Friday, April 07, 2017

Há escândalos maiores



Pedro J. Bondaczuk


As palavras crise, escândalo e corrupção vêm sendo, há décadas, as líderes das manchetes no País, rivalizando, talvez, com o termo inflação e suas variantes, custo de vida e carestia. Em 1991, essa também foi a tônica do noticiário, pontilhado por fatos escandalosos, como o dos “marajás” da Previdência, os desvios de recursos da Legião Brasileira de Assistência (LBA), os casos das mochilas e das bicicletas do Ministério da Saúde e vai por aí afora.

No primeiro semestre de 1992, o panorama não foi diferente. Primeiro houve a questão dos US$ 30 mil envolvendo o ex-ministro Rogério Magri, que permaneceu em evidência até que as denúncias do irmão do presidente Fernando Collor, Pedro Collor, contra o empresário Paulo César Farias, o PC, viessem a roubar a cena na ribalta política brasileira, onde se desenrola uma autêntica tragicomédia.

O lado trágico é o escondido da opinião pública, ou mostrado apenas de passagem. O cômico é o das justificativas dos envolvidos em escândalos, procurando passar uma probidade que em geral não possuem.

Seria este nosso tempo mais deprimente em matéria de comportamento, da elite detentora do poder? Até que não. Denúncias de negociatas, tráfico de influências, subornos e outras irregularidades sempre existiram, em menor ou maior grau, desde os tempos de Império. O que raramente se noticiou, porquanto não ocorreu, foi a conclusão dos famosos inquéritos, investigações, processos, que em geral acabam engavetados, depois de se arrastarem por anos.

O escândalo maior existente no Brasil contemporâneo, todavia, raramente vem a lume. Escandalosa é a miséria que atinge a maioria absoluta da população brasileira, punida injustamente por uma estrutura arcaica da economia. Absurdo é o que ocorre com os meninos do País, relegados ao abandono e ao Deus-dará, expostos a todos os vícios e perigos imagináveis e até inimagináveis. É a prostituição infantil, envolvendo crianças de até oito anos. É o assassinato de menores nas ruas das grandes cidades.

É a concentração de renda em pouquíssimas mãos, em detrimento da maioria esmagadora que gera as riquezas nacionais. É uma inflação de dois dígitos corroendo os cada vez mais parcos rendimentos dos trabalhadores – claro, dos “felizardos” que ainda conseguem uma ocupação, num país onde tudo ainda está por fazer e que deveria e precisaria estar em plena atividade, a todo o vapor, para resgatar seu futuro, já que o presente está irremediavelmente comprometido.

Crises políticas são comuns nas autênticas democracias e resolvem-se civilizadamente, sem comprometimento das instituições. Para isso, existem as leis. Basta que sejam aplicadas. Os escândalos mais graves, para os quais se requer solução urgente, são os da carência educacional, da subnutrição, do desemprego, da miséria e da violência. Resolvidas estas questões e o povo se habituando a respeitar e exigir respeito às leis, tudo o mais acabará entrando nos eixos.        

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de junho de 1992)


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