Muita conversa, pouco conteúdo
Pedro J. Bondaczuk
O plano de estabilização
econômica do presidente Fernando Collor de Mello, cujo objetivo
declarado é derrotar a inflação por "nocaute", logo no
primeiro assalto, deixou confusos e estarrecidos muitos dos
brasileiros, principalmente os que se sentiram atingidos pelas
medidas. Falar a seu respeito agora, quando há muito emocionalismo
em torno da questão, não é uma tarefa das mais fáceis. Até
porque, poucas pessoas estão absolutamente seguras quanto ao seu
conteúdo --- se é que há alguém que o tenha entendido por
completo. O que o crítico estranha, porém, embora reconheça a
necessidade de uma providência dura e ampla para conter o perverso
processo hiperinflacionário, é que o projeto contrarie muitas das
pregações de campanha do novo presidente.
Por exemplo, o compromisso que
ele assumiu de não mexer na poupança, embora até se entenda a
razão estratégica que o levou a restringir os saques nas contas
superiores a Cr$ 30 mil. O que se pretendeu, certamente, foi evitar
uma explosão de consumo, por conta da retirada dos depósitos, como
se verificou durante o Plano Cruzado, que conduziu o País ao
desabastecimento e conseqüentemente ajudou a bombardear aquela
tentativa de se fazer do Brasil uma sociedade nacional "com o
crescimento do Japão e a inflação da Suíça", conforme se
apregoou na oportunidade. As medidas, conforme muitos assinalaram,
podem ser até corretas, do ponto de vista econômico, mas talvez
sejam, no mínimo, inoportunas, politicamente. Todavia, manda a
prudência, deve-se dar um crédito de confiança ao novo presidente
e à sua equipe.
Nas últimas horas, a
população foi, virtualmente, "bombardeada" por uma série
de declarações conflitantes de economistas de diversas tendências.
Uns, previram que as providências adotadas, embora duras, serão
eficazes. Disseram que embora venham de fato a nocautear a inflação,
deverão, fatalmente, gerar uma certa recessão, com um conseqüente
custo social, representado por um porcentual ainda não estimado de
desemprego. Outros, abominaram o plano por completo. Classificaram-no
como o maior ato de intervencionismo do Estado na economia,
contrariando totalmente aquilo que Collor havia prometido. Uma
terceira corrente, aquela que entende que prudência e caldo de
galinha não fazem mal a ninguém, preferiu ficar "em cima do
muro".
Como neste País, tudo mundo é
técnico de futebol e economista... O melhor que se faz, diante do
fato consumado, é não somente confiar nas medidas e torcer pelo seu
sucesso, mas principalmente colaborar para o seu êxito. Até porque,
a opção que nos resta é das mais sombrias. Quem conhece o que de
fato é uma hiperinflação, aceita não somente o sacrifício que o
novo governo está dividindo entre a parcela mais aquinhoada da
sociedade brasileira, mas está disposto a sacrificar, até mesmo, um
pouco mais. O Brasil tem diante de si uma oportunidade histórica,
talvez única, de modificar seu rumo. De alterar a atual trajetória,
que se encaminhava rumo ao abismo do caos social, para perseguir uma
outra, que conduza a um objetivo maior. À meta apregoada por Collor
de ser, não mais um líder do Terceiro Mundo, mas entrar no
seletíssimo "clube" dos primeiromundistas.
O ideal seria que os que nada
fizeram para impedir que o País chegasse à situação de agora, com
uma intolerável taxa inflacionária beirando o patamar dos 80%
mensais, ficassem calados. Não tumultuassem nem a cabeça dos
cidadãos e nem a ação dos que tentam fazer alguma coisa que nos
retire do "fundo do poço". Nos próximos dias, as coisas
certamente ficarão mais claras para todos.; Só então se poderá
dizer se o plano da professora Zélia é mais um dos pacotes
pirotécnicos com os quais tivemos que conviver nos últimos tempos,
ou a chave do Brasil novo, que Collor prometeu.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do
Correio Popular, em 18 de março de 1990)
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