Uma dupla oportunidade
Pedro J. Bondaczuk
A propaganda eleitoral
gratuita no rádio e na televisão, para o segundo turno das eleições
para o governo do Estado, a ser realizado no dia 25 próximo,
recomeça amanhã. Trata-se de uma nova oportunidade, tanto para os
dois candidatos paulistas --- Paulo Maluf do PDS e Luiz Antonio
Fleury Filho, do PMDB --- quanto para o eleitorado, de se redimirem
do lamentável pleito de 3 de outubro passado.
A campanha para aquela votação
foi uma das mais vazias, em termos de ideias e de programas, desde
quando a democracia foi restabelecida no País. E a enxurrada de
votos brancos e nulos registrada mostrou, infelizmente, que a
declaração atribuída a Pelé, de que "o brasileiro não sabe
votar", é verdadeira. Urna nunca foi instrumento para protesto.
Há muitos outros canais, até mais eficientes, para isso.
O Brasil, ao mesmo tempo em
que vive uma crise, que se arrasta por muitos anos, tem diante de si
uma enorme oportunidade. Na medida em que rancores, frustrações e
carências estão vindo à tona agora, mais do que nunca, num
processo de autocrítica nacional como jamais foi visto antes --- às
vezes descambando para o extremo de ausência até de patriotismo ---
temos a oportunidade de olhar de frente os nossos erros e
imperfeições.
E este, sem dúvida, é o
primeiro passo para a correção de rumos. Nenhuma doença, do corpo
e da mente, tem condições de ser tratada se não for sequer
admitida. Quanto mais precoce e exato for o diagnóstico, maiores
serão as chances de eficácia da terapia proposta. E é este o
processo pelo qual o País está passando.
De uns tempos para cá, tudo o
que se refira a Brasil vem acompanhado de inevitáveis críticas.
Algumas, inclusive, chegam a ser gratuitas e injustas. Muitos não
aceitaram o desafio de reformar a sociedade, do alicerce até a
torre, e emigraram. Foram tentar a sorte em outras terras,
desencantados diante do panorama nacional atual.
Mas esta é a grande chance
que temos para a mudança daquilo que está errado. Pasteur
demonstrou, no século passado, que nos fenômenos biológicos não
há geração espontânea. O mesmo ocorre em relação aos fatos
políticos e sociais.
Não conseguiremos mudar nada
se não fortalecermos nossas instituições. Se nos entregarmos ao
desencanto ou nos omitirmos de nossas responsabilidades. E uma delas
é a do voto meditado, inteligente, consciente e efetivo.
Para isso, todavia, é
indispensável que os candidatos façam a sua parte e deixem claro
quais são suas motivações e aptidões na vida pública. Como
afirmamos, portanto, a campanha que recomeça é uma dupla
oportunidade de reparação de um erro, também em dobro.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de novembro de 1990).
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