Thursday, April 13, 2017

Essência de um pacto nacional



Pedro J. Bondaczuk


Os caminhos para o desenvolvimento são penosos e acidentados e, no entanto, por mais paradoxais que pareçam, se revestem de grande simplicidade. Adam Smith, no seu clássico “Manuscrito”, de 1775, escreveu: “Pouco se requer para levar um Estado de barbárie mais baixa para o mais alto grau de opulência, além da paz, impostos baixos e uma administração aceitável da Justiça; todo o resto é feito pelo curso natural das coisas”.

Entre nós já está arraigada a idéia de que escolhemos um governo para interferir em todas as esferas da nossa vida. De que cabe ao Poder Público prover nossa educação, produzir bens, regular sua comercialização, determinar nossos salários etc.etc.etc.etc. E, no entanto, isto é um equívoco.

O fundamental para o progresso de uma determinada sociedade é a sua coesão. É o espírito de cooperação para o alcance de um objetivo predeterminado. Para isso, todos os seus integrantes, até por uma questão de semântica, têm que ser tratados como “sócios”. Como partícipes dos seus sucessos e co-responsáveis pelos eventuais fracassos.

O estado de miserabilidade em que vegeta a grande maioria da população brasileira é incompatível, portanto, com a meta nacional de ascensão ao seleto Primeiro Mundo (apregoada pelo presidente Collor), integrado por povos que já entenderam que seus destinos estão e devem sempre estar em suas próprias mãos.

Como conseqüência lógica do conceito que citamos anteriormente, Adam Smith alertou, no livro “A Riqueza das Nações”, que “nenhuma sociedade pode ser florescente e feliz se a grande maioria de seus membros for pobre ou miserável”. E esta advertência cabe como uma luva para a nossa situação. Está aí o grande objetivo nacional: o combate à fome e suas seqüelas.

Temos que fazer algo, objetivamente, e com a máxima urgência, para corrigir as distorções sociais que temos e que se acentuam. Trata-se, porém, de tarefa conjunta, da totalidade da sociedade, e não somente do topo da pirâmide social, a sua elite. E muito menos da sua ampla base, os trabalhadores.

Faz-se indispensável eliminar os gigantescos bolsões de miséria, que nos envergonham internacionalmente e depõe contra nosso espírito de solidariedade e coesão nacional. Precisamos erradicar o analfabetismo, ter condições decentes de moradia, de saneamento, de saúde, de educação.

Urge que a maioria dos “sócios” seja, de fato e de direito, integrada à “sociedade”, e tratada como tal, conquistando cidadania plena, pois este é o único caminho real para o desenvolvimento. Ele é acidentado, sem dúvida. Mas pleno de compensações. Os chamados países do Primeiro Mundo que o digam. Esta é a essência, o cerne, o âmago do que precisa ser pactuado por todos os brasileiros.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de setembro de 1990)



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