Pompa desnecessária
Pedro J. Bondaczuk
A divulgação ostensiva da
assinatura de convênios entre a Prefeitura Municipal e o governo do
Estado para a despoluição da Lagoa do Taquaral e a municipalização
dos recursos arrecadados com as multas de trânsito, merecem uma
avaliação onde não se deve excluir o momento em que isso ocorre:
um ano eleitoral.
Motivos existem de sobra para
que o prefeito Jacó Bittar e o governador Orestes Quércia se
aproximem e busquem firmar acordos visando a dotar a cidade de
determinados serviços e obras. Porém a prioridade desses acordos
deve ser vista sob vários ângulos, principalmente no momento em que
o PMDB está ameaçado de sofrer uma séria derrota eleitoral no
segundo semestre e o PT, no Município, também prenuncia um
resultado insatisfatório nas urnas.
Na campanha de 1988, o PMDB
investiu na segurança pública e na construção de casas populares.
Nem uma nem outra promessa foi cumprida. A redução do efetivo da
PM, a retirada das rondas escolares, o aumento da criminalidade e da
ação violenta da polícia, além de o Estado não ter investido na
construção de unidades residenciais populares, confirmam a falta de
credibilidade conquistada pelo governo estadual.
A aliança circunstancial do
prefeito Jacó Bittar com o governador Orestes Quércia tem
justificativas. O palavreado que descreve os interesses da cidade,
acima de tudo, esconde outros motivos, como a tentativa de isolar
politicamente o PSDB e o ex-prefeito José Roberto Magalhães
Teixeira. Isto porque, se o partido dos tucanos conquistar uma boa
votação, a sustentação político-eleitoral do PMDB e do PT estará
ameaçada decisivamente, podendo tornar-se definitiva se os partidos
não souberem se recuperar, o que é muito difícil.
O ato de assinatura do
convênio de despoluição da Lagoa do Taquaral aponta, mais uma vez,
para o investimento político num ano eleitoral. Isto porque, o
desassoreamento da Lagoa não basta para torná-la limpa para sempre.
Para a despoluição ser completa ainda é necessária a implantação
de um sistema caríssimo de emissários de esgoto para desviar os
despejos naquela Lagoa. E não se deve esquecer que a administração
anterior também desenvolveu alguns projetos de despoluição, sem
sucesso.
O governo do Estado tem
investido em algumas obras no Município: a duplicação da Via Dom
Pedro, a instalação do Parque Ecológico Monsenhor Salim e a
municipalização da arrecadação das multas de trânsito, são três
itens da relação de serviços e obras prestados a Campinas. Porém,
nenhum deles chega perto das promessas de campanha, notadamente a
segurança pública e a construção de casas populares.
O episódio realça o
comportamento publicitário dos políticos que não medem as
diferenças entre o que são seus deveres e atribuições. Se a
Prefeitura e o Estado agem conjuntamente em certas áreas da
administração pública, isso é obrigação, e não merece tanta
pompa em se tratando de projetos secundários diante das prioridades
como saneamento básico, habitação, educação, saúde, etc.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular em 15 de abril de 1990)
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