Separatismo outra vez
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil é dos poucos países
de dimensões continentais que conseguiu manter a coesão ao longo
dos 174 anos de independência, apesar dos vários movimentos
separatistas que enfrentou, antes e depois de se tornar independente.
Agora, no Norte, surge um novo que, a pretexto de reclamar que a
região é esquecida pelas autoridades federais, ameaça romper nossa
coesão.
Embora conte com diversidade
étnica, abrigando em seu território quase todas as etnias do
Planeta, que aqui convivem e se misturam, preparando uma nova "raça",
com a fusão de todas as demais, e possua uma cultura rica e
diferenciada, o Brasil tem um poderoso fator de união: o idioma.
Apesar de segmentada em
dialetos, a língua portuguesa que falamos é compreensível em todos
os quadrantes, de Norte a Sul e de Leste a Oeste. Um gaúcho conversa
normalmente com um amazonense e se faz perfeitamente entendido, sem a
necessidade de intérprete e vice-versa. Temos história, cultura,
tradições e problemas comuns. Estamos caminhando para ser mais que
mero país. Pode-se afirmar que já somos uma nação.
Desde o seu descobrimento, em
1500, à exceção da perda da Província Cisplatina --- que
conseguiu sua independência com a ajuda da Grã-Bretanha, que apoiou
o movimento separatista de Artigas como represália ao apoio
brasileiro à Argentina no caso das Ilhas Malvinas e é hoje a
República do Uruguai --- o País só aumentou seu território.
E nunca a poder de armas. Essa
expansão ocorreu, principalmente, através da ousadia dos
Bandeirantes, mas também em decorrência de tratados internacionais.
Todavia, de uns quatro anos
para cá, teses separatistas têm sido sucessivamente levantadas ---
felizmente por pessoas sem nenhuma representatividade --- como forma
de pressionar o governo federal a liberar verbas ou quando se veem
contrariadas em pretensões, legítimas ou não.
Frise-se que quem sustenta
esse divisionismo, atenta contra a Constituição e portanto infringe
as leis. Trata-se, em geral, de aventureiros inconsequentes, que
exploram os naturais descontentamentos existentes em um País tão
vasto, populoso e com tamanhos desníveis econômicos e sociais como
o nosso.
Em 1992, um movimento que
objetivava a independência do Rio Grande do Sul ganhou espaço na
mídia, mais pelo aspecto folclórico. Provocou polêmica
principalmente nesse Estado. Era tão absurdo que ninguém o levou a
sério.
Agora, anuncia-se movimento
semelhante no Norte do País. É hora de parar com esse tipo de
conversa que não leva a lugar algum e pensar em problemas sumamente
sérios e imediatos, com os pés no chão, sem ufanismos, mas também
sem aventuras tolas e inconsequentes. Basta ver o que aconteceu
recentemente na Iugoslávia...
(Artigo publicado na página
3, Opinião, do Correio Popular, em 21 de outubro de 1996)
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