Investimento em cultura
Pedro
J. Bondaczuk
Campinas
foi, em determinado período da sua história, importante centro
produtor de arte e de cultura (esta, em seu sentido mais amplo),
graças ao excelente nível de instrução da sua população e à
criatividade e bom gosto do seu povo. Daqui saíram músicos
notáveis, inspirados compositores (Carlos Gomes), criativos
escritores (Guilherme de Almeida), talentosos artistas plásticos
(Pancetti), etc., que luziram no País e no Exterior.
Hoje,
a produção artística e cultural da cidade continua tão numerosa e
de tão alta qualidade quanto no passado. Porém, por falta de
estrutura adequada e de incentivos, artistas e intelectuais
campineiros estão migrando para centros que lhes oferecem as
oportunidades que não têm aqui.
Desde
a demolição do Teatro Municipal – que ainda causa intensa
polêmica – Campinas não conta com local apropriado para
apresentações artísticas e culturais. Claro que a cidade tem
outras prioridades, demandas sociais mais urgentes e sensíveis, como
saúde, educação, obras públicas, etc., que requerem crescentes e
constantes investimentos.
Todavia,
as artes e a cultura não são, e nem podem ser considerados (como
muitos pretendem), “bens supérfluos”. Em outros centros, maiores
ou do porte do nosso – como São Paulo e Rio de Janeiro, por
exemplo – os investimentos em casas de espetáculos são feitos,
com crescente frequência, pela iniciativa privada. Os teatros
municipais, grandes e luxuosos, são cada vez mais desnecessários e
até inviáveis, pelo elevado volume de recursos que sua construção
requer e pelo custo proibitivo de sua manutenção.
Em
Campinas, porém, essa lacuna não vem sendo preenchida. E os dois
teatros municipais de que a cidade dispõe – ambos adaptados e
precários, o do Centro de Convivência Cultural e o Castro Mendes
(que era um cinema) – carecem da devida manutenção, o que é até
temerário, por se colocar em risco a integridade física de artistas
e espectadores.
Como
a cidade está se transformando em importante polo de promoção de
eventos, como congressos, seminários, simpósios, etc., de caráter
nacional e internacional, atraindo para cá o chamado “turismo de
negócios”, a necessidade de contar com locais apropriados para
espetáculos é cada vez mais evidente (e urgente).
Eis
aí um desafio (e excelente oportunidade de negócios) para grandes
corporações. Cada vez mais, as empresas estão descobrindo as
vantagens de associar suas marcas à arte e à cultura. Compete,
nesse contexto, ao Poder Público, na impossibilidade de novos
investimentos, conservar o que já se tem.
É
inconcebível o estado de má conservação dos teatros do Centro de
Convivência e do Castro Mendes, com goteiras por toda a parte
(inclusive no palco) e com o forro ameaçando desabar. Está mais do
que na hora, portanto, de se conscientizar que, longe de serem
supérfluas, a arte e a cultura são bens essenciais de uma
comunidade próspera, culta e altamente civilizada, como Campinas.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do jornal Roteiro, em 24 de
setembro de 2002).
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