Sunday, February 04, 2018


Exercício de cidadania



Pedro J. Bondaczuk



Os que se opõem à democracia (há quem o faça), negando que seja o melhor sistema para assegurar a harmoniosa convivência numa sociedade, apontam o fato de existirem políticos cujo interesse único é o seu próprio – que fazem da vida pública uma simples carreira – como prova da sua inadequação.

Para estes, o povo não sabe votar e por isso deve ser privado desse exercício de cidadania. Pelo que se vê na atualidade, algumas dessas acusações até que procedem. Entretanto, não se pode generalizar, sob pena de se cometer gritantes injustiças, além das generalizações serem frutos de mentes acanhadas, de pessoas mal informadas ou mal intencionadas.

Os ditadores são muito mais corruptos (e algumas vezes psicopatas) e com uma agravante: não admitem críticas. Por isso, a pior das democracias é infinitamente melhor do que a “melhor das ditaduras”.

Em meio a toda essa enxurrada de maus políticos, que emergiram das urnas ultimamente graças ao dispêndio de imensas fortunas, foram eleitos, também, líderes autênticos, idealistas e íntegros, que demonstram probidade, honestidade e sobretudo competência para exercer suas funções.

Um desses jovens dinâmicos, hoje ganhando projeção nacional, em virtude da sua luta contra esse imoralidade chamada figurativamente de “marajaísmo”, é o governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, que assumiu o cargo em 15 de março de 1987 (e não de 1986, como afirmamos, equivocadamente, em nosso comentário de anteontem).

Todavia, embora santo de casa não faça milagres, nós temos, em Campinas, em nível doméstico, uma figura que conquistou o respeito dos munícipes e que vem sendo apontada ultimamente (até nacionalmente) como exemplo de administrador com os pés no chão.

Trata-se do prefeito José Roberto Magalhães Teixeira que, diante da decisão do Conselho Monetário Nacional de anteontem, fixando um novo horário de funcionamento dos bancos em todo o País, acaba de conquistar uma grande vitória política.

Não bastassem, portanto, os seus sucessos na área administrativa (nem sempre destacados, mas que agora já parecem óbvios), está sendo ressaltada agora a sua capacidade liderança, o que é raro nestes “tempos bicudos” que estamos vivendo.

O alcaide de Campinas não é, convenhamos, um líder carismático. Não tem arroubos de demagogia e nem vive batendo às portas dos órgãos de imprensa à cata de espaço para aparecer. É um homem ponderado, sensato, mas que está sempre presente nas horas necessárias, decidindo, emitindo opiniões e lutando por elas, dentro de um procedimento democrático, que admite críticas e permite discussões.

Estamos “a cavaleiro” para falar do prefeito, com o qual jamais tivemos um contato formal, a não ser o do eleitor que viu satisfeita a sua expectativa em relação àquele que elegeu.

Por essa razão, prestam um desserviço imenso ao País aqueles que argumentam que, por não saber votar, o brasileiro deve ser privado desse exercício. Se ele não consegue escolher bem os políticos que se apresentam como candidatos, deve ser ensinado.

Precisa poder praticar o direito de cidadania com a mesma frequência do europeu ocidental ou do norte-americano (ou até do venezuelano, já que este país está há 30 anos sem saber o que é uma ruptura institucional).

Não é possível que a democracia seja um bem para esses povos, um fator de progresso e desenvolvimento, e algo “nocivo” e viciado para nós. Há momentos em que o eleitor acerta em sua escolha. E são esses acertos que devem ser ressaltados “ad nauseam”, para que se repitam e se multipliquem, e jamais os equívocos, que devem servir, isto sim, como lições para que não se erre mais com tanta frequência.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de janeiro de 1988).

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