Poder
transformador
Pedro J.
Bondaczuk
É
saudável, necessário e indispensável fazermos uma revisão periódica das nossas
crenças e convicções – para, testar sua veracidade e intensidade – e analisar o
conjunto de valores que norteiam e direcionam nossa vida. Trata-se de atitude
sábia, que só nos traz benefícios ao impedir que incorramos (ou permaneçamos)
em erro.
Aquilo
em que acreditamos é o roteiro pelo qual pautamos pensamentos, sentimentos e
atos. Na vida impera a lei natural da causa e conseqüência. Tudo o que
fizermos, de bom ou de ruim, nos trará resultados de idêntica natureza. É
preciso, por outro lado, fazer criteriosa análise do que, como e para quem
dizemos as coisas. Ou seja, fazer rigoroso balanço das nossas palavras,
porquanto não é apenas o peixe que morre pela boca..
As
idéias, porém, não têm geração espontânea. Surgem da observação, do
questionamento, do diálogo e da vontade de saber. Bem diz o povo que “a
curiosidade é a mãe de todo o conhecimento”. Aquilo que não espicaça a nossa
mente e não nos torna inquietos até que saibamos tudo a respeito, por mais
óbvio que seja, não se fixa na memória. Só aprendemos, de fato, o que nos chama
a atenção e nos torna curiosos sobre todos os detalhes. A esse aprendizado,
somamos nossas observações e... Pronto! Nasce uma idéia.
Todavia,
o grande segredo para as descobertas do espírito é a capacidade de perguntar.
Apenas obteremos respostas convincentes às perguntas eficazes e pertinentes que
soubermos fazer. No jornalismo, isso é fundamental. O bom repórter só chega ao
âmago da questão que pretende levar aos leitores se souber perguntar o que é
relevante às suas fontes. Na vida, vale o mesmo princípio.
Trata-se
de um método muito antigo, denominado de “Maiêutica”, atribuído ao filósofo
Sócrates. Consistia (ou consiste, pois ainda é muito utilizado) em gerar idéias
complexas a partir de perguntas simples e articuladas, dentro de determinado
contexto. De questão em questão, passo a passo, seus discípulos chegavam às
verdades fundamentais da vida, aquelas que, embora óbvias, não conseguimos
captar com precisão por outros meios. Maiêutica, portanto, pode ser definida
como “a arte de fazer nascer as idéias”.
Ressalto,
todavia, que essa, como toda busca, gera imensa carga de ansiedade. Isso ocorre
quer se busque uma verdade, quer um amor, uma amizade, uma profissão, um
caminho para Deus etc. Não tarda para que esse sentimento se transforme em angústia,
que nos causa intenso desassossego. Isso, porém, é normal e não deve nos
preocupar, a menos que levemos a ansiedade ao extremo.
Nesse
caso, correremos sério risco, até, de contrairmos uma doença, física e/ou
psicológica. Por mais certeza que tenhamos do caminho para encontrar o que
buscamos, sempre haverá uma pontinha de dúvida: Vai dar certo? Estamos
preparados para o desafio? Quais as alternativas de que dispomos para o
sucesso? E eis aí a tal da Maiêutica em ação!
Reitero
que, desde que não levados ao extremo, esses sentimentos de ansiedade, dúvidas
e tensões são normais. Mas devemos cuidar do que dizemos. O poeta Emilsen Pedro
Zorzi faz pitoresca (posto que pertinente e sábia) analogia das palavras
triviais, aquele conjunto relativamente pequeno que usamos no cotidiano para
nos comunicar com os outros, com “produtos enlatados”. Ou seja, os que
consumimos e, depois de usados, nos descartamos.
Não
se referiu, claro, às palavras nobres, usadas pelos poetas para compor seus
versos, ou pelos pensadores para registrar pérolas do pensamento, enfim, pelos
que têm o que dizer e que mereça permanência. Há palavras cortantes,
explosivas, destrutivas, das quais jamais deveríamos nos utilizar, mesmo que
“enlatadas” e passivas de “descarte”. São tão ferinas, que seu invólucro chega
a nos cortar a língua. Livremo-nos delas. Descartemos do nosso vocabulário esse
lixo cultural!
Não
raro, por causa do noticiário aterrador dos meios de comunicação, nos dando
conta das mazelas do cotidiano, com seu desfile de desgraças, assassinatos,
assaltos, injustiças, taras, vaidades exacerbadas, egoísmo e corrupção, nos
sentimos tentados ao desânimo e a achar que o mundo não tem mais conserto. Tem!
Não raro, desistimos até de pensar, de gerar idéias e, sobretudo, de soluções,
duvidando da sua eficácia.
Embora
se trate de atitude normal, como já destaquei, nos esquecemos de que esta
geração também vai passar, como tantas outras já passaram e que, se prepararmos
devidamente as próximas, esse quadro tem possibilidades concretas de mudar.
Esse é o nosso permanente desafio! O da promoção dessa mudança. Ademais, em vez
de desanimar, por que não pensar o que deve ser pensado? E mais: por que não
fazer o que tem que ser feito? Afinal, as idéias têm imenso poder
transformador. Mas essa transformação só é possível se elas não permanecerem no
mero plano da cogitação e forem postas em prática.
O
poeta peruano Eduardo Rada tratou com perícia do tema no poema “Realizador”
Após apontar as mazelas que nos assustam e angustiam, concluiu, com estes
versos sensatos e otimistas, que faço questão de partilhar com você, fiel
leitor:
“Mas
felizmente
ainda
restam aqueles
que
realizam o que pensam
e
demonstram em sua prática
o
que é possível ser pensado
ou
melhor ainda:
o
que é preciso ser feito”.
Felizmente!!!
Seja você também, pois, não somente um dínamo gerador de idéias, mas,
sobretudo, um realizador.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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