Sucessão soviética
Pedro J. Bondaczuk
O
homem apontado como o principal responsável pela valorização dos militares na
URSS, marechal Dmitri Ustinov, que
morreu anteontem em Moscou, em conseqüência de seqüelas de uma pneumonia mal
curada, deixou consolidada a sua doutrina. Ele sempre defendeu a tese de que
seu país seria apenas respeitado (e temido) se fosse bem armado. Aliás, neste
aspecto, Ustinov chegou a operar autênticos "milagres" durante a
invasão nazista à União Soviética, na Segunda Guerra Mundial, tirando da
"cartola" os aviões, tanques e canhões que Stalin exigia e que a
então destroçada indústria russa não tinha condições de fabricar. Mas fabricou,
não se sabe até hoje como, sob a batuta desse exímio administrador.
A
morte de Ustinov, por outro lado, deverá influir na sucessão no Cremlin. Não é
novidade para ninguém, embora as autoridades russas busquem mostrar imagens de
um Cherneko vendendo vitalidade, que o atual líder soviético é um homem
bastante doente. O falecido marechal, que inclusive não era sequer militar (mas
ostentava esse título honorífico), foi o responsável direto pela escolha dos
dois presidentes da era pós-Brezhnev. Em outras palavras, no caso da escolha de
Chernenko, sabiamente adiou por algum tempo o duelo de bastidores entre os
principais aspirantes ao comando do Partido Comunista e conseqüentemente do
país: Grigori Romanov e Mikhail Gorbachev.
A
impressão que se tem à distância é que o caminho do primeiro fica um pouco mais
difícil, se bem que em termos de sucessão, na União Soviética, nunca é
recomendável se dar palpites, pois o processo tem se caracterizado por
surpresas. Geralmente, os preferidos acabam ficando para trás. Foi o caso de
Mikhail Suslov, quando da substituição de Nikita Kruschev; de Chernenko, em
relação a Andropov e do próprio Gorbachev, que acabaria perdendo a indicação
para o atual presidente e secretário-geral do PC soviético.
Para
aqueles que acham que com o desaparecimento de Ustinov, a doutrina armamentista
de Moscou vai ser suavizada, pode estar reservada uma desagradável surpresa. Na
lista dos sucessores do ministro falecido só aparecem nomes afinados com as
idéias dele. Todos foram seus estreitos colaboradores, que cresceram na
hierarquia do partido por influência direta do líder morto. Aliás, alguns, como
Ogarkov, são até mesmo mais agressivos do que Ustinov. É o caso, por exemplo,
de Kulikov, que tem a seu favor uma eficiente atuação à frente das forças do
Pacto de Varsóvia, sabidamente as mais aptas e treinadas da atualidade em
guerra convencional.
Se
tivéssemos que arriscar algum palpite sobre quem será o novo ministro de Defesa
soviético, apostaríamos neste último. Mas em se tratando desse país, onde tudo
é feito sob uma cortina de mistério e de intrigas de bastidores, seria
demasiadamente arriscado, senão ingênuo, apontar algum nome. Principalmente em
se tratando de um cargo com tamanha carga de responsabilidade e poder.
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 22 de dezembro de
1984)
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