Há
escândalos maiores
Pedro J. Bondaczuk
As palavras crise, escândalo e corrupção vêm sendo,
há décadas, as líderes das manchetes no País, rivalizando, talvez, com o termo
inflação e suas variantes, custo de vida e carestia. Em 1991, essa também foi a
tônica do noticiário, pontilhado por fatos escandalosos, como o dos “marajás”
da Previdência, os desvios de recursos da Legião Brasileira de Assistência
(LBA), os casos das mochilas e das bicicletas do Ministério da Saúde e vai por
aí afora.
No primeiro semestre de 1992, o panorama não foi
diferente. Primeiro houve a questão dos US$ 30 mil envolvendo o ex-ministro
Rogério Magri, que permaneceu em evidência até que as denúncias do irmão do
presidente Fernando Collor, Pedro Collor, contra o empresário Paulo César
Farias, o PC, viessem a roubar a cena na ribalta política brasileira, onde se
desenrola uma autêntica tragicomédia.
O lado trágico é o escondido da opinião pública, ou
mostrado apenas de passagem. O cômico é o das justificativas dos envolvidos em
escândalos, procurando passar uma probidade que em geral não possuem.
Seria este nosso tempo mais deprimente em matéria de
comportamento, da elite detentora do poder? Até que não. Denúncias de
negociatas, tráfico de influências, subornos e outras irregularidades sempre
existiram, em menor ou maior grau, desde os tempos de Império. O que raramente
se noticiou, porquanto não ocorreu, foi a conclusão dos famosos inquéritos,
investigações, processos, que em geral acabam engavetados, depois de se
arrastarem por anos.
O escândalo maior existente no Brasil contemporâneo,
todavia, raramente vem a lume. Escandalosa é a miséria que atinge a maioria
absoluta da população brasileira, punida injustamente por uma estrutura arcaica
da economia. Absurdo é o que ocorre com os meninos do País, relegados ao
abandono e ao Deus-dará, expostos a todos os vícios e perigos imagináveis e até
inimagináveis. É a prostituição infantil, envolvendo crianças de até oito anos.
É o assassinato de menores nas ruas das grandes cidades.
É a concentração de renda em pouquíssimas mãos, em
detrimento da maioria esmagadora que gera as riquezas nacionais. É uma inflação
de dois dígitos corroendo os cada vez mais parcos rendimentos dos trabalhadores
– claro, dos “felizardos” que ainda conseguem uma ocupação, num país onde tudo
ainda está por fazer e que deveria e precisaria estar em plena atividade, a
todo o vapor, para resgatar seu futuro, já que o presente está
irremediavelmente comprometido.
Crises políticas são comuns nas autênticas
democracias e resolvem-se civilizadamente, sem comprometimento das
instituições. Para isso, existem as leis. Basta que sejam aplicadas. Os
escândalos mais graves, para os quais se requer solução urgente, são os da
carência educacional, da subnutrição, do desemprego, da miséria e da violência.
Resolvidas estas questões e o povo se habituando a respeitar e exigir respeito
às leis, tudo o mais acabará entrando nos eixos.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 29 de junho de 1992)
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