Para
o bem e para o mal
Pedro J. Bondaczuk
A capacidade de criar do bicho homem é fantástica, diria, até, que
é infinita. Essa, aliás, é a característica que fez dele senhor
do Planeta, enquanto espécie. Pelo menos em tese, somos (todos)
dotados desse potencial de criatividade. Por que uns o desenvolvem e
atuam como se fossem mágicos, fazendo descobertas incríveis e
inventando coisas que antes de inventadas pareciam impossíveis,
enquanto outros são mais estúpidos do que portas e têm habilidades
inferiores às de um macaco treinado? Há uma série de fatores para
que haja essa diferença, que não cabem na presente análise.
Quando me refiro à criatividade, sequer estou pensando em literatura
e nas artes em geral. A presença dessa virtude fica implícita
nessas atividades, das quais é condição “sine qua non”. Se
você não criar, não será artista coisíssima alguma e... ponto
final! Refiro-me à aptidão para suprir necessidades básicas e
solucionar problemas desde os urgentíssimos até os que comportem
soluções de longo prazo. Acompanhem meu raciocínio.
Durante um tempo enorme da sua existência, o homem tinha uma
dificuldade que parecia insuperável para produzir fogo. Não se
sabe, óbvio (por não haver restado o mínimo registro desse
pioneiro) quem foi que descobriu e sistematizou os primeiros, e
rústicos, métodos de produção desse tipo de energia, a
calorífica, tão abundante no universo. Mas foi, é inegável e para
lá de óbvio, um salto imenso na evolução da espécie. Hoje, o
homem gera energia utilizando os mais diversos meios, desde a força
das águas ao abundante calor do sol.
Para abrigar-se, a espécie dependeu, sabe-se lá por quanto tempo
(provavelmente por dezenas de milhares de milênios) de cavernas
naturais, que tinha que disputar com outros animais que lhe eram
muito superiores em força e ferocidade. Hoje, constrói torres que
são autênticas cidades verticais, com mais de meio quilômetro de
altura, dotadas de todas as facilidades proporcionadas pela
sofisticada (e miraculosa) tecnologia contemporânea.
Para comunicar-se, nosso remoto ancestral primeiro teve que
desenvolver linguagem oral. Há evidências que não sabia nem falar.
E desenvolveu isso mediante variedade de sons produzidos pelo seu
aparelho fonador e cujas combinações consolidou e tornou comuns,
mediante convenção, dando nome e identidade a cada objeto ao seu
redor. Milênios mais tarde, sofisticou as coisas ainda mais, criando
um sistema de escrita, uma das maiores revoluções, base da
civilização como a conhecemos. E hoje? É preciso citar as
facilidades e maravilhas ao nosso dispor, tornando um Planeta até
não muito tempo atrás enorme (que para muitos parecia infinito)
numa aldeiazinha global em que, estando no Brasil, em fração de
minutos posso comunicar-me com outra pessoa no Japão, como se
estivéssemos cara a cara, por e-mail ou até mesmo pelo celular?
Claro que não!
Sequer é necessário mencionar todas as facilidades que a tecnologia
nos proporciona, para tornar nossa vida mais fácil, mais
confortável, mais segura e mais extensa. Evoluímos, mediante a
criatividade, em todos os campos e direções: na medicina, na
engenharia, na indústria, nos transportes, etc.etc.etc. Tudo estaria
perfeito se a capacidade humana de criar fosse utilizada, apenas, em
sentido construtivo, evolutivo, ou seja, para o bem. Mas não é.
Também no campo da criação há a luta incessante entre os dois
instintos básicos do homem (como, ademais, os de qualquer outro
animal): o erótico, de autopreservação e preservação da espécie
e seu polo oposto, o tânico, de destruição.
É desnecessário, também, mencionar os inúmeros e sofisticados
artefatos inventados e aperfeiçoados a limites extremos, cuja única
finalidade é a de destruir, de eliminar, de matar. Há, ainda,
armazenados em milhares de silos espalhados pelo território de pelo
menos seis dos membros do infame “clube atômico” , bombas e mais
bombas nucleares, em enorme profusão, suficientes para destruir por
completo pelo menos uma centena de planetas do porte da Terra. O
engraçado é que as sociedades que detêm essas armas (e as que não
as detêm) acham sua existência e posse “normais”. Normais como,
cara pálida?! Trata-se de brutal insanidade, de absoluta loucura,
mas...
Voltando à abordagem inicial, constatamos que há pessoas que têm
potencial imenso de criatividade, mas que o desperdiçam por falta de
disciplina, método e comprometimento com o que quer que seja. Se
essa aptidão for para criar artefatos de destruição, é até uma
bênção que permaneçam obtusas e estúpidas como uma porta.
Muitas, no entanto, poderiam ser magníficas cabeças pensantes que,
se desenvolvessem sua capacidade criativa para o bem, poderiam
resolver os milhares (não seriam milhões?) de problemas ainda
pendentes que ameaçam e tornam difícil a vida humana.
Alguns indivíduos mal instruídos ou mal educados acham que lhes
basta mera “inspiração” para inventarem máquinas, princípios,
ideologias ou, até, para comporem simples poema. Estão equivocadas.
A capacidade de criar só pode ser plenamente desenvolvida e exercida
com disciplina, concentração, estudo e trabalho. Requer, além
disso, meticuloso planejamento e rigor na execução do que foi
planejado. E mesmo com tudo isso, o resultado será sempre incerto.
Sem essas virtudes, porém, não haverá resultado algum.
Albert Einstein, tido e havido como gênio, criador, entre outras
coisas, da “Teoria da Relatividade”, afirmou em seu livro “Como
vejo o mundo”: “Fazer, criar, inventar exigem uma unidade de
concepção, de direção e de responsabilidade”. E, convenhamos,
ele sabia o que dizia. Seu currículo, ou seja, suas realizações
depunham, por si sós, e enfaticamente, a seu favor.
Fica, pois, um conselho óbvio a você, leitor (e que serve,
evidentemente, para mim e para qualquer pessoa): Não desperdice seu
talento por mera negligência, ignorância e, principalmente,
preguiça Aplique-se, concentre-se, estude e trabalhe, sem
esmorecimento ou desânimo. Essa recomendação vale quer você seja
artista, quer cientista ou quer mero artesão Justifique sua
passagem (aliás, brevíssima) por este estranho (exótico?) Planeta.
Afinal, a vida é oportunidade única, sem nenhuma chance de reprise.
Mas desenvolva e aplique sua criatividade apenas para o bem. Não
seja agente de Tanatos, que sequer precisa de asseclas em sua tarefa
de arrasar tudo e todos, de células a civilizações, planetas,
estrelas, galáxias...
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