Sucessão está deflagrada
Pedro J. Bondaczuk
O presidente Itamar Franco,
tido e havido como defensor da estatização, deve passar para a
história como o principal responsável pela privatização da
empresa considerada símbolo da industrialização do País: a
Companhia Siderúrgica Nacional.
Como todos os demais leilões,
esse também foi marcado por denúncias de irregularidades, por
acusações acerca de favorecimentos a este ou àquele grupo e por
uma batalha de liminares e contraliminares, que manteve o processo na
corda bamba até o último instante. Se todo o barulho procede ou
não, o tempo haverá de dizer. Mas toda essa celeuma não deixa de
esconder uma certa ironia.
Tão logo assumiu o poder,
Itamar foi acusado de não fazer muito empenho na continuidade do
programa de privatização. O presidente resolveu proceder a algumas
mudanças nas regras e seus críticos não o perdoaram. Disseram que
tudo não passava de um conjunto de manobras protelatórias, cujo
objetivo era o de conservar as estatais do jeito que estavam.
Reiteradamente ele afirmou que o leilão da CSN não seria adiado. O
mercado parecia não levar muito a sério suas declarações. E, de
fato, a privatização ocorreu, na data marcada.
A partir de agora, a velha
Companhia Siderúrgica Nacional, orgulho do ex-presidente Getúlio
Vargas, que a criou há 52 anos, já não pertence ao Estado. Foi um
bom negócio? Talvez se questione o montante em dinheiro vivo
exigido, US$ 60 milhões, como sendo inexpressivo, pois representa
apenas 3,8% dos US$ 1,6 bilhão do seu preço total. Este também
pode ser questionável.
Todavia, doravante, o governo
não precisará mais desviar preciosos recursos da educação, da
saúde e de outras áreas de sua absoluta competência para cobrir
prejuízos dessa estatal, como fez em inúmeras oportunidades com a
CSN e com outras empresas de desempenho ainda pior.
Politicamente, talvez a
privatização não tenha sido um bom negócio. Afinal, Itamar perdeu
outro partido, dos que lhe conferiram a frágil base congressual com
que contava: o PDT de Leonel Brizolla.
Fica a impressão de que o
leilão da siderúrgica foi apenas um pretexto para que o velho
cacique gaúcho pulasse fora de um barco que ameaça fazer água.
Certos da vitória do presidencialismo no plebiscito do próximo dia
21, os candidatos óbvios à Presidência já colocaram suas
campanhas nas ruas, com mais de um ano de antecedência.
Eles negam, mas isso está
para lá de claro. Como sempre, os interesses do País, que tem uma
pequena chance – mínima, por sinal – de sair da presente e
longuíssima crise, foram, mais uma vez, postos de lado, por
políticos que já tiveram inúmeras oportunidades de mostrar serviço
e não o fizeram.
Não bastasse o espetaculoso
rompimento de Brizolla com o presidente, este foi alvo, ainda, de
críticas, sérias e contundentes, no fim de semana, por parte de
outros dois presidenciáveis: Paulo Maluf e Luís Inácio Lula da
Silva.
Ambos explicitaram reparos ao
estilo Itamar. Ressaltaram a sua inércia. Deram a entender que o
presidente fala muito e nada faz. Maluf afirmou que o atual governo
acabou. Para Lula, ele sequer começou. Mas como governar no atual
sistema? Onde o prometido, mas nunca selado, pacto de governabilidade
dos partidos? Itamar, doravante, será o alvo preferido dos que estão
de olho na sua sucessão. E o País, como fica no próximo um ano e
meio, até 1º de janeiro de 1995?
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de abril de 1993).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment