Ouse mostrar seu talento
Pedro J. Bondaczuk
A natureza
dotou todas as pessoas (praticamente sem nenhuma exceção) de
determinadas aptidões, de certo potencial produtivo, de um dom
natural que precisa, no entanto, ser detectado, cultivado,
aperfeiçoado, desenvolvido e exercitado, para poder produzir
efeitos.
Uns
têm facilidade, por exemplo, para trabalhos manuais, realizando
maravilhas com as mãos, criando peças artesanais de surpreendente
beleza e praticidade. Outros, têm ouvido para a música, ou para
compor, ou para cantar, ou para executar um ou vários instrumentos.
Há os que têm vocação para a literatura (poesia, conto, romance,
teatro, ensaio), para as artes plásticas, para a economia e
finanças, para a política, para o direito, para a medicina etc. Os
dons são tantos quantos as pessoas que há no mundo.
Por
mais humilde (e aparentemente bronco) que um indivíduo possa
parecer, bem no fundo de sua mente, às vezes escondida nas
profundezas do subconsciente, entre tantas idéias, tantos
pensamentos e tantas emoções, ele possui alguma aptidão, por
mínima que seja, que certamente não descobriu qual é, mas que está
lá, à espera da descoberta, do cultivo e do desenvolvimento.
Raros,
todavia, têm a felicidade de descobri-la(s) ainda na infância.
Alguns fazem essa descoberta na juventude, desenvolvem esse
potencial, batalham por seu sonho, ousam e findam por produzir obras
marcantes, que sobrevivem ao tempo e ao espaço: à sua morte.
A
maioria chega a essa constatação na maturidade, recupera o tempo
perdido e luze. Existem, porém, os que deixam as verdadeiras
vocações, aquilo que sabem fazer de melhor, para ser cultivado mais
tarde, muito mais tarde, depois que constituem família, geram,
criam, educam e encaminham os filhos e cumprem, portanto, o que
entendem como sua “principal missão” no mundo. Muitos têm tempo
para isso e aproveitam.
Outros
são colhidos antes pela morte e deixam de concretizar seu verdadeiro
potencial.
Há, é claro, os que nunca descobrem as verdadeiras aptidões, por uma série de motivos e de circunstâncias e que chegam à fase crítica de vida, quando deveriam colher os frutos do que semearam, sem ter qualquer colheita a fazer, a não ser a de cardos e de espinhos das decepções e das frustrações.
É
a essa aptidão inata, a esse potencial a ser desenvolvido, que se
denomina de “talento”. O significado dessa palavra, de acordo com
o dicionário, é: “dom natural ou habilidade adquirida;
inteligência excepcional”. Jesus Cristo, em sua passagem pelo
mundo, legou à humanidade, entre tantos e sapientíssimos
ensinamentos, uma das mais sublimes lições a esse respeito, através
de memorável parábola.
Narrou
que determinado senhor, tendo que viajar, deu uma quantia em dinheiro
a três de seus servos (representada pela moeda romana de maior valor
na época, o talento). Um recebeu três, outro duas e o terceiro
apenas uma. Cada qual fez, com esse capital, o que achou melhor. O
ousado, procurou multiplicá-lo. O tímido e inseguro, por seu turno,
preferiu guardar o que havia ganhado, e de uma forma bastante
peculiar e reveladora do seu caráter.
O
primeiro dos servos aplicou seu dinheiro a juros. O segundo,
emprestou-o, com a condição de receber dividendos desse empréstimo.
O terceiro, porém, resolveu enterrar o que havia ganhado, para não
correr o risco de perder esse capital ou de ser eventualmente
roubado, já que seu senhor era extremamente severo nessas questões.
Quando
o patrão regressou da viagem, exigiu a prestação de contas dos
três servidores. O servo que aplicou o capital a juros pôde
apresentar, como resultado, um lucro do dobro da quantia aplicada.
Quem emprestou, teve resultado idêntico. Só não lucrou nada, no
entanto, o que havia enterrado o seu talento. Desse, o senhor
confiscou a única moeda que lhe havia dado, pois mostrou absoluta
falta de iniciativa, o que ele não tolerava.
Assim
somos nós. Alguns têm várias aptidões. Arriscam-se, expõem-se,
fracassam às vezes, não raro sofrem frustrações, mas chegam,
finalmente, ao sucesso, mesmo que por caminhos tortuosos. Adquirem,
no meio da jornada, várias outras virtudes que não tinham no
início. São vencedores!
Há
os que não nascem com tantos dons assim, mas cultivam os que têm e
também são bem-sucedidos. Todavia, a grande maioria das pessoas
“enterra” o seu talento, joga o seu tempo fora, limita-se a
procurar justificativas ou a apontar culpados para os fracassos que
constroem com a própria inércia, covardia e medo de se expor e
findam seus dias amargos, ressentidos e infelizes.
Nunca
é tarde para descobrir, cultivar, desenvolver e expor suas aptidões.
Estude, leia, raciocine, escreva, componha, toque algum instrumento,
empenhe-se, trabalhe, planeje, sonhe, mas, sobretudo, viva! E
execute! Tenha a idade que tiver (essa não é uma questão
cronológica), aplique, com coragem e determinação, “o capital”
que recebeu ao nascer. Não tenha medo de mostrar ao mundo o seu
talento, seja ele qual for!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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