Salvadores da pátria
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil, às vésperas das
definições das candidaturas para as eleições presidenciais de 3
de outubro próximo, está, mais uma vez, à procura de um
"salvador", de uma figura carismática, do tipo de Winston
Churchill ou Abraham Lincoln, que permita ao País dar a volta por
cima e acabar, num piscar de olhos, com uma crise interminável.
Figuras públicas bastante
conhecidas, que até aqui nunca disseram realmente a que vieram, vêm
à televisão, aos jornais e aos palanques com um ar messiânico,
tudo prometendo, embora cientes de que não cumprirão nenhuma dessas
promessas.
Nos próximos meses, seremos
bombardeados, por todos os lados, por mensagens desses "gurus"
políticos, que apontarão os mais deletérios vícios e as piores
intenções nos adversários, explorarão os erros e as omissões do
governo (que nunca faltam, em lugar algum) e insinuarão a sua
integridade, competência e espírito cívico.
Problemas angustiantes, que se
arrastam há décadas, como a erosão social, o gigantismo do Estado,
a inflação e o desemprego, serão "resolvidos" com meia
dúzia de palavras bombásticas, mas despidas de sentido.
Ao eleitor, atarantado, caberá
escolher aquele que sua intuição indique que tenha o verdadeiro
perfil do "salvador". Mas existirão tais figuras, ou elas
não passam de frutos da nossa ansiedade por construir uma vida
melhor, onde o futuro não pareça tão assustador e o início de
cada dia não seja uma espécie de "roleta russa", com a
sensação de estarmos jogando, num curto espaço de tempo, todo o
nosso destino?
O País precisaria, realmente,
de uma figura carismática, à prova de críticas e de suspeitas?
Claro que não! E se precisasse, estaria em maus lençóis.
Sobreviveria de frustração em frustração, de decepção em
decepção, de crise em crise. É o que parece estar acontecendo com
o Brasil.
Ruy Barbosa, no entanto,
alertou, num dos seus célebres discursos, que "o país que
precisa de um salvador não merece ser salvo". Do que
precisamos, ao fazer a escolha do candidato, é de realismo. Não
podemos tomar essa decisão baseados nas aparências, nos discursos e
nas promessas. E talvez nem mesmo nos programas.
O que conta, para uma
investidura de tamanha relevância, como a Presidência, é a
competência administrativa, geralmente demonstrada longe das câmeras
de televisão e dos "flashes" dos fotógrafos.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de março de 1994).
No comments:
Post a Comment