Friday, February 09, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Pompa desnecessária


Pompa desnecessária

Pedro J. Bondaczuk

A divulgação ostensiva da assinatura de convênios entre a Prefeitura Municipal e o governo do Estado para a despoluição da Lagoa do Taquaral e a municipalização dos recursos arrecadados com as multas de trânsito, merecem uma avaliação onde não se deve excluir o momento em que isso ocorre: um ano eleitoral.

Motivos existem de sobra para que o prefeito Jacó Bittar e o governador Orestes Quércia se aproximem e busquem firmar acordos visando a dotar a cidade de determinados serviços e obras. Porém a prioridade desses acordos deve ser vista sob vários ângulos, principalmente no momento em que o PMDB está ameaçado de sofrer uma séria derrota eleitoral no segundo semestre e o PT, no Município, também prenuncia um resultado insatisfatório nas urnas.

Na campanha de 1988, o PMDB investiu na segurança pública e na construção de casas populares. Nem uma nem outra promessa foi cumprida. A redução do efetivo da PM, a retirada das rondas escolares, o aumento da criminalidade e da ação violenta da polícia, além de o Estado não ter investido na construção de unidades residenciais populares, confirmam a falta de credibilidade conquistada pelo governo estadual.

A aliança circunstancial do prefeito Jacó Bittar com o governador Orestes Quércia tem justificativas. O palavreado que descreve os interesses da cidade, acima de tudo, esconde outros motivos, como a tentativa de isolar politicamente o PSDB e o ex-prefeito José Roberto Magalhães Teixeira. Isto porque, se o partido dos tucanos conquistar uma boa votação, a sustentação político-eleitoral do PMDB e do PT estará ameaçada decisivamente, podendo tornar-se definitiva se os partidos não souberem se recuperar, o que é muito difícil.

O ato de assinatura do convênio de despoluição da Lagoa do Taquaral aponta, mais uma vez, para o investimento político num ano eleitoral. Isto porque, o desassoreamento da Lagoa não basta para torná-la limpa para sempre. Para a despoluição ser completa ainda é necessária a implantação de um sistema caríssimo de emissários de esgoto para desviar os despejos naquela Lagoa. E não se deve esquecer que a administração anterior também desenvolveu alguns projetos de despoluição, sem sucesso.

O governo do Estado tem investido em algumas obras no Município: a duplicação da Via Dom Pedro, a instalação do Parque Ecológico Monsenhor Salim e a municipalização da arrecadação das multas de trânsito, são três itens da relação de serviços e obras prestados a Campinas. Porém, nenhum deles chega perto das promessas de campanha, notadamente a segurança pública e a construção de casas populares.

O episódio realça o comportamento publicitário dos políticos que não medem as diferenças entre o que são seus deveres e atribuições. Se a Prefeitura e o Estado agem conjuntamente em certas áreas da administração pública, isso é obrigação, e não merece tanta pompa em se tratando de projetos secundários diante das prioridades como saneamento básico, habitação, educação, saúde, etc.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular em 15 de abril de 1990)



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