Tuesday, February 20, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Partidos e simples siglas


Partidos e simples siglas


Pedro J. Bondaczuk


As alianças já costuradas ou que ainda estão em negociação, com vistas às eleições presidenciais de 3 de outubro próximo, põem à mostra a inadequação do nosso sistema político, onde predominam, ainda, os caciques, em detrimento de ideias, conceitos e programas. Estão ministrando água com óleo e querendo obter mistura homogênea. Não funciona!

O País dispõe, atualmente, de 37 partidos, o que faz supor que todas as correntes de opinião --- ou quase todas --- estão politicamente representadas. Puro engano. A maioria não passa de sigla, sem nenhum futuro, por não contar com representatividade. São tantas letras reunidas, que o eleitor é incapaz de identificar qualquer agremiação, à exceção de sete ou oito tradicionais, as únicas que deveriam existir, mas modificadas.

Todavia, enquanto esses inexpressivos grupamentos políticos mostram-se redundantes, a maioria com "programas" (que nem seus filiados são capazes de externar) absolutamente iguais, onde as diferenças eventuais são apenas semânticas, os grandes partidos são formados por coligações subpartidárias.

Há tendências de direita, esquerda e centro, com maior ou menor ênfase, em cada uma dessas direções, no PMDB, no PFL, no PSDB e no PPR, por exemplo. Em alguns casos, sequer são meros matizes ideológicos. Cada grupo desses representa, na verdade, um partido singular.

Daí a impossibilidade, ou a falta de vontade política, para a instituição de uma lei de fidelidade partidária, tanto no que se refere à obrigatoriedade dos membros destes autênticos "sacos de gato" seguirem as diretrizes oficiais da sua agremiação, quanto à impossibilidade de se bandearem para outras.

Quem pode entender uma aliança entre Fernando Henrique Cardoso e Antonio Carlos Magalhães? Ou a que se ensaia entre a ala gaúcha do PMDB, comandada pelo líder do governo no Senado, Pedro Simon, e o ex-governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, do PDT?

Mais confuso fica, ainda, o cidadão ao constatar que apoios do plano federal não valem nos Estados e vice-versa. Há muito que o Brasil não possui partidos. As opções colocadas ao atarantado e assediado eleitor não são de ideias, de programas, de estratégias e de soluções pensadas, analisadas e amadurecidas para os problemas nacionais, mas de nomes que lhe propõem generalidades, fantasias e ridículas promessas.

O tempo que resta nas enfadonhas propagandas eleitorais ou nos teatralizados debates é malbaratado com ataques pessoais ou contra o governo, tática que sempre rendeu votos, mas nunca uma boa administração.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de maio de 1994).



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