Wednesday, February 14, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Separatismo outra vez


Separatismo outra vez


Pedro J. Bondaczuk


O Brasil é dos poucos países de dimensões continentais que conseguiu manter a coesão ao longo dos 174 anos de independência, apesar dos vários movimentos separatistas que enfrentou, antes e depois de se tornar independente. Agora, no Norte, surge um novo que, a pretexto de reclamar que a região é esquecida pelas autoridades federais, ameaça romper nossa coesão.

Embora conte com diversidade étnica, abrigando em seu território quase todas as etnias do Planeta, que aqui convivem e se misturam, preparando uma nova "raça", com a fusão de todas as demais, e possua uma cultura rica e diferenciada, o Brasil tem um poderoso fator de união: o idioma.

Apesar de segmentada em dialetos, a língua portuguesa que falamos é compreensível em todos os quadrantes, de Norte a Sul e de Leste a Oeste. Um gaúcho conversa normalmente com um amazonense e se faz perfeitamente entendido, sem a necessidade de intérprete e vice-versa. Temos história, cultura, tradições e problemas comuns. Estamos caminhando para ser mais que mero país. Pode-se afirmar que já somos uma nação.

Desde o seu descobrimento, em 1500, à exceção da perda da Província Cisplatina --- que conseguiu sua independência com a ajuda da Grã-Bretanha, que apoiou o movimento separatista de Artigas como represália ao apoio brasileiro à Argentina no caso das Ilhas Malvinas e é hoje a República do Uruguai --- o País só aumentou seu território.

E nunca a poder de armas. Essa expansão ocorreu, principalmente, através da ousadia dos Bandeirantes, mas também em decorrência de tratados internacionais.

Todavia, de uns quatro anos para cá, teses separatistas têm sido sucessivamente levantadas --- felizmente por pessoas sem nenhuma representatividade --- como forma de pressionar o governo federal a liberar verbas ou quando se veem contrariadas em pretensões, legítimas ou não.

Frise-se que quem sustenta esse divisionismo, atenta contra a Constituição e portanto infringe as leis. Trata-se, em geral, de aventureiros inconsequentes, que exploram os naturais descontentamentos existentes em um País tão vasto, populoso e com tamanhos desníveis econômicos e sociais como o nosso.

Em 1992, um movimento que objetivava a independência do Rio Grande do Sul ganhou espaço na mídia, mais pelo aspecto folclórico. Provocou polêmica principalmente nesse Estado. Era tão absurdo que ninguém o levou a sério.

Agora, anuncia-se movimento semelhante no Norte do País. É hora de parar com esse tipo de conversa que não leva a lugar algum e pensar em problemas sumamente sérios e imediatos, com os pés no chão, sem ufanismos, mas também sem aventuras tolas e inconsequentes. Basta ver o que aconteceu recentemente na Iugoslávia...

(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 21 de outubro de 1996)


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