Sunday, February 11, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Deterioração do aparato urbano


Deterioração do aparato urbano

Pedro J. Bondaczuk

O filósofo e economista Eduardo Gianetti, entrevistado no programa "Roda Viva" da "TV Cultura" nesta segunda-feira, disse que os prefeitos das grandes cidades brasileiras apresentam, em geral, dois perfis básicos: o do "tocador de obras", que constrói anéis viários, pontes, túneis e viadutos, sem se preocupar com rombos nos cofres públicos; e o saneador de finanças, que via de regra sucede o primeiro e nada investe em sua gestão, mas deixa as contas em dia, e com superávit para o sucessor.

Existem, evidentemente, outros tipos de administradores municipais. Há os totalmente medíocres, que os munícipes só querem esquecer quando deixam o cargo, por nem construir nem economizar. Mas há também --- infelizmente raros --- os que constroem o que a cidade precisa e ao mesmo tempo conservam o que ela já tem e de quebra gastam estritamente nos limites do orçamento. Prescindem de empréstimos ou de aumento de impostos.

Mas esse prefeito ideal, embora exista, é hoje uma raridade, quiçá no mundo. Às vezes o eleitor sequer o identifica e perde a oportunidade de elegê-lo, escolhendo alguém que se comunique bem, mas administre mal.

A pretexto da crise --- condição "eterna" de um país como o Brasil --- a maioria das cidades brasileiras de grande e médio portes, inclusive as turísticas, apresentam aspecto de desmazelo e abandono, ou no mínimo de descaso por parte de quem deveria cuidar delas.

Ruas esburacadas, pontes e viadutos com visíveis sinais de desgaste, quando não em vias de ruir --- como quase aconteceu com a Ponte dos Remédios, na Marginal do Tietê, em São Paulo, no ano passado --- e outros logradouros públicos relegados ao abandono, é um cenário que já se tornou rotina. Isso dificulta a vida dos moradores e espanta os visitantes, servindo como desestímulo ao turismo.

Campinas não chega a tanto, mas apresenta alguns problemas de falta de conservação do seu aparato urbano. Basta dar uma volta pelo Centro e bairros mais próximos para entender a razão de o trânsito campineiro provocar tamanho estresse nos motoristas, para não falar dos acidentes, que mataram, em média, em 1997, 12 pessoas por mês. Da periferia nem é bom falar.

Várias ruas importantes estão com autênticas crateras, que comprometem principalmente a suspensão dos veículos, numa época em que o cidadão busca economizar ao máximo, dadas as incertezas da atual conjuntura econômica. Outras permanecem bloqueadas, total ou parcialmente, com obras intermináveis, que passam de uma administração a outra, e parecem nunca ter fim, como é o caso da Orosimbo Maia.

Se governar é definir prioridades, nada é mais prioritário do que a manutenção das vias de circulação da cidade, mesmo que seja um trabalho que não apareça aos olhos dos munícipes e não redunde, por consequência, em dividendos nas urnas.

A falta de cuidados, além de apressar a deterioração --- como começa a ocorrer, por exemplo, com pontes e viadutos de Campinas, conforme mostra matéria publicada ontem pelo "Correio Popular" --- coloca vidas em risco.

Neste caso, porém, a bem da justiça, a atual administração, se não merece elogios, não é merecedora de críticas (ainda). Acaba de fazer uma fiscalização nos potenciais locais de risco, levantando o que precisa ser reparado. Resta, detectado o problema, fazer a necessária manutenção.

(Editorial número um publicado na página 2 do Correio Popular em 21 de janeiro de 1998).


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