Monday, February 26, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Sombras no paraíso


Sombras no paraíso



Pedro J. Bondaczuk


Os depoimentos do empresário Paulo César Farias na Comissão Parlamentar de Inquérito, aberta pelo Congresso para apurar denúncias do irmão do presidente Fernando Collor, Pedro Collor, ocorridos semana passada, trouxeram à baila informações que estarreceram a sociedade.

É verdade que este não é o primeiro escândalo envolvendo aqueles que orbitam ao redor do poder, e se teme que não seja o último. De uns dois anos para cá, foram raríssimos os dias em que fatos escandalosos, principalmente de corrupção, deixaram de ocupar as manchetes na imprensa. Aos poucos, porém, eles foram esgotando o elenco de detalhes “apimentados” e caíram no esquecimento.

Sem fundamentos, certamente, elas não eram, caso contrário os envolvidos teriam exigido, até por via judicial, a retratação, para limpar seus nomes. Que fim levou, por exemplo, o inquérito sobre as superaposentadorias e pensões, que lesaram os cofres da Previdência Social em trilhões de cruzeiros? O que ocorreu com os advogados e juízes citados como coautores desses desfalques? E com os funcionários envolvidos?

Que fim levou o caso das mochilas do Ministério da Saúde? E o das bicicletas? Em que pé está o inquérito envolvendo o ex-ministro Alceni Guerra e auxiliares de alto escalão de sua pasta? E o affaire Antônio Rogério Magri? Estas são indagações frequentes, que o comentarista ouve de leitores e de pessoas com as quais cruza nas ruas e, certamente, são, também, de todo o brasileiro bem informado.

No início da semana, o deputado Humberto Souto, líder do governo na Câmara, deu a entender que a CPI envolvendo Pedro Collor e PC Farias não iria dar em nada, “por falta de provas”. Ou seja, que tudo irá terminar, como diz a gíria paulista, “em pizza”, ou como afirmam os cariocas, “em samba”, ou se expressam os gaúchos, “em chimarrão”.

Esta impunidade, todavia, esta falta de respeito para com a opinião pública e esta violação do preceito constitucional que considera “todo brasileiro igual perante a lei” são os maiores estímulos para que a corrupção, o suborno, a prevaricação com o dinheiro público, a venda de influências e outras tantas mazelas se tornem regras, nunca exceções.

Tal comportamento tende a ter o efeito de uma maçã podre num cesto de frutas sadias. Apodrece todas elas. Daí o predomínio da falta de credibilidade dos políticos e esta crise moral que o País atravessa. É o caso de se perguntar, como o criminalista Evaristo de Moraes Filho fez num artigo do suplemento “Ideias”: “Que modelo de paraíso da modernidade é este, onde mourejam mais de 30 milhões de pobres, e um apreciável contingente de ricos se anestesia nos valores dos narcóticos?”.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 15 de junho de 1992)

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