Thursday, February 08, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Salvadores da pátria


Salvadores da pátria


Pedro J. Bondaczuk


O Brasil, às vésperas das definições das candidaturas para as eleições presidenciais de 3 de outubro próximo, está, mais uma vez, à procura de um "salvador", de uma figura carismática, do tipo de Winston Churchill ou Abraham Lincoln, que permita ao País dar a volta por cima e acabar, num piscar de olhos, com uma crise interminável.

Figuras públicas bastante conhecidas, que até aqui nunca disseram realmente a que vieram, vêm à televisão, aos jornais e aos palanques com um ar messiânico, tudo prometendo, embora cientes de que não cumprirão nenhuma dessas promessas.

Nos próximos meses, seremos bombardeados, por todos os lados, por mensagens desses "gurus" políticos, que apontarão os mais deletérios vícios e as piores intenções nos adversários, explorarão os erros e as omissões do governo (que nunca faltam, em lugar algum) e insinuarão a sua integridade, competência e espírito cívico.

Problemas angustiantes, que se arrastam há décadas, como a erosão social, o gigantismo do Estado, a inflação e o desemprego, serão "resolvidos" com meia dúzia de palavras bombásticas, mas despidas de sentido.

Ao eleitor, atarantado, caberá escolher aquele que sua intuição indique que tenha o verdadeiro perfil do "salvador". Mas existirão tais figuras, ou elas não passam de frutos da nossa ansiedade por construir uma vida melhor, onde o futuro não pareça tão assustador e o início de cada dia não seja uma espécie de "roleta russa", com a sensação de estarmos jogando, num curto espaço de tempo, todo o nosso destino?

O País precisaria, realmente, de uma figura carismática, à prova de críticas e de suspeitas? Claro que não! E se precisasse, estaria em maus lençóis. Sobreviveria de frustração em frustração, de decepção em decepção, de crise em crise. É o que parece estar acontecendo com o Brasil.

Ruy Barbosa, no entanto, alertou, num dos seus célebres discursos, que "o país que precisa de um salvador não merece ser salvo". Do que precisamos, ao fazer a escolha do candidato, é de realismo. Não podemos tomar essa decisão baseados nas aparências, nos discursos e nas promessas. E talvez nem mesmo nos programas.

O que conta, para uma investidura de tamanha relevância, como a Presidência, é a competência administrativa, geralmente demonstrada longe das câmeras de televisão e dos "flashes" dos fotógrafos.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de março de 1994).

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