Exercício de cidadania
Pedro J. Bondaczuk
Os que se
opõem à democracia (há quem o faça), negando que seja o melhor
sistema para assegurar a harmoniosa convivência numa sociedade,
apontam o fato de existirem políticos cujo interesse único é o seu
próprio – que fazem da vida pública uma simples carreira – como
prova da sua inadequação.
Para
estes, o povo não sabe votar e por isso deve ser privado desse
exercício de cidadania. Pelo que se vê na atualidade, algumas
dessas acusações até que procedem. Entretanto, não se pode
generalizar, sob pena de se cometer gritantes injustiças, além das
generalizações serem frutos de mentes acanhadas, de pessoas mal
informadas ou mal intencionadas.
Os
ditadores são muito mais corruptos (e algumas vezes psicopatas) e
com uma agravante: não admitem críticas. Por isso, a pior das
democracias é infinitamente melhor do que a “melhor das
ditaduras”.
Em
meio a toda essa enxurrada de maus políticos, que emergiram das
urnas ultimamente graças ao dispêndio de imensas fortunas, foram
eleitos, também, líderes autênticos, idealistas e íntegros, que
demonstram probidade, honestidade e sobretudo competência para
exercer suas funções.
Um
desses jovens dinâmicos, hoje ganhando projeção nacional, em
virtude da sua luta contra esse imoralidade chamada figurativamente
de “marajaísmo”, é o governador de Alagoas, Fernando Collor de
Mello, que assumiu o cargo em 15 de março de 1987 (e não de 1986,
como afirmamos, equivocadamente, em nosso comentário de anteontem).
Todavia,
embora santo de casa não faça milagres, nós temos, em Campinas, em
nível doméstico, uma figura que conquistou o respeito dos munícipes
e que vem sendo apontada ultimamente (até nacionalmente) como
exemplo de administrador com os pés no chão.
Trata-se
do prefeito José Roberto Magalhães Teixeira que, diante da decisão
do Conselho Monetário Nacional de anteontem, fixando um novo horário
de funcionamento dos bancos em todo o País, acaba de conquistar uma
grande vitória política.
Não
bastassem, portanto, os seus sucessos na área administrativa (nem
sempre destacados, mas que agora já parecem óbvios), está sendo
ressaltada agora a sua capacidade liderança, o que é raro nestes
“tempos bicudos” que estamos vivendo.
O
alcaide de Campinas não é, convenhamos, um líder carismático. Não
tem arroubos de demagogia e nem vive batendo às portas dos órgãos
de imprensa à cata de espaço para aparecer. É um homem ponderado,
sensato, mas que está sempre presente nas horas necessárias,
decidindo, emitindo opiniões e lutando por elas, dentro de um
procedimento democrático, que admite críticas e permite discussões.
Estamos
“a cavaleiro” para falar do prefeito, com o qual jamais tivemos
um contato formal, a não ser o do eleitor que viu satisfeita a sua
expectativa em relação àquele que elegeu.
Por
essa razão, prestam um desserviço imenso ao País aqueles que
argumentam que, por não saber votar, o brasileiro deve ser privado
desse exercício. Se ele não consegue escolher bem os políticos que
se apresentam como candidatos, deve ser ensinado.
Precisa
poder praticar o direito de cidadania com a mesma frequência do
europeu ocidental ou do norte-americano (ou até do venezuelano, já
que este país está há 30 anos sem saber o que é uma ruptura
institucional).
Não
é possível que a democracia seja um bem para esses povos, um fator
de progresso e desenvolvimento, e algo “nocivo” e viciado para
nós. Há momentos em que o eleitor acerta em sua escolha. E são
esses acertos que devem ser ressaltados “ad nauseam”, para que se
repitam e se multipliquem, e jamais os equívocos, que devem servir,
isto sim, como lições para que não se erre mais com tanta
frequência.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de
janeiro de 1988).
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