Friday, February 02, 2018


Votos brancos e nulos


Pedro J. Bondaczuk


As pesquisas de opinião, de diversos institutos especializados, projetam uma enxurrada de votos brancos e nulos na escolha dos futuros congressistas, nas eleições de 3 de outubro próximo. Este é um dado altamente preocupante e por uma série de razões.

A primeira é que o próximo presidente, seja ele quem for, somente poderá pôr em prática o seu programa de governo caso tenha respaldo político no Congresso. Precisará contar com nítida maioria, para que os projetos necessários a uma boa administração venham a ser aprovados. Itamar Franco, por exemplo, não teve essa facilidade, o que atrapalhou muito sua gestão.

O segundo ponto a considerar é menos prático, mas até mais lógico. O voto em branco propicia fraudes na hora da apuração. Não é nada difícil de ser preenchido, bastando um simples descuido dos fiscais. Quanto ao nulo, o beneficiado sempre é o mau político, aquele que se vale do poder econômico para obter uma vaga.

A composição do Congresso baseia-se, somente, nos sufrágios válidos. Os anulados ou brancos são desconsiderados. Dessa forma, se determinado candidato precisava de 50 mil votos para se eleger, caso todos fossem atribuídos aos vários postulantes em disputa, se a soma dos que tiverem validade foi reduzida (digamos, em 50%), ele precisará apenas de 25 mil. Esse procedimento prejudica aquele cidadão idealista, com vontade de trabalhar e que não tenha dinheiro para imprimir milhões de "santinhos" ou elaborar faixas e cartazes para respaldar sua campanha.

Aliás, a péssima qualidade do atual Congresso deve-se à enxurrada de votos brancos e nulos das eleições passadas. Quem pensa que agindo dessa maneira está protestando contra algo ou alguém, se engana completamente. Na verdade, está apenas se omitindo e prestando um enorme desserviço à democracia, conquistada a duras penas na década passada.

Convém, portanto, aos formadores de opinião pública, que trabalhem nesse tema, pois o tempo é curto --- faltam apenas 84 dias para as eleições ---, e um processo de conscientização política costuma ser lento e demorado. A tendência de anular o voto ou de votar em branco parte de um pressuposto preconceituoso e equivocado: o de que todo político é corrupto e oportunista.

Generalizações, como esta, além de estúpidas e destrutivas, sabotam o processo democrático em sua base. A afluência às urnas é o momento maio, o ápice, a culminância da democracia que alguns, infelizmente, ainda confundem com baderna e anarquia.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de julho de 1994).

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