Partidos e simples siglas
Pedro J. Bondaczuk
As alianças já costuradas ou
que ainda estão em negociação, com vistas às eleições
presidenciais de 3 de outubro próximo, põem à mostra a inadequação
do nosso sistema político, onde predominam, ainda, os caciques, em
detrimento de ideias, conceitos e programas. Estão ministrando água
com óleo e querendo obter mistura homogênea. Não funciona!
O País dispõe, atualmente,
de 37 partidos, o que faz supor que todas as correntes de opinião
--- ou quase todas --- estão politicamente representadas. Puro
engano. A maioria não passa de sigla, sem nenhum futuro, por não
contar com representatividade. São tantas letras reunidas, que o
eleitor é incapaz de identificar qualquer agremiação, à exceção
de sete ou oito tradicionais, as únicas que deveriam existir, mas
modificadas.
Todavia, enquanto esses
inexpressivos grupamentos políticos mostram-se redundantes, a
maioria com "programas" (que nem seus filiados são capazes
de externar) absolutamente iguais, onde as diferenças eventuais são
apenas semânticas, os grandes partidos são formados por coligações
subpartidárias.
Há tendências de direita,
esquerda e centro, com maior ou menor ênfase, em cada uma dessas
direções, no PMDB, no PFL, no PSDB e no PPR, por exemplo. Em alguns
casos, sequer são meros matizes ideológicos. Cada grupo desses
representa, na verdade, um partido singular.
Daí a impossibilidade, ou a
falta de vontade política, para a instituição de uma lei de
fidelidade partidária, tanto no que se refere à obrigatoriedade dos
membros destes autênticos "sacos de gato" seguirem as
diretrizes oficiais da sua agremiação, quanto à impossibilidade de
se bandearem para outras.
Quem pode entender uma aliança
entre Fernando Henrique Cardoso e Antonio Carlos Magalhães? Ou a que
se ensaia entre a ala gaúcha do PMDB, comandada pelo líder do
governo no Senado, Pedro Simon, e o ex-governador do Rio de Janeiro,
Leonel Brizola, do PDT?
Mais confuso fica, ainda, o
cidadão ao constatar que apoios do plano federal não valem nos
Estados e vice-versa. Há muito que o Brasil não possui partidos. As
opções colocadas ao atarantado e assediado eleitor não são de
ideias, de programas, de estratégias e de soluções pensadas,
analisadas e amadurecidas para os problemas nacionais, mas de nomes
que lhe propõem generalidades, fantasias e ridículas promessas.
O tempo que resta nas
enfadonhas propagandas eleitorais ou nos teatralizados debates é
malbaratado com ataques pessoais ou contra o governo, tática que
sempre rendeu votos, mas nunca uma boa administração.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de maio de 1994).
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