Por uma causa
Pedro
J. Bondaczuk
Os intelectuais contemporâneos
– salvo algumas exceções – parecem ter perdido a perspectiva da
sua responsabilidade social. Pela sua própria condição cultural,
deveriam ser os líderes naturais das grandes causas. Poucos
atualmente são. O que temos são lideranças medíocres, pouco
imaginativas, quando não corruptas e dogmáticas. São raros,
raríssimos, por exemplo, os verdadeiros estadistas no comando dos
países. Espera-se dos intelectuais, pela condição que ostentam,
que como homens de raciocínio, com grande preparo intelectual, sejam
os balizadores dos caminhos que conduzam aos avanços políticos,
econômicos e sociais de seus respectivos povos, de forma a que
correspondam aos progressos tecnológicos ocorridos no decorrer de
todo o dramático século XX, o das luzes e das trevas, todo ele
manchado de sangue, mormente de duas guerras mundiais e de mais de
duas centenas de conflitos regionais. E, sobretudo, deste sécul.o
XXI, repleto de promessas e de perigos. Não o são.
Uma parte, a ligada aos ideais
de esquerda, decepcionada com o colapso do comunismo, perdeu sua
bandeira predileta de luta. Por causa disso, abriu mão da utopia de
uma sociedade sem classes e fechou-se em si mesma, como que numa
concha, ao invés de procurar alternativas, como seria de se esperar.
E não uma única, mas dez, vinte, cem, mil. Quantas a sua capacidade
fosse capaz de engendrar. Não fazem isso, porém, por serem
obcecadamente dogmáticos.
A outra parte, mais
conservadora, transformou o mito do "mercado" numa panacéia
universal. Apregoa, aos quatro ventos, o próprio "fim da
história", no sentido da prevalência absoluta do liberalismo,
alçado, desde a extinção da União Soviética, à categoria de
dogma. Jura que este é a solução para tudo. Evidentemente não é.
Basta que se olhe ao redor, para a evolução da miséria, para a
desagregação da família, para o desemprego, para a crescente
violência, para mostrar que isto que aí está não é ideal nem
mesmo para o mais frenético dos masoquistas.
Esses intelectuais – de
esquerda e de direita – omitem-se, cada um por razões próprias, a
maioria por pura teimosia, por aferrarem-se a dogmas, de que não
abrem mão, mesmo quando lhes provam, por a + b, que suas idéias são
equivocadas e, portanto, são inoportunas. Preferem, em vez disso,
encerrar-se em uma "torre de marfim", agindo como
intocáveis. Evitam envolver-se em qualquer causa que não seja a da
autopromoção. Olham para o próprio umbigo como se fosse uma
preciosidade, admirando-o, idolatrando-o, deificando-o.
A palavra-chave é
envolvimento. É cada pessoa fazer a sua parte, dar a sua
contribuição, de acordo com a sua capacidade, à comunidade a que
pertence. Este é o único sentido que a vida pode ter: o da
participação. Ninguém é auto-suficiente a ponto de não precisar
dos semelhantes. E tudo tem um preço. Esperam de nós a recíproca.
Nosso ideal deveria ser o de nos tornarmos elos da cadeia evolutiva
do homem. Não faz sentido vivermos só para nós mesmos.
O envolvimento, tanto com
pessoas, quanto com causas, implica em riscos. Isto é óbvio. O
escritor Michael Drury escreve a respeito: "Ninguém pode negar
que envolver-se em coisas significa arriscar-se. A pessoa de que nos
enamoramos pode magoar-nos terrivelmente; os amigos que discutem e
que tentamos reconciliar poderão voltar-se contra nós com a sua
cólera conjugada; o homem que se afoga e tentamos salvar pode
arrastar-nos consigo para o fundo. Contudo, evitando dissabores e
desapontamentos, tornamo-nos frios, desumanos".
O estranho é ver intelectuais
comprometidos com o acúmulo de riquezas pessoais, empenhando o que
de melhor possuem em um objetivo tão pífio. Ninguém mais do que
eles tem capacidade para perceber o quanto essa meta é vazia e até
absurda. Sequer é necessário mencionar a razão. Tais pessoas
sabem. Conhecem-na de sobejo. Albert Einstein, em seu livro "Como
Vejo o Mundo", expressa: "Tenho a firme convicção de que
nenhuma riqueza de bens materiais pode fazer progredir o homem, mesmo
que ela esteja nas mãos de homens que demandam uma meta superior.
Pode alguém imaginar Moisés, Jesus ou Gandhi armados com um saco de
dinheiro?"
A resposta à questão é
óbvia. O jovem (tem apenas 36 anos de idade) escritor rondoniense
Nazareno Vieira de Souza, que assina seus textos com o pseudônimo de
Augusto Branco, fez a seguinte constatação, um alerta para o mal
que determinados intelectuais fazem ao difundirem dogmas
ostensivamente equivocados e, portanto, nocivos ás massas ignaras:
"As pessoas vivem
uma vida que não é delas. Perseguem objetivos que disseram para
elas perseguirem. Compram coisas que disseram para elas comprarem.
Desejam o que fizeram elas desejarem. Fazem o que a maioria se põe a
fazer e, por fim, seguem repetindo idéias que não são suas e
morrem por ideais que não são seus". Ou seja, são guiadas
para o abismo da nulidade e do fracasso por líderes suicidas (ou
homicidas?)..
Ainda há, felizmente,
intelectuais empenhando prestígio e credibilidade nas grandes causas
sociais, embora em um número aquém do que seria desejável.
Enquanto tivermos líderes conscientes seguindo o exemplo deixado por
Betinho, preocupados em acabar com a fome de milhões de brasileiros
(e de africanos, asiáticos etc.etc.etc.) mundo afora e em obter o
resgate da cidadania para estes excluídos, nem tudo estará perdido.
"Utopia", dirão os céticos e os medíocres, além dos
acomodados e dos poltrões. Pode ser! Mas não deixa de ser um sonho
digno de se tentar conquistar. E a vida do homem só tem sentido
quando seus ideais, seus objetivos pessoais, suas expectativas,
deixam de ser individuais e se tornam compartilhados, altruístas,
coletivos.
Já que mencionei Albert
Einstein e seu lúcido livro “Como Vejo o Mundo”, cito, para
encerrar estas descompromissadas reflexões, o seguinte trecho dessa
mencionada obra:
"A vida é como jogar uma
bola na parede: Se for jogada uma bola azul, ela voltará azul; se
for jogada uma bola verde, ela voltará verde; se a bola for jogada
fraca, ela voltará fraca; se a bola for jogada com força, ela
voltará com força.
Por isso, nunca ‘jogue
uma bola na vida’ de forma que você não esteja pronto a
recebê-la. A vida não dá nem empresta; não se comove nem se
apieda. Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir aquilo que nós
lhe oferecemos".
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczul
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