Saturday, February 10, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Uma dupla oportunidade


Uma dupla oportunidade


Pedro J. Bondaczuk


A propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, para o segundo turno das eleições para o governo do Estado, a ser realizado no dia 25 próximo, recomeça amanhã. Trata-se de uma nova oportunidade, tanto para os dois candidatos paulistas --- Paulo Maluf do PDS e Luiz Antonio Fleury Filho, do PMDB --- quanto para o eleitorado, de se redimirem do lamentável pleito de 3 de outubro passado.

A campanha para aquela votação foi uma das mais vazias, em termos de ideias e de programas, desde quando a democracia foi restabelecida no País. E a enxurrada de votos brancos e nulos registrada mostrou, infelizmente, que a declaração atribuída a Pelé, de que "o brasileiro não sabe votar", é verdadeira. Urna nunca foi instrumento para protesto. Há muitos outros canais, até mais eficientes, para isso.

O Brasil, ao mesmo tempo em que vive uma crise, que se arrasta por muitos anos, tem diante de si uma enorme oportunidade. Na medida em que rancores, frustrações e carências estão vindo à tona agora, mais do que nunca, num processo de autocrítica nacional como jamais foi visto antes --- às vezes descambando para o extremo de ausência até de patriotismo --- temos a oportunidade de olhar de frente os nossos erros e imperfeições.

E este, sem dúvida, é o primeiro passo para a correção de rumos. Nenhuma doença, do corpo e da mente, tem condições de ser tratada se não for sequer admitida. Quanto mais precoce e exato for o diagnóstico, maiores serão as chances de eficácia da terapia proposta. E é este o processo pelo qual o País está passando.

De uns tempos para cá, tudo o que se refira a Brasil vem acompanhado de inevitáveis críticas. Algumas, inclusive, chegam a ser gratuitas e injustas. Muitos não aceitaram o desafio de reformar a sociedade, do alicerce até a torre, e emigraram. Foram tentar a sorte em outras terras, desencantados diante do panorama nacional atual.

Mas esta é a grande chance que temos para a mudança daquilo que está errado. Pasteur demonstrou, no século passado, que nos fenômenos biológicos não há geração espontânea. O mesmo ocorre em relação aos fatos políticos e sociais.

Não conseguiremos mudar nada se não fortalecermos nossas instituições. Se nos entregarmos ao desencanto ou nos omitirmos de nossas responsabilidades. E uma delas é a do voto meditado, inteligente, consciente e efetivo.

Para isso, todavia, é indispensável que os candidatos façam a sua parte e deixem claro quais são suas motivações e aptidões na vida pública. Como afirmamos, portanto, a campanha que recomeça é uma dupla oportunidade de reparação de um erro, também em dobro.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de novembro de 1990).



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