Sombras no paraíso
Pedro J. Bondaczuk
Os depoimentos do empresário
Paulo César Farias na Comissão Parlamentar de Inquérito, aberta
pelo Congresso para apurar denúncias do irmão do presidente
Fernando Collor, Pedro Collor, ocorridos semana passada, trouxeram à
baila informações que estarreceram a sociedade.
É verdade que este não é o
primeiro escândalo envolvendo aqueles que orbitam ao redor do poder,
e se teme que não seja o último. De uns dois anos para cá, foram
raríssimos os dias em que fatos escandalosos, principalmente de
corrupção, deixaram de ocupar as manchetes na imprensa. Aos poucos,
porém, eles foram esgotando o elenco de detalhes “apimentados” e
caíram no esquecimento.
Sem fundamentos, certamente,
elas não eram, caso contrário os envolvidos teriam exigido, até
por via judicial, a retratação, para limpar seus nomes. Que fim
levou, por exemplo, o inquérito sobre as superaposentadorias e
pensões, que lesaram os cofres da Previdência Social em trilhões
de cruzeiros? O que ocorreu com os advogados e juízes citados como
coautores desses desfalques? E com os funcionários envolvidos?
Que fim levou o caso das
mochilas do Ministério da Saúde? E o das bicicletas? Em que pé
está o inquérito envolvendo o ex-ministro Alceni Guerra e
auxiliares de alto escalão de sua pasta? E o affaire Antônio
Rogério Magri? Estas são indagações frequentes, que o
comentarista ouve de leitores e de pessoas com as quais cruza nas
ruas e, certamente, são, também, de todo o brasileiro bem
informado.
No início da semana, o
deputado Humberto Souto, líder do governo na Câmara, deu a entender
que a CPI envolvendo Pedro Collor e PC Farias não iria dar em nada,
“por falta de provas”. Ou seja, que tudo irá terminar, como diz
a gíria paulista, “em pizza”, ou como afirmam os cariocas, “em
samba”, ou se expressam os gaúchos, “em chimarrão”.
Esta impunidade, todavia, esta
falta de respeito para com a opinião pública e esta violação do
preceito constitucional que considera “todo brasileiro igual
perante a lei” são os maiores estímulos para que a corrupção, o
suborno, a prevaricação com o dinheiro público, a venda de
influências e outras tantas mazelas se tornem regras, nunca
exceções.
Tal comportamento tende a ter
o efeito de uma maçã podre num cesto de frutas sadias. Apodrece
todas elas. Daí o predomínio da falta de credibilidade dos
políticos e esta crise moral que o País atravessa. É o caso de se
perguntar, como o criminalista Evaristo de Moraes Filho fez num
artigo do suplemento “Ideias”: “Que modelo de paraíso da
modernidade é este, onde mourejam mais de 30 milhões de pobres, e
um apreciável contingente de ricos se anestesia nos valores dos
narcóticos?”.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 15 de junho de 1992)
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