Crise anunciada
Pedro
J. Bondaczuk
"O
Estado ou é racional ou não é verdadeiro Estado, mas um aglomerado
social, onde o contraste das forças o torna ineficaz, viola a
liberdade, perturba a ordem, corrompe a Justiça e a administração.
Para ser racional, urge que o Estado se estribe na lei; que a lei
seja igual para todos; que a autoridade se submeta à lei, e assim
cada ordem cívica e cada organismo administrativo".
Essas
palavras, contidas num artigo publicado há 33 anos no jornal "A
Gazeta", de São Paulo, de autoria de Dom Luigi Sturzo, ilustra
bem a presente crise institucional que o País atravessa, envolvendo
os três poderes da República.
A
controvérsia, infelizmente, não tem por motivo alguma eventual
divergência entre Legislativo, Executivo e Judiciário quanto a
métodos de melhor prestar serviços à sociedade. Não se prende a
relevantes problemas nacionais, como o combate à fome, a geração
de empregos ou melhoria da qualidade da educação. Nem se refere à
busca de soluções para a violência, a falta de moradia ou à
falência do sistema de saúde.
Nada disso
parece relevante na presente crise e nem serviu como seu estopim. Os
que os representantes dos três poderes discutem é a legalidade ou
não de benefícios a seus integrantes. E isso é o que é
preocupante. É um exemplo de Estado tornado irracional, que perdeu
sua característica ideal e se transformou em mero "aglomerado
social". Perdeu a noção da realidade.
Os
sintomas de irracionalidade não são apenas esses. São inúmeros e
vêm de muito longe. O cientista político Jorge Zaverucha, no artigo
"Risco de Golpe", publicado no jornal "O Globo",
observou: "Num país onde: inexiste moeda; o orçamento da União
é uma ficção; há incapacidade de recolhimento de impostos; os
órgãos de segurança estão em crise; grupos políticos subvertem
uns aos outros por falta de confiança e, conseqüentemente,
compromissos não são respeitados, e, ainda por cima, o presidente
se encarrega de demonstrar sua preferência por militares para sanear
situações de crise, temos todos os ingredientes para um
curto-circuito político a qualquer instante".
Hoje
ele já nem é mais iminente. É concreto. Como se observa, o Estado
brasileiro é absolutamente irracional neste momento, a requerer
profunda restruturação. É necessária uma mudança de
comportamento. É indispensável uma postura diferente da assumida
hoje. É urgente o renascimento do sentido do serviço público.
O
País precisa ser desintoxicado das crises, nas quais está viciado.
A propósito, o artigo acima data de 20 de julho do ano passado, o
que comprova que o alarme vem soando há tempos, sem que ninguém lhe
dê ouvidos. E os eventuais bombeiros tentam apagar o incêndio
lançando mais combustível sobre as chamas.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de março
de 1994).
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