O retrato da exclusão
Pedro J. Bondaczuk
A matéria do "Correio
Popular" de ontem, sobre o "garimpo" de lixo no aterro
sanitário Delta 1, no Jardim Satélite Íris, é uma boa mostra da
situação social do País. É o retrato com cores fortes da
exclusão, em que pessoas sobrevivem às custas dos restos, dos
detritos, do considerado imprestável, jogado fora por outras.
Campinas, neste aspecto, com
seus contrastes entre o excelente (suas universidades e centros de
pesquisa) e o medíocre (o abandono dos carentes), é uma espécie de
resumo do que ocorre no País e cujo desafio, não somente das
autoridades, mas de toda a sociedade, é o de mudar esse quadro.
No caso específico do
"lixão", são 252 pessoas --- 185 adultos e 67 crianças
--- trabalhando (pois não deixa de ser um trabalho este de separação
de papéis, latas de alumínio, cobre, vidro, etc., recicláveis) em
condições desumanas. Claro que ninguém se submete a atividades
como essa por prazer. Esses brasileiros, abandonados à própria
sorte, sujeitos a contrair doenças ou a se intoxicar com resíduos
químicos, são vítimas das circunstâncias.
Em geral, são migrantes, que
vieram da zona rural para a cidade grande em busca da fantasia do
sucesso e que, despreparados para a vida urbana, sem instrução
nenhuma ou no máximo com rudimentos do "abc", acabaram
marginalizados, tendo que recorrer ao que os outros jogam fora para
sobreviver.
(Editorial número dois
publicado na página 2 do Correio Popular em 23 de janeiro de 1998).
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