Definição
de eternidade
Pedro J.
Bondaczuk
O conceito de eternidade é um dos mais difíceis
(senão impossíveis) de serem entendidos por nós, já que, óbvio, somos todos
mortais e com tempo restrito (e desconhecido) de vida. Não conhecemos nenhum
ser que já tivéssemos visto de perto ou de quem tivéssemos mesmo que esparsa
notícia, que tenha sido ou que seja eterno. Não existe quem viva para sempre,
sem sofrer os desgastes e os efeitos da passagem do tempo.
Há alguns animais (como o elefante, a baleia e a tartaruga)
que chegam a viver centenas de anos, se não forem, claro, molestados pelo
homem. Mas essa longevidade não sugere, sequer palidamente, que sejam
“eternos”. O que são, por exemplo, duzentos, quinhentos, mil anos para a
eternidade? Ou cinco bilhões deles? Ou, até, alguns trilhões e por aí afora?
Não são nada, óbvio!
Quando se fala em eternidade, o único parâmetro que
nos vem de imediato à mente é Deus. Mas Este ninguém vê, embora sinta a sua
presença e existência por todo o lado para o qual olhe, por suas concretas
manifestações. Se não existisse, nada, absolutamente nada existiria! Vê-lo,
porém, ninguém viu e nem poderia, tamanho, certamente, é seu esplendor e
grandeza.
Como só entendemos, de fato, as coisas pela
experiência pessoal, quem disser que entende o sentido lato da palavra “eterno”
só pode estar mentindo ou estar profundamente equivocado. Definições até que
existem várias (na maioria, plausíveis), mas definir nem sempre significa
entender. E este é um desses casos.
Esta é uma das situações em que as duas expressões
(definição e entendimento) não se combinam. Para Anicius Manlius Torquatus
Severinus Boethius (mais conhecido como Boécio), filósofo e estadista romano,
por exemplo, eternidade é “interminabilis vitae tota simul et perfecta possessio”.
Ou seja, “posse perfeita e simultaneamente total de vida interminável”.
Definição perfeita! Mas no fundo da alma, com toda a sinceridade, é possível
aferir se ela é correta ou não? Por qual parâmetro? Pois é! Definir não é, de
fato, “entender”.
Algumas
pessoas, no entanto, esbanjam arrogância com os conhecimentos que têm.
Julgam-se oniscientes e acham que entendem tudo o que as cerca, como se isso
fosse possível. Não é. É pura empáfia! Temos, apenas, pálida, palidíssima,
restrita, restritíssima, mínima, ínfima idéia de onde estamos e como tudo o que
nos cerca funciona.
O
homem ainda está engatinhando, em termos de sabedoria, a despeito dos avanços
da ciência e, sobretudo, da tecnologia. Desconhece o que é primário, elementar,
fundamental para que se considere sábio. Não consegue, sequer, intuir os
conceitos de infinito e de eterno, que não cabem em seu entendimento.
Com
seus parcos instrumentos e sua mente maravilhosa (é verdade), porém limitada,
tem a veleidade de estabelecer limites para o universo e até um princípio e
fim. Tolice. Todavia, devemos insistir na tentativa de entendimento não só dos
conceitos citados, mas de tantos outros. O conhecimento não ocupa lugar no
nosso cérebro e nos confere segurança e lucidez. Quanto mais pudermos saber,
melhores seremos.
Quanto
mais ecléticos formos, desenvolvendo múltiplas habilidades (o máximo que
pudermos) maiores serão nossas chances de compreensão do universo e,
conseqüentemente, de obtermos sucesso na vida. Compete-nos buscar, sempre, a
pluralidade, nunca a singularidade.
Devemos
direcionar nosso espírito tanto para as artes, quanto para as ciências (que não
são excludentes, como muitos pensam); tanto para a objetividade, quanto para a
subjetividade, a fantasia e a criatividade. Nosso potencial de aprendizado e de
retenção de conhecimentos é imenso, virtualmente indimensionável, já que, ao
longo de toda uma vida, não preenchemos, sequer, 5% (no caso dos gênios) dos
bilhões de neurônios que o nosso cérebro contém.
Daí
ser possível (e desejável) a pluralidade. Aliás, o universo é plural. A matéria
o é. A energia tem essa característica. As leis que os regem são múltiplas e
complexas. Tudo é plural na vastidão do espaço. Por que não sermos também? Esse
é o sentido desta recomendação de Fernando Pessoa, num dos seus tantos textos:
“Sê plural como o universo!”. Provavelmente na pluralidade infinita esteja a
definição mais exata e rigorosa de eternidade. Minha singularidade atual,
porém, não permite que diga isso com segurança.
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