Como a "glasnost"
pode ser levada a sério
Pedro J. Bondaczuk
O líder soviético, Mikhail
Gorbachev, caso deseje que a sua "glasnost" seja levada a
sério por toda a humanidade, precisa, com urgência, acabar de uma
vez por todas com determinadas práticas punitivas em seu país. A
primeira delas, é o confinamento de pessoas sadias em hospitais
psiquiátricos, uma das formas mais cruéis, desumanas e estúpidas
de tratar qualquer indivíduo, qualquer que seja a razão alegada.
A segunda, é a escravização
literal dos cidadãos, por causa de seus idéias políticas, ou
crenças religiosas, ou qualquer outra opinião que tenham, através
de sua detenção em campos de trabalhos forçados, com condições
muito mais precárias do que os acampamentos de prisioneiros dos
nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
A esfera de atuação do
Estado não chega e nem deve chegar jamais a esse ponto. Insistimos
em afirmar que ele não passa de uma abstração. É uma entidade
criada pelos homens para promover a organização da vida em
sociedade e não para tiranizar seus pretensos sócios. Ela é
integrada por pessoas comuns, como todos nós, mortais e passageiras,
com as mesmas virtudes, limitações e ambições que possuímos.
O indivíduo, portanto, é o
cérebro, o cerne, o sujeito de todo e qualquer sistema que se crie e
não um mero objeto. Fora disso, o que há é tirania. Os psiquiatras
modernos, inclusive, repudiam o confinamento nesses "hospitais"
(que mais parecem masmorras), de seres humanos que realmente possuam
anomalias mentais.
Os métodos de tratamento
usuais, tais como as dopagens com tranqüilizantes pesados,
eletrochoques e choques insulínicos, estão visivelmente
ultrapassados. Agravam e perpetuam os desarranjos ao invés de
curá-los. Imagine o leitor o que é para um indivíduo normal ir
parar numa "casa dos horrores" dessa espécie! Conviver
diariamente com a insanidade, sabe-se lá por quanto tempo, na
maioria das vezes por toda a vida! Ser sepultado vivo e impedido até
de buscar alívio pelas próprias mãos para tamanha pena! Ficar
privado da companhia dos seres que lhe são caros, do convívio
social, despido de toda e qualquer esperança! É um tormento digno
do castigo imposto ao mitológico Prometeu, que foi atado aos Montes
Urais por haver roubado o fogo sagrado dos deuses e teve o fígado
devorado, aos poucos, por abutres, num tormento sem fim.
Não se pode ter consideração
por um sistema que, por qualquer que seja o motivo, trata um ser
humano dessa forma. Não se pode levar a sério um regime que age
dessa maneira com os seus cidadãos. É impossível de se respeitar
um governo que atua com tal método contra os que se lhe opõem ou
faz "vistas grossas", comodamente, às ações de tarados,
de degenerados (sádicos) que agem assim. A "glasnost",
portanto, somente terá crédito quando Gorbachev extinguir com
tamanha infâmia em seu país.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 22 de
outubro de 1987)
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