O tabu da demissão
Pedro J. Bondaczuk
A dramatização política em
torno das demissões ocorridas na Prefeitura nos últimos dias
realça, mais uma vez, a existência de interesses eleitoreiros e
corporativistas. Como administração pública, a Prefeitura tem
elementos para aferir a quantidade de funcionários necessária ao
seu desempenho. Além disso, muitos casos são marcados pela falta de
empenho do funcionário, seja por motivo salarial seja por outro tipo
de justificativa.
Ocorre nos meios políticos
brasileiros um medo enorme para se discutir francamente o inchaço da
máquina administrativa. No caso da Prefeitura de Campinas, até hoje
nenhum prefeito conseguiu racionalizar a relação entre número de
funcionários e os serviços prestados pela administração. Durante
vários momentos, o dinheiro público foi mais comprometido com
salários devido à ânsia de prefeitos e vereadores em contratarem
cabos eleitorais para enfrentar as campanhas à eleição ou
reeleição.
O quadro de funcionários
municipais cresceu significativamente no mandato do ex-prefeito
Francisco Amaral. Mas desde seus antecessores, a Prefeitura já vinha
sendo usada para servir aos amigos dos políticos com mandato. A
existência de verbas recheadas destinadas ao gabinete do prefeito
ajuda a contratação de funcionários com esse objetivo distanciado
do princípio que move a administração, isto é, servir à cidade,
administrar os limites urbanos.
A administração do PT ainda
não ofereceu nenhum plano de racionalização administrativa. Agora,
o Sindicato dos Servidores, derivação do programa do próprio
partido, nascido com a anuência política do prefeito Jacó Bittar,
na expectativa da implantação de um plano de contratação e
demissões e de um quadro de carreira racional, justo, denuncia
demissões em massa, fato desmentido pela Secretaria Municipal da
Administração.
O espírito corporativista
toma conta do sindicato e dos funcionários, que não escondem a
preocupação com o efeito do pacote econômico baixado pelo
presidente Fernando Collor de Mello. Porém, esse susto não tem
motivo para os funcionários municipais. Isto porque, ao ser
promulgada em outubro de 1988, a Constituição Federal assegurou a
estabilidade para os empregados das administrações públicas que
tivessem cinco anos de serviço até aquela data. Ou seja, na
Prefeitura de Campinas a maioria dos servidores está protegida por
esse princípio constitucional, carregado de vício político
eleitoreiro e corporativismo.
Se a Prefeitura mantém uma
política de demissão, até agora ela não foi exposta com clareza,
do mesmo jeito que os critérios de contratação --- mesmo através
de concurso público, não estão transparentes, conforme o próprio
sindicato da categoria denuncia.
Continuar alegando o medo da
demissão de pais de família como justificativa para condenar
demissões no Poder Público significa se comprometer com a
falsidade. Isto porque, o inchaço da máquina administrativa é um
dos graves malefícios que impossibilitam melhor desempenho dos
serviços públicos. Além do mais, insistir nessa premissa demonstra
uma atitude antidemocrática, pois fica clara a intenção de se
proteger uma minoria contra a grande parcela da população que exige
investimentos do Poder Público em obras de saneamento, creches,
postos de saúde, pavimentação, etc. Está na hora dessa visão
canhestra ser substituída pela responsabilidade política.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de abril de 1990)
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