Para o resto da vida
Pedro J. Bondaczuk
O vigor de determinada
sociedade depende, em grande parte, da faixa etária predominante no
poder. Se a maioria é moça, abundam idéias inovadoras e
revolucionárias, contudo, nem sempre há bom-senso nas ações. Os
líderes jovens confundem, não raro, coragem com temeridade.
Se o predomínio é o das
pessoas maduras, a sociedade se importa mais com o progresso material
do que espiritual e a busca por status, riqueza e poder quase sempre
se transforma em competição feroz, selvagem e sem piedade para com
os vencidos, em detrimento dos ideais.
Finalmente, se o poder estiver
nas mãos dos idosos, a característica é o conservadorismo, o que,
em geral, resulta em estagnação. O ideal é que haja uma
distribuição equilibrada e racional entre as várias faixas
etárias. As sociedades que conseguem esse equilíbrio, têm,
simultaneamente, o idealismo dos jovens, a capacidade de realização
dos maduros e o respeito pelas tradições dos idosos.
Quem é mais importante para o
mundo, para o equilíbrio social e o progresso dos povos: o moço ou
a pessoa que já passou dos 65 anos? No meu critério de avaliação,
ambos. Não por acaso, a natureza, em sua eterna sabedoria, permite a
existência simultânea tanto de um, quanto do outro.
A juventude caracteriza-se,
lembremos, pela força, pelo vigor, pelo idealismo e entusiasmo. É a
força propulsora do progresso de toda e qualquer sociedade. Todavia,
carece de algo essencial: o bom-senso, a capacidade de análise, o
planejamento meticuloso e racional e, sobretudo, a experiência, que
só se adquire com o muito viver.
Já o idoso é, como as sabe
de sobejo, vulnerável em termos físicos. Não se pode exigir dele
força, já que esta lhe mingua, inexoravelmente, com o passar dos
anos. Seu papel ideal nas sociedades, portanto, é o de guia, de
orientador, de moderador do entusiasmo dos jovens, direcionando-o
para o foco correto. Como se observa, mesmo que as partes não
admitam, um precisa do outro.. Enquanto o idoso ilumina o caminho que
ambos seguem, o moço aquece os dois com as chamas da sua paixão.
A partir de determinada idade
(que varia de pessoa para pessoa, de acordo com seus hábitos e sua
realidade de vida), aparecem determinados sintomas que nos alertam
que estamos envelhecendo. Isso, todavia, não precisa ser motivo para
pânico. Se quisermos chegar, digamos, aos cem anos, vigorosos e
produtivos, devemos adotar determinadas cautelas que, aliás, sequer
são difíceis de serem adotadas.
Uma delas, por exemplo, (que
reputo fundamental) é não querer realizar façanhas físicas que
realizávamos quando tínhamos, digamos, trinta anos, inclusive para
evitar acidentes que, quando não são fatais, tendem a ser
incapacitantes. Precisamos rever determinados hábitos e cortar, sem
hesitação, os nitidamente nocivos. Devemos manter a mente sempre
ativa, o corpo em atividade compatível com a idade e não perder o
interesse no mundo.
Como se vê, o envelhecimento
não é, necessariamente, tragédia, se utilizarmos a nosso favor
nosso grande e principal trunfo: a experiência. E quando uma pessoa
pode ser considerada “velha” (sem levar em conta o sentido
pejorativo que esta palavra sugere)? Ao completar 65 anos, tomados
como referência para caracterizar o que se convencionou chamar de
“terceira idade”? Aos 70? Aos 75? Aos 80? Aos 90?
Oponho-me a essas
preconceituosas convenções. Ficamos “velhos”, apenas, quando
nos sentimos dessa forma, não importa se aos 18, aos 40, aos 50 ou
aos 100 anos. São vários os casos de pessoas centenárias que,
contrariando toda a lógica, chegaram a essa fase da existência
vigorosas, entusiasmadas e produtivas.
Em contrapartida, há muitos
moços, de 25 anos ou menos, que já não vêem sentido e perspectiva
para as suas vidas e se entregam ao tédio, à preguiça e ao
desalento, quando não buscam uma fuga no álcool ou nas drogas.
Raras são as pessoas que têm
a exata noção da importância de cada etapa da vida pela qual
poderão passar (muitas não passam, pois morrem prematuramente, em
plena “flor da idade”). A criança, por exemplo, aprende a
respeitar os mais velhos, mas nem sempre o faz, encarando o idoso com
desprezo e um certo desdém, embora não manifeste esse comportamento
para não ser castigada pelo adulto.
O jovem, então, assume a
atitude de quem tudo sabe e tudo pode, sem se lembrar que a juventude
não é eterna e que, quando menos esperar, estará igual, ou pior do
que aqueles aos quais menospreza. E as pessoas de maior idade, em vez
de se colocarem em seus devidos lugares, tentam imitar os
adolescentes nas roupas, nas falas e nas atitudes e, sem que se
apercebam, se infantilizam e se tornam ridículas.
Se a morte não nos colher
antes, de maneira prematura, porém, todos passaremos pelas três
etapas, pelas três estações, pelas três condições da vida.
Millôr Fernandes, com seu humor inteligente, sadio e, no entanto,
crítico na medida certa, escreveu o seguinte a respeito: “A
infância não, a infância dura pouco. A juventude não, a juventude
é passageira. A velhice, sim: quando um cara fica velho é para o
resto da vida”. Há qualquer dúvida a respeito?
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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