Deterioração do aparato
urbano
Pedro J. Bondaczuk
O filósofo e economista
Eduardo Gianetti, entrevistado no programa "Roda Viva" da
"TV Cultura" nesta segunda-feira, disse que os prefeitos
das grandes cidades brasileiras apresentam, em geral, dois perfis
básicos: o do "tocador de obras", que constrói anéis
viários, pontes, túneis e viadutos, sem se preocupar com rombos nos
cofres públicos; e o saneador de finanças, que via de regra sucede
o primeiro e nada investe em sua gestão, mas deixa as contas em dia,
e com superávit para o sucessor.
Existem, evidentemente, outros
tipos de administradores municipais. Há os totalmente medíocres,
que os munícipes só querem esquecer quando deixam o cargo, por nem
construir nem economizar. Mas há também --- infelizmente raros ---
os que constroem o que a cidade precisa e ao mesmo tempo conservam o
que ela já tem e de quebra gastam estritamente nos limites do
orçamento. Prescindem de empréstimos ou de aumento de impostos.
Mas esse prefeito ideal,
embora exista, é hoje uma raridade, quiçá no mundo. Às vezes o
eleitor sequer o identifica e perde a oportunidade de elegê-lo,
escolhendo alguém que se comunique bem, mas administre mal.
A pretexto da crise ---
condição "eterna" de um país como o Brasil --- a maioria
das cidades brasileiras de grande e médio portes, inclusive as
turísticas, apresentam aspecto de desmazelo e abandono, ou no mínimo
de descaso por parte de quem deveria cuidar delas.
Ruas esburacadas, pontes e
viadutos com visíveis sinais de desgaste, quando não em vias de
ruir --- como quase aconteceu com a Ponte dos Remédios, na Marginal
do Tietê, em São Paulo, no ano passado --- e outros logradouros
públicos relegados ao abandono, é um cenário que já se tornou
rotina. Isso dificulta a vida dos moradores e espanta os visitantes,
servindo como desestímulo ao turismo.
Campinas não chega a tanto,
mas apresenta alguns problemas de falta de conservação do seu
aparato urbano. Basta dar uma volta pelo Centro e bairros mais
próximos para entender a razão de o trânsito campineiro provocar
tamanho estresse nos motoristas, para não falar dos acidentes, que
mataram, em média, em 1997, 12 pessoas por mês. Da periferia nem é
bom falar.
Várias ruas importantes estão
com autênticas crateras, que comprometem principalmente a suspensão
dos veículos, numa época em que o cidadão busca economizar ao
máximo, dadas as incertezas da atual conjuntura econômica. Outras
permanecem bloqueadas, total ou parcialmente, com obras
intermináveis, que passam de uma administração a outra, e parecem
nunca ter fim, como é o caso da Orosimbo Maia.
Se governar é definir
prioridades, nada é mais prioritário do que a manutenção das vias
de circulação da cidade, mesmo que seja um trabalho que não
apareça aos olhos dos munícipes e não redunde, por consequência,
em dividendos nas urnas.
A falta de cuidados, além de
apressar a deterioração --- como começa a ocorrer, por exemplo,
com pontes e viadutos de Campinas, conforme mostra matéria publicada
ontem pelo "Correio Popular" --- coloca vidas em risco.
Neste caso, porém, a bem da
justiça, a atual administração, se não merece elogios, não é
merecedora de críticas (ainda). Acaba de fazer uma fiscalização
nos potenciais locais de risco, levantando o que precisa ser
reparado. Resta, detectado o problema, fazer a necessária
manutenção.
(Editorial número um
publicado na página 2 do Correio Popular em 21 de janeiro de 1998).
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