Thursday, April 27, 2017

Ética e desprestígio



Pedro J. Bondaczuk



A crise política, causada pelas apurações da CPI sobre o caso PC Farias, que vinculam o presidente Fernando Collor ao tráfico de influência exercido pelo empresário alagoano, além de outras graves irregularidades, deteriorou, ainda mais, a imagem brasileira no Exterior.

A organização exemplar da recente Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a RIO-92, realizada em junho passado, no Rio de Janeiro, havia resgatado um pouco do abalado prestígio do Brasil em âmbito internacional. Logo a seguir, porém, veio a CPI, com revelações diárias de atos de corrupção de arrepiar os cabelos do mais pacato dos cidadãos. E o escândalo repercutiu negativamente através do mundo.

Toda vez que alguém retorna dos Estados Unidos ou de algum país da Europa ocidental, seus amigos tomam conhecimento, não sem certa pontinha de mágoa, do desprestígio de que gozamos lá fora. O brasileiro é tratado com reservas, quando não com pouco caso, na maior parte dos países, salvo raras e honrosas exceções.

Mas seríamos, por acaso, um povo tão mau caráter, mais para Macunaíma do que para Mahatma Gandhi? O brasileiro é mais corrupto, irresponsável, imaturo ou sabe-se lá mais o que do que os outros povos? Absolutamente não!

O tratamento que recebe no Exterior não condiz, em absoluto, com o que se dá aqui aos que procuram este país em busca de novas oportunidades, de refúgio de perseguições políticas ou por qualquer outra razão. O imigrante que desembarca no Brasil, em geral, é recebido de braços abertos.

Em pouco tempo, tem as mesmas oportunidades que os cidadãos daqui. Não é discriminado na busca de trabalho, nem socialmente ou sequer politicamente. Seus filhos adquirem automaticamente o direito à cidadania plena, o que ocorre em pouquíssimas outras partes do mundo.

Basta que se pegue a relação dos congressistas, ou de deputados de qualquer assembléia legislativa, para se perceber a ascensão política e social que os descendentes de estrangeiros apresentam entre nós.

No entanto, o mesmo está muito longe de se verificar com brasileiros no Exterior. É verdade que o lugar dessa gente que emigrou – a maioria dos que vão tentar a sorte lá fora é constituída por jovens – é aqui, na luta pela construção de uma nação justa, próspera, organizada e solidária. Nosso senso ético está longe de ser pior do que o dos outros ou de estar obliterado por um comportamento público nem sempre recomendável.

O cientista político Bolívar Lamounier ressaltou, com rara felicidade, num artigo publicado no Caderno de Sábado do Jornal da Tarde, da semana passada, a repulsa que os escândalos e atos de corrupção vêm despertando nos brasileiros.

Assinalou: “Se nos envergonhamos por atos e fatos que nos transcendem, pelos quais não temos nenhuma responsabilidade, e que nos causam a mais visceral repulsa, é porque temos ao mesmo tempo o sentimento de que formamos uma comunidade moral”.

Quem, internamente, procura generalizar o mau-caratismo de alguns celerados – e o caráter independe da nacionalidade, origem étnica ou cor – está prestando um enorme desserviço a si próprio e ao Brasil.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de agosto de 1992).



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