Tuesday, February 27, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - O retrato da exclusão


O retrato da exclusão

Pedro J. Bondaczuk

A matéria do "Correio Popular" de ontem, sobre o "garimpo" de lixo no aterro sanitário Delta 1, no Jardim Satélite Íris, é uma boa mostra da situação social do País. É o retrato com cores fortes da exclusão, em que pessoas sobrevivem às custas dos restos, dos detritos, do considerado imprestável, jogado fora por outras.

Campinas, neste aspecto, com seus contrastes entre o excelente (suas universidades e centros de pesquisa) e o medíocre (o abandono dos carentes), é uma espécie de resumo do que ocorre no País e cujo desafio, não somente das autoridades, mas de toda a sociedade, é o de mudar esse quadro.

No caso específico do "lixão", são 252 pessoas --- 185 adultos e 67 crianças --- trabalhando (pois não deixa de ser um trabalho este de separação de papéis, latas de alumínio, cobre, vidro, etc., recicláveis) em condições desumanas. Claro que ninguém se submete a atividades como essa por prazer. Esses brasileiros, abandonados à própria sorte, sujeitos a contrair doenças ou a se intoxicar com resíduos químicos, são vítimas das circunstâncias.

Em geral, são migrantes, que vieram da zona rural para a cidade grande em busca da fantasia do sucesso e que, despreparados para a vida urbana, sem instrução nenhuma ou no máximo com rudimentos do "abc", acabaram marginalizados, tendo que recorrer ao que os outros jogam fora para sobreviver.

(Editorial número dois publicado na página 2 do Correio Popular em 23 de janeiro de 1998).



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