Tempestades no horizonte
Pedro
J. Bondaczuk
A política econômica do
governo do presidente Fernando Collor começa a ser posta em questão
pelos vários setores da sociedade diante da tendência crescente da
inflação, a despeito da adoção do mais completo figurino de
receita da escola monetarista para esse desarranjo da economia.
Previsões vêm sendo
repetidas nos últimos dias, variando na graduação, que vão desde
uma cautelosa preocupação, ao mais exacerbado catastrofismo.
Volta-se a comentar o termo "estagflação", tão nosso
conhecido de boa parte da década de 1980. Ou seja, inflação alta,
acompanhada da estagnação econômica.
Não pode haver dobradinha
mais perversa do que esta para um país como o nosso, onde o cidadão
não conta com quase nenhuma segurança social.
Dentro do próprio governo, as
opiniões acerca das dificuldades que estão para vir variam de grau.
A ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, por exemplo, admite
que a taxa inflacionária do corrente mês irá sofrer nova elevação,
atribuída ainda ao choque do petróleo determinado pelo conflito no
Golfo Pérsico. E ainda há quem defenda uma ação militar na
região! Só mesmo um paranóico irresponsável conceberia uma guerra
numa zona tão sensível como aquela.
Sem ela, o barril do óleo cru
está custando, em média, US$ 34. Com ela e, principalmente, se os
campos petrolíferos vierem a ser atingidos --- e tudo indica que
serão --- o preço subirá às nuvens. Há quem preveja, inclusive,
que chegue à fantástica cifra de US$ 100. Será uma tragédia para
países como o Brasil, que dependem de importações do produto.
Zélia fez uma previsão nada
cômoda para o futuro próximo, principalmente para os milhares de
brasileiros que perderam seus empregos na esteira do Plano Collor.
Afirmou ter certeza que janeiro será um mês "negro" para
a economia.
Esta, por sinal, também é a
opinião do secretário de Política Econômica, Antonio Kandir. Ele
acha que no início de 1991 o País viverá o momento mais difícil e
delicado na intensa luta para a estabilização de preços. Os dois
principais agentes da escala produtiva sentem-se prejudicados pela
atual política.
De um lado, estão os
empresários, queixando-se das altas taxas de juros. De outro, os
trabalhadores não conseguem esconder sua indignação por causa das
perdas salariais. Mas por maiores que sejam as dificuldades desses
dois grupos sociais, eles ainda são privilegiados se for comparada a
sua situação com a de milhões de brasileiros que sentem, como
eles, os efeitos da inflação e sequer têm uma fonte de renda que
lhes permita comprar o que comer. Daí estarem aparecendo tantas
dúvidas acerca da viabilidade do Plano Collor. Oxalá seus
arquitetos estejam certos e os sacrifícios estejam chegando ao fim.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de novembro de 1990).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment