LITERATURA NÃO É ESCUDO PARA NOSSAS AFLIÇÕES
Cesare Pavese costumava dizer que “a literatura é uma defesa
contra as ofensas da vida”. Mas será que defende mesmo? É, de
fato, escudo seguro contra as inúmeras rasteiras materiais,
espirituais, afetivas e emocionais etc. que sofremos amiúde em nosso
cotidiano? Protege-nos dos nossos demônios interiores ou os assanha
e os torna mais perversos? Sou, pois, obrigado a discordar,
solenemente, do ilustre jornalista e poeta italiano. A Literatura
pode até se tratar de escudo. Mas de um sumamente vulnerável, que
deixa passarem flechas e mais flechas, sobretudo as mais pontiagudas
e rígidas, que findam por nos ferir, posto que não mortalmente. O
bom escritor, o que faz escola, cujos livros são procurados
avidamente, que tem um número incontável de fiéis leitores e se
destaca pelo conteúdo da sua obra, é o que, virtualmente, se
“desnuda” em público, que expõe suas intimidades e até suas
entranhas para o mundo inteiro ver (no aspecto emocional, claro, pois
se o fizesse literalmente, poderia estar sujeito até a prisão, por
atentado ao pudor) e tem, nessa exposição, sua grande força, o
fulcro da sua credibilidade, uma espécie de “cabelos de Sansão”
que nenhuma Dalila consegue raspar.
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CITAÇÃO DO DIA:
Todas as liberdades
Somos
excessivamente indulgentes para com as nossas fraquezas e
concedemo-nos, no amor, todas as liberdades.
(Cyro
dos Anjos, “Dois romances”).
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