para atrair um
maior número de pessoas para as respectivas cidades, mas em sentido
exatamente contrário. Ou seja, que estimulem a saída de excedentes
populacionais para localidades em que eles sejam mais úteis, que
comportem um número maior de pessoas e que lhes proporcionem, por
consequência, reais oportunidades para progredir e viver melhor.
(Editorial
da Folha do Taquaral de 5 de janeiro de 2004).
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