Atuação
sem ensaio
Pedro
J. Bondaczuk
Há
pessoas que garantem que não se surpreendem com nada. Deveriam se
surpreender. Se não estiverem mentindo, provavelmente não estão
atentas ao que lhes ocorre, ou ao que se desenvolve ao seu redor.
Afinal, por mais previsíveis que os acontecimentos sejam, sempre
escondem surpresas (boas ou más). São elas que os marcam e os
tornam especiais. Não há nenhum script previamente elaborado e
definitivamente testado e aprovado, que comande nossas ações. Por
mais planos que façamos, temos que sempre improvisar.
Mesmo
as surpresas desagradáveis têm, lá, a sua utilidade. Servem-nos
como lições, para sermos mais cautelosos e precavidos em nossas
atitudes e comportamentos futuros. Os homens sábios e sensatos não
lamentam erros e sofrimentos. Aprendem com eles e crescem com esse
aprendizado. Só os fracos, os despreparados e os incautos perdem seu
tempo com inúteis e vazias lamentações. A vida é toda ela
constituída de surpresas. Daí ter tamanho encanto. Respeito, claro,
quem não concorde comigo, mas mantenho a minha convicção. O que as
pessoas precisam é ser educadas para a vida. Nem sempre (ou quase
nunca) são.
Aqui,
cabe uma importante observação. Muita gente confunde educação com
mera instrução, com o aprendizado das primeiras letras, dos
princípios da matemática, das regras do idioma e dos fundamentos da
Geografia, História, Ciências etc. Quem pensa assim, está muito
equivocado. As duas coisas são muito diferentes, distintas, ambas
indispensáveis e complementares (ou, pelo menos, deveriam se
complementar).
Educação
é um processo contínuo, ininterrupto e que nunca tem fim. Vai do
berço à tumba, do nascimento à morte. Enquanto vivermos, estaremos
nos educando (ou deixando de nos educar, o que, quando ocorre – e
acontece com desastrosa freqüência – é trágico para nós e para
a civilização). Portanto, o processo educacional nunca termina com
a obtenção de um diploma universitário, ou de uma pós-graduação,
ou então de um doutorado. Em muitos casos, está, exatamente aí, a
metade desse processo. A carência de educação é que causa, entre
tantos outros equívocos e males, desavenças de toda a sorte,
ditadas, sobretudo, pela intolerância. Temos que aprender, que ser
treinados, que ser condicionados a não somente tolerar, mas a
respeitar diferenças.
É
possível e, sobretudo, desejável, a convivência pacífica e
respeitosa de pessoas com pensamentos, sentimentos e conceitos
antagônicos. Mas para que isso ocorra, é indispensável que haja
tolerância mútua. Só é licito impormos nossas convicções aos
outros mediante o convencimento, e com argumentos sólidos e
indestrutíveis, jamais pela força ou coação.
Infelizmente,
não é o que ocorre neste sofrido Planeta. Daí tanta violência,
tantas guerras e arbitrariedades. Não é preciso ser sábio para
concluir da impossibilidade de haver no mundo pensamentos
absolutamente uniformes e consensuais. Ademais, ninguém pode
afirmar, com certeza, ser detentor de verdades incontestáveis que
tenham que ser impostas, a ferro e fogo, aos outros. Quem o fizer,
estará sendo, apenas, arrogante, estúpido e arbitrário e sujeito,
entre tantas outras conseqüências e reações, a cair em ridículo.
Pelo
fato da vida ser, relativamente, tão curta e não comportar
“reprises”, para emendarmos nossos erros, somos forçados a agir,
na maior parte das vezes, por impulsos, em especial nos atos que
tendem a determinar nosso futuro. A lei da física aqui também
funciona. Ou seja, “a toda ação corresponde uma reação, do
mesmo módulo, mas de sentido contrário”. Somos como atores,
convocados, às pressas, para representar determinada tragédia (ou
comédia), sem ter feito um único e reles ensaio, apenas com ligeira
e apressada leitura do script.
Nunca
saberemos, de fato, se a intuição que nos determinou seguir certo
sentimento ou alguma idéia que nos parecesse, à primeira vista,
“genial”, foi correta ou não. Não há tempo para essa
verificação. Por isso, precisamos cuidar das nossas emoções e
ações com carinho muito especial.
Milan
Kundera adverte, no romance “A insustentável leveza do ser”: “O
homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma
possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de
maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um
sentimento. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como
se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado”. Daí, serem
questionáveis todas nossas eventuais certezas. Atentemos para isso!
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