Ética e desprestígio
Pedro J. Bondaczuk
A crise
política, causada pelas apurações da CPI sobre o caso PC Farias,
que vinculam o presidente Fernando Collor ao tráfico de influência
exercido pelo empresário alagoano, além de outras graves
irregularidades, deteriorou, ainda mais, a imagem brasileira no
Exterior.
A
organização exemplar da recente Conferência das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a RIO-92, realizada em junho
passado, no Rio de Janeiro, havia resgatado um pouco do abalado
prestígio do Brasil em âmbito internacional. Logo a seguir, porém,
veio a CPI, com revelações diárias de atos de corrupção de
arrepiar os cabelos do mais pacato dos cidadãos. E o escândalo
repercutiu negativamente através do mundo.
Toda
vez que alguém retorna dos Estados Unidos ou de algum país da
Europa ocidental, seus amigos tomam conhecimento, não sem certa
pontinha de mágoa, do desprestígio de que gozamos lá fora. O
brasileiro é tratado com reservas, quando não com pouco caso, na
maior parte dos países, salvo raras e honrosas exceções.
Mas
seríamos, por acaso, um povo tão mau caráter, mais para Macunaíma
do que para Mahatma Gandhi? O brasileiro é mais corrupto,
irresponsável, imaturo ou sabe-se lá mais o que do que os outros
povos? Absolutamente não!
O
tratamento que recebe no Exterior não condiz, em absoluto, com o que
se dá aqui aos que procuram este país em busca de novas
oportunidades, de refúgio de perseguições políticas ou por
qualquer outra razão. O imigrante que desembarca no Brasil, em
geral, é recebido de braços abertos.
Em
pouco tempo, tem as mesmas oportunidades que os cidadãos daqui. Não
é discriminado na busca de trabalho, nem socialmente ou sequer
politicamente. Seus filhos adquirem automaticamente o direito à
cidadania plena, o que ocorre em pouquíssimas outras partes do
mundo.
Basta
que se pegue a relação dos congressistas, ou de deputados de
qualquer assembléia legislativa, para se perceber a ascensão
política e social que os descendentes de estrangeiros apresentam
entre nós.
No
entanto, o mesmo está muito longe de se verificar com brasileiros no
Exterior. É verdade que o lugar dessa gente que emigrou – a
maioria dos que vão tentar a sorte lá fora é constituída por
jovens – é aqui, na luta pela construção de uma nação justa,
próspera, organizada e solidária. Nosso senso ético está longe de
ser pior do que o dos outros ou de estar obliterado por um
comportamento público nem sempre recomendável.
O
cientista político Bolívar Lamounier ressaltou, com rara
felicidade, num artigo publicado no Caderno de Sábado do Jornal da
Tarde, da semana passada, a repulsa que os escândalos e atos de
corrupção vêm despertando nos brasileiros.
Assinalou:
“Se nos envergonhamos por atos e fatos que nos transcendem, pelos
quais não temos nenhuma responsabilidade, e que nos causam a mais
visceral repulsa, é porque temos ao mesmo tempo o sentimento de que
formamos uma comunidade moral”.
Quem,
internamente, procura generalizar o mau-caratismo de alguns celerados
– e o caráter independe da nacionalidade, origem étnica ou cor –
está prestando um enorme desserviço a si próprio e ao Brasil.
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