Curto-circuito do Estado
Pedro J. Bondaczuk
O Estado brasileiro, não é
de agora, está em curto-circuito, agravado pela ausência de
providências competentes e racionais que o tirem da falência. Está
à beira do colapso absoluto. E não se trata, especificamente, do
governo do presidente Itamar Franco, que apesar de alguns deslizes,
dado o seu estilo pessoal muitas vezes criticável, vem fazendo
aquilo que pode.
Não é uma questão de nomes,
de partidos, de grupos, mas de acúmulo de problemas urgentíssimos,
cuja solução foi protelada no passado e que agora não pode mais
esperar. O País está, em termos administrativos, desorganizado e a
análise das carências de cada um dos setores básicos, de
responsabilidade estatal, daria, por si só, um tratado. Mas onde
estão as soluções?
Este é um desafio que cabe a
cada cidadão, a todo brasileiro que se recusa a dar a batalha por
perdida e acredita na possibilidade de mudar o País para melhor,
enfrentar. Que a situação é trágica, todos estão cansados de
saber.
Não fossem as reportagens dos
meios de comunicação, os editoriais e a enxurrada de artigos para
lembrar à população sobre a dura realidade, todos sentem na
própria carne os efeitos desse estado de terra arrasada que o Brasil
atravessa.
Só para lembrar alguns
pontos, citaríamos que a rede pública de saúde acaba de se
esfacelar, o sistema educacional regride a olhos vistos em todos os
sentidos, a insegurança campeia ameaçando nossos lares, nosso
patrimônio e, principalmente, nossa vida e a de nossos filhos.
Mas as coisas ruins não param
por aí. O Judiciário está abarrotado de processos, por não haver
sido modernizado ao longo do tempo. Recente reportagem no
“Fantástico” mostrou, numa das varas da Capital, o imenso
acúmulo de trabalho dos juízes, fazendo com que questões
relativamente simples se arrastem por cinco, dez, quinze ou mais
anos.
O sistema carcerário, por sua
vez, vive outra situação absurda. Os presídios estão para lá de
superlotados, transformados que foram em meros depósitos de gente,
muito longe do seu papel doutrinário de casas de recuperação do
cidadão que delinqüe.
Dezenas de milhares de
mandados de prisão deixam de ser cumpridos por absoluta ausência de
vagas, multiplicando a insegurança da sociedade. E o que dizer da
assistência social? O que falar da multiplicação das hordas de
famintos (que hoje já passam dos 30 milhões)? E do déficit
habitacional? E dos milhares e milhares de pessoas sem-teto,
conhecidas, hoje, pela expressão inglesa “homeless”, numa
sofisticação da miséria?
Da inflação e da corrosão
do poder de compra dos salários é escusado falar. Como se vê, o
Estado está longe, muito distante, de cumprir sequer suas
atribuições básicas, aquelas que são a única justificativa da
sua existência. E o que fazem os políticos diante de tudo isso?
Mobilizam-se em busca de soluções emergenciais para salvar o País?
Afinal, são pagos – e regiamente – exclusivamente para isso.
Pelo contrário!
Sabotam, sempre que podem, os
governos, de ideologias diferentes das suas, como se tudo não
passasse de mero jogo, do eu contra você, do simples desfile de
ambições pessoais onde exibem suas vaidades.
A crise brasileira, isto já
foi dito inúmeras vezes, não é tanto de caráter econômico quanto
se pensa. Vai além da existência ou não de recursos para a saúde,
a educação, a segurança pública e a assistência social. Resvala
para a inconsciência, a incompetência, a irresponsabilidade, a
injustiça e o impatriotismo. Ou seja, trata-se, basicamente, de uma
questão de mentalidade dos nossos homens públicos.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de julho de 1993)
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