Votos brancos e nulos
Pedro J. Bondaczuk
As pesquisas de opinião, de
diversos institutos especializados, projetam uma enxurrada de votos
brancos e nulos na escolha dos futuros congressistas, nas eleições
de 3 de outubro próximo. Este é um dado altamente preocupante e por
uma série de razões.
A primeira é que o próximo
presidente, seja ele quem for, somente poderá pôr em prática o seu
programa de governo caso tenha respaldo político no Congresso.
Precisará contar com nítida maioria, para que os projetos
necessários a uma boa administração venham a ser aprovados. Itamar
Franco, por exemplo, não teve essa facilidade, o que atrapalhou
muito sua gestão.
O segundo ponto a considerar é
menos prático, mas até mais lógico. O voto em branco propicia
fraudes na hora da apuração. Não é nada difícil de ser
preenchido, bastando um simples descuido dos fiscais. Quanto ao nulo,
o beneficiado sempre é o mau político, aquele que se vale do poder
econômico para obter uma vaga.
A composição do Congresso
baseia-se, somente, nos sufrágios válidos. Os anulados ou brancos
são desconsiderados. Dessa forma, se determinado candidato precisava
de 50 mil votos para se eleger, caso todos fossem atribuídos aos
vários postulantes em disputa, se a soma dos que tiverem validade
foi reduzida (digamos, em 50%), ele precisará apenas de 25 mil. Esse
procedimento prejudica aquele cidadão idealista, com vontade de
trabalhar e que não tenha dinheiro para imprimir milhões de
"santinhos" ou elaborar faixas e cartazes para respaldar
sua campanha.
Aliás, a péssima qualidade
do atual Congresso deve-se à enxurrada de votos brancos e nulos das
eleições passadas. Quem pensa que agindo dessa maneira está
protestando contra algo ou alguém, se engana completamente. Na
verdade, está apenas se omitindo e prestando um enorme desserviço à
democracia, conquistada a duras penas na década passada.
Convém, portanto, aos
formadores de opinião pública, que trabalhem nesse tema, pois o
tempo é curto --- faltam apenas 84 dias para as eleições ---, e um
processo de conscientização política costuma ser lento e demorado.
A tendência de anular o voto ou de votar em branco parte de um
pressuposto preconceituoso e equivocado: o de que todo político é
corrupto e oportunista.
Generalizações, como esta,
além de estúpidas e destrutivas, sabotam o processo democrático em
sua base. A afluência às urnas é o momento maio, o ápice, a
culminância da democracia que alguns, infelizmente, ainda confundem
com baderna e anarquia.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de julho de 1994).
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