Essência de um pacto nacional
Pedro J. Bondaczuk
Os caminhos para o
desenvolvimento são penosos e acidentados e, no entanto, por mais
paradoxais que pareçam, se revestem de grande simplicidade. Adam
Smith, no seu clássico “Manuscrito”, de 1775, escreveu: “Pouco
se requer para levar um Estado de barbárie mais baixa para o mais
alto grau de opulência, além da paz, impostos baixos e uma
administração aceitável da Justiça; todo o resto é feito pelo
curso natural das coisas”.
Entre nós já está arraigada
a idéia de que escolhemos um governo para interferir em todas as
esferas da nossa vida. De que cabe ao Poder Público prover nossa
educação, produzir bens, regular sua comercialização, determinar
nossos salários etc.etc.etc.etc. E, no entanto, isto é um equívoco.
O fundamental para o progresso
de uma determinada sociedade é a sua coesão. É o espírito de
cooperação para o alcance de um objetivo predeterminado. Para isso,
todos os seus integrantes, até por uma questão de semântica, têm
que ser tratados como “sócios”. Como partícipes dos seus
sucessos e co-responsáveis pelos eventuais fracassos.
O estado de miserabilidade em
que vegeta a grande maioria da população brasileira é
incompatível, portanto, com a meta nacional de ascensão ao seleto
Primeiro Mundo (apregoada pelo presidente Collor), integrado por
povos que já entenderam que seus destinos estão e devem sempre
estar em suas próprias mãos.
Como conseqüência lógica do
conceito que citamos anteriormente, Adam Smith alertou, no livro “A
Riqueza das Nações”, que “nenhuma sociedade pode ser
florescente e feliz se a grande maioria de seus membros for pobre ou
miserável”. E esta advertência cabe como uma luva para a nossa
situação. Está aí o grande objetivo nacional: o combate à fome e
suas seqüelas.
Temos que fazer algo,
objetivamente, e com a máxima urgência, para corrigir as distorções
sociais que temos e que se acentuam. Trata-se, porém, de tarefa
conjunta, da totalidade da sociedade, e não somente do topo da
pirâmide social, a sua elite. E muito menos da sua ampla base, os
trabalhadores.
Faz-se indispensável eliminar
os gigantescos bolsões de miséria, que nos envergonham
internacionalmente e depõe contra nosso espírito de solidariedade e
coesão nacional. Precisamos erradicar o analfabetismo, ter condições
decentes de moradia, de saneamento, de saúde, de educação.
Urge que a maioria dos
“sócios” seja, de fato e de direito, integrada à “sociedade”,
e tratada como tal, conquistando cidadania plena, pois este é o
único caminho real para o desenvolvimento. Ele é acidentado, sem
dúvida. Mas pleno de compensações. Os chamados países do Primeiro
Mundo que o digam. Esta é a essência, o cerne, o âmago do que
precisa ser pactuado por todos os brasileiros.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de setembro de 1990)
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