Friday, April 21, 2017

Tempestades no horizonte


Pedro J. Bondaczuk


A política econômica do governo do presidente Fernando Collor começa a ser posta em questão pelos vários setores da sociedade diante da tendência crescente da inflação, a despeito da adoção do mais completo figurino de receita da escola monetarista para esse desarranjo da economia.

Previsões vêm sendo repetidas nos últimos dias, variando na graduação, que vão desde uma cautelosa preocupação, ao mais exacerbado catastrofismo. Volta-se a comentar o termo "estagflação", tão nosso conhecido de boa parte da década de 1980. Ou seja, inflação alta, acompanhada da estagnação econômica.

Não pode haver dobradinha mais perversa do que esta para um país como o nosso, onde o cidadão não conta com quase nenhuma segurança social.

Dentro do próprio governo, as opiniões acerca das dificuldades que estão para vir variam de grau. A ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, por exemplo, admite que a taxa inflacionária do corrente mês irá sofrer nova elevação, atribuída ainda ao choque do petróleo determinado pelo conflito no Golfo Pérsico. E ainda há quem defenda uma ação militar na região! Só mesmo um paranóico irresponsável conceberia uma guerra numa zona tão sensível como aquela.

Sem ela, o barril do óleo cru está custando, em média, US$ 34. Com ela e, principalmente, se os campos petrolíferos vierem a ser atingidos --- e tudo indica que serão --- o preço subirá às nuvens. Há quem preveja, inclusive, que chegue à fantástica cifra de US$ 100. Será uma tragédia para países como o Brasil, que dependem de importações do produto.

Zélia fez uma previsão nada cômoda para o futuro próximo, principalmente para os milhares de brasileiros que perderam seus empregos na esteira do Plano Collor. Afirmou ter certeza que janeiro será um mês "negro" para a economia.

Esta, por sinal, também é a opinião do secretário de Política Econômica, Antonio Kandir. Ele acha que no início de 1991 o País viverá o momento mais difícil e delicado na intensa luta para a estabilização de preços. Os dois principais agentes da escala produtiva sentem-se prejudicados pela atual política.

De um lado, estão os empresários, queixando-se das altas taxas de juros. De outro, os trabalhadores não conseguem esconder sua indignação por causa das perdas salariais. Mas por maiores que sejam as dificuldades desses dois grupos sociais, eles ainda são privilegiados se for comparada a sua situação com a de milhões de brasileiros que sentem, como eles, os efeitos da inflação e sequer têm uma fonte de renda que lhes permita comprar o que comer. Daí estarem aparecendo tantas dúvidas acerca da viabilidade do Plano Collor. Oxalá seus arquitetos estejam certos e os sacrifícios estejam chegando ao fim.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de novembro de 1990).



Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: