Tuesday, April 11, 2017

Como a "glasnost" pode ser levada a sério


Pedro J. Bondaczuk


O líder soviético, Mikhail Gorbachev, caso deseje que a sua "glasnost" seja levada a sério por toda a humanidade, precisa, com urgência, acabar de uma vez por todas com determinadas práticas punitivas em seu país. A primeira delas, é o confinamento de pessoas sadias em hospitais psiquiátricos, uma das formas mais cruéis, desumanas e estúpidas de tratar qualquer indivíduo, qualquer que seja a razão alegada.

A segunda, é a escravização literal dos cidadãos, por causa de seus idéias políticas, ou crenças religiosas, ou qualquer outra opinião que tenham, através de sua detenção em campos de trabalhos forçados, com condições muito mais precárias do que os acampamentos de prisioneiros dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

A esfera de atuação do Estado não chega e nem deve chegar jamais a esse ponto. Insistimos em afirmar que ele não passa de uma abstração. É uma entidade criada pelos homens para promover a organização da vida em sociedade e não para tiranizar seus pretensos sócios. Ela é integrada por pessoas comuns, como todos nós, mortais e passageiras, com as mesmas virtudes, limitações e ambições que possuímos.

O indivíduo, portanto, é o cérebro, o cerne, o sujeito de todo e qualquer sistema que se crie e não um mero objeto. Fora disso, o que há é tirania. Os psiquiatras modernos, inclusive, repudiam o confinamento nesses "hospitais" (que mais parecem masmorras), de seres humanos que realmente possuam anomalias mentais.

Os métodos de tratamento usuais, tais como as dopagens com tranqüilizantes pesados, eletrochoques e choques insulínicos, estão visivelmente ultrapassados. Agravam e perpetuam os desarranjos ao invés de curá-los. Imagine o leitor o que é para um indivíduo normal ir parar numa "casa dos horrores" dessa espécie! Conviver diariamente com a insanidade, sabe-se lá por quanto tempo, na maioria das vezes por toda a vida! Ser sepultado vivo e impedido até de buscar alívio pelas próprias mãos para tamanha pena! Ficar privado da companhia dos seres que lhe são caros, do convívio social, despido de toda e qualquer esperança! É um tormento digno do castigo imposto ao mitológico Prometeu, que foi atado aos Montes Urais por haver roubado o fogo sagrado dos deuses e teve o fígado devorado, aos poucos, por abutres, num tormento sem fim.

Não se pode ter consideração por um sistema que, por qualquer que seja o motivo, trata um ser humano dessa forma. Não se pode levar a sério um regime que age dessa maneira com os seus cidadãos. É impossível de se respeitar um governo que atua com tal método contra os que se lhe opõem ou faz "vistas grossas", comodamente, às ações de tarados, de degenerados (sádicos) que agem assim. A "glasnost", portanto, somente terá crédito quando Gorbachev extinguir com tamanha infâmia em seu país.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 22 de outubro de 1987)


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