Wednesday, February 28, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Sucessão está deflagrada


Sucessão está deflagrada

Pedro J. Bondaczuk

O presidente Itamar Franco, tido e havido como defensor da estatização, deve passar para a história como o principal responsável pela privatização da empresa considerada símbolo da industrialização do País: a Companhia Siderúrgica Nacional.

Como todos os demais leilões, esse também foi marcado por denúncias de irregularidades, por acusações acerca de favorecimentos a este ou àquele grupo e por uma batalha de liminares e contraliminares, que manteve o processo na corda bamba até o último instante. Se todo o barulho procede ou não, o tempo haverá de dizer. Mas toda essa celeuma não deixa de esconder uma certa ironia.

Tão logo assumiu o poder, Itamar foi acusado de não fazer muito empenho na continuidade do programa de privatização. O presidente resolveu proceder a algumas mudanças nas regras e seus críticos não o perdoaram. Disseram que tudo não passava de um conjunto de manobras protelatórias, cujo objetivo era o de conservar as estatais do jeito que estavam. Reiteradamente ele afirmou que o leilão da CSN não seria adiado. O mercado parecia não levar muito a sério suas declarações. E, de fato, a privatização ocorreu, na data marcada.

A partir de agora, a velha Companhia Siderúrgica Nacional, orgulho do ex-presidente Getúlio Vargas, que a criou há 52 anos, já não pertence ao Estado. Foi um bom negócio? Talvez se questione o montante em dinheiro vivo exigido, US$ 60 milhões, como sendo inexpressivo, pois representa apenas 3,8% dos US$ 1,6 bilhão do seu preço total. Este também pode ser questionável.

Todavia, doravante, o governo não precisará mais desviar preciosos recursos da educação, da saúde e de outras áreas de sua absoluta competência para cobrir prejuízos dessa estatal, como fez em inúmeras oportunidades com a CSN e com outras empresas de desempenho ainda pior.

Politicamente, talvez a privatização não tenha sido um bom negócio. Afinal, Itamar perdeu outro partido, dos que lhe conferiram a frágil base congressual com que contava: o PDT de Leonel Brizolla.

Fica a impressão de que o leilão da siderúrgica foi apenas um pretexto para que o velho cacique gaúcho pulasse fora de um barco que ameaça fazer água. Certos da vitória do presidencialismo no plebiscito do próximo dia 21, os candidatos óbvios à Presidência já colocaram suas campanhas nas ruas, com mais de um ano de antecedência.

Eles negam, mas isso está para lá de claro. Como sempre, os interesses do País, que tem uma pequena chance – mínima, por sinal – de sair da presente e longuíssima crise, foram, mais uma vez, postos de lado, por políticos que já tiveram inúmeras oportunidades de mostrar serviço e não o fizeram.

Não bastasse o espetaculoso rompimento de Brizolla com o presidente, este foi alvo, ainda, de críticas, sérias e contundentes, no fim de semana, por parte de outros dois presidenciáveis: Paulo Maluf e Luís Inácio Lula da Silva.

Ambos explicitaram reparos ao estilo Itamar. Ressaltaram a sua inércia. Deram a entender que o presidente fala muito e nada faz. Maluf afirmou que o atual governo acabou. Para Lula, ele sequer começou. Mas como governar no atual sistema? Onde o prometido, mas nunca selado, pacto de governabilidade dos partidos? Itamar, doravante, será o alvo preferido dos que estão de olho na sua sucessão. E o País, como fica no próximo um ano e meio, até 1º de janeiro de 1995?

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de abril de 1993).



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