Saturday, April 01, 2017

Sonhos de criança não morrem jamais


Pedro J. Bondaczuk

Os sonhos de criança, desde que minimamente factíveis conforme dite nossa intuição, mesmo que aparentem ser impossíveis, nunca morrem. Podem permanecer adormecidos por anos em nosso subconsciente. Todavia continuam vivos, como ursos em hibernação. Caso as circunstâncias sejam favoráveis, subitamente despertam do seu longo sono, afloram à mente e, se soubermos aproveitar determinadas oportunidades, mesmo que raras, como que por um milagre se realizam. Estas considerações vêm a propósito de um sonho que acalentei desde menininho de tenra idade (tinha uns quatro ou cinco anos), alimentado, na ocasião pelo meu tio Jan Kraszczuk, irmão da minha mãe: o de ser escritor. Era, todavia, mais ousado (com o “atrevimento” permitido apenas às crianças) do que apenas limitar-me a sonhar com pouco. Sonhava alto, em ser famoso, requisitado por leitores sem fim, escrevendo, e publicando, livros e mais livros.

A rigor, tive, então, outros tantos sonhos. A imensa maioria era tão grandiosa, que eram absolutamente não factíveis. Superavam a capacidade humana para se concretizar. Muitos ficaram pelo caminho. Não morreram, todavia. Continuam, até hoje, “hibernando”. E seguirão dessa forma enquanto eu viver, a menos que. por algum fortuito milagre, surjam condições propícias para serem concretizados, contrariando, dessa forma, a lógica. Caso isso ocorra, certamente despertarão de seu letárgico sono. Contudo... hoje continuam congelados (posto que vivos, vivíssimos, por sinal).

A esse propósito, a poetisa Adélia Prado (cuja poesia amo de paixão), tem um significativo poema, que amiúde recito para mim mesmo, e tantas vezes que o declamo a qualquer hora, sem pestanejar, décor e salteado, intitulado “O pote dos sonhos”. Nele, esta “protegida” das musas diz:

“O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre”.

Os meus, pelo menos, nunca morreram. E o de ser escritor, realizou-se (mesmo que apenas parcialmente). Tem condições de ir além? Não há como saber. Famoso não sou, mas... sou escritor.  E esse sonho começou a materializar-se não propriamente quando publiquei meu primeiro livro (de contos, intitulado “Quadros de Natal”, hoje completamente esgotado e que nunca consegui encontrar qualquer exemplar, mesmo em sebos). Foi quando fui eleito para uma academia de letras (que embora não fosse a Paulista e muito menos a Brasileira, tem, para mim, valor inestimável). Sou, com muito orgulho, e há já quase 25 anos (a serem completados em 16 de novembro de 2017) acadêmico. Integro a instituição fundada pelo professor Benedito Sampaio e por um seleto grupo de intelectuais. Sou membro da Academia Campinense de Letras.

Oportunamente, trarei à baila as circunstâncias que permitiram minha eleição para a ACL. Hoje, transcrevo, apenas, reportagem, publicada na edição de 17 de novembro de 1992 pelo jornal “Correio Popular” de Campinas, noticiando minha posse na cadeira de número 14 dessa casa. A reportagem foi escrita pelo jornalista (e amigo) Edmilson Siqueira, que foi meu companheiro, também, na antiga Rádio Educadora, atual Bandeirantes Campinas. A referida matéria diz:

“O jornalista e escritor Pedro J. Bondaczuk, editor de Economia do Correio Popular, tomou posse ontem à noite da cadeira de nº 14 da Academia Campinense de Letras, que pertencia a Theodoro de Souza Campos Jr., o último membro da Academia que havia participado da sua fundação. Bondaczuk concorreu com mais seis pretendentes tendo recebido a maior votação já registrada na ACL. ‘Para mim é motivo de grande orgulho pertencer à Academia, não só pela votação recebida, mas por substituir o último acadêmico fundador que estava vivo e por ser o mais jovem integrante da casa’, disse ontem o novo acadêmico, entre os preparativos para a posse que aconteceria logo mais à noite.

Como o mais jovem membro da Academia, Pedro Bondaczuk tem alguns planos e idéias, como uma maior aproximação da casa com a imprensa e com o público mais jovem. ‘A Academia não deve ser encarada como um depósito de pessoas velhas que se encontram de vez em quando. É uma entidade dinâmica que pode fazer muito pela cidade. Dentre meus objetivos, humildemente, espero levar por lá um pouco dessa idéia de modernidade’.

Em seu discurso de posse, Bondaczuk afirmou estar vivendo um sonho ao se tornar membro da Academia, ao lado de figuras relevantes de nossa intelectualidade, entre eles cinco ex-professores do novo acadêmico. Ele também traçou um perfil biográfico de seu antecessor, Theodoro de Souza Campos Jr., e fez um breve histórico dos 36 anos da Academia Campinense de Letras”.

Na época, como informa a matéria, eu era editor de Economia, após haver passado por praticamente todas as editorias do jornal, embora minha especialidade fosse a política internacional. Minha grande vantagem, porém, ao longo de uma carreira jornalística de mais de trinta anos, era o ecletismo. Ou seja, a de não me haver especializado em uma única vertente jornalística, mas manter vivo o interesse por “todas” elas. Dedicava-me, na ocasião, de corpo e alma, ao jornalismo, com enorme responsabilidade profissional sobre os ombros. Contudo, exercitava, à margem, considerável atividade literária, movido pelo sonho de menino: o de ser escritor. Colegas perguntavam-me, amiúde, como eu conseguia conciliar jornalismo e literatura, tendo em vista que o dia “tem apenas 24 horas”. Sei lá! O fato é que conseguia. Tanto que, por uma dessas artimanhas do acaso, minha produção literária credenciou-me a ascender à Academia Campinense de Letras. Nada como a força dos sonhos quando começam a se tornar concretos. Encontramos forças não sabemos onde, que sequer desconfiávamos que tínhamos. Removemos “até montanhas” diante da meta tão próxima. Afinal, como enfatizou Adélia Prado, “sonho não morre”!!!! E não morre mesmo!!!!   


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