Tuesday, February 06, 2018


LITERATURA NÃO É ESCUDO PARA NOSSAS AFLIÇÕES

Cesare Pavese costumava dizer que “a literatura é uma defesa contra as ofensas da vida”. Mas será que defende mesmo? É, de fato, escudo seguro contra as inúmeras rasteiras materiais, espirituais, afetivas e emocionais etc. que sofremos amiúde em nosso cotidiano? Protege-nos dos nossos demônios interiores ou os assanha e os torna mais perversos? Sou, pois, obrigado a discordar, solenemente, do ilustre jornalista e poeta italiano. A Literatura pode até se tratar de escudo. Mas de um sumamente vulnerável, que deixa passarem flechas e mais flechas, sobretudo as mais pontiagudas e rígidas, que findam por nos ferir, posto que não mortalmente. O bom escritor, o que faz escola, cujos livros são procurados avidamente, que tem um número incontável de fiéis leitores e se destaca pelo conteúdo da sua obra, é o que, virtualmente, se “desnuda” em público, que expõe suas intimidades e até suas entranhas para o mundo inteiro ver (no aspecto emocional, claro, pois se o fizesse literalmente, poderia estar sujeito até a prisão, por atentado ao pudor) e tem, nessa exposição, sua grande força, o fulcro da sua credibilidade, uma espécie de “cabelos de Sansão” que nenhuma Dalila consegue raspar.



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CITAÇÃO DO DIA:


Todas as liberdades 

Somos excessivamente indulgentes para com as nossas fraquezas e concedemo-nos, no amor, todas as liberdades.

(Cyro dos Anjos, “Dois romances”).

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