Friday, November 08, 2013

Ação contra a miséria


Pedro J. Bondaczuk


A perspectiva de aumento da miséria no Brasil, embora seja assustadora, é concreta, bastando que se consulte qualquer estudo dos muitos que há por aí, das entidades internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), ou Banco Mundial ou Fundo Monetário Internacional.

A América Latina foi o continente que mais regrediu em termos sociais na década de 80, e os prognósticos são de que essa corrida para trás irá se acentuar daqui ao ano 2000, a menos que se encontrem soluções para várias questões que bloqueiam nosso desenvolvimento.

São necessárias reformas estruturais profundas, compatíveis com os tempos atuais, de muito maior porte até do que a "perestroika" soviética. É preciso repensar o conceito de pátria e seu real significado.

Todavia, o que não se pode admitir é que permaneçamos no atual estado, de deixar as coisas como estão para vermos como é que ficam. Angustiado com as perspectivas de crescente empobrecimento, o arcebispo Dom Helder Câmara pretende lançar uma campanha nacional pela erradicação da miséria brasileira até o ano 2000.

Outras personalidades públicas e instituições têm a obrigação moral de fazer o mesmo, até por uma questão de prudência, objetivando satisfazer seus próprios interesses.

Num país onde a população tenha condições de satisfazer suas necessidades mínimas, o povo será mais produtivo. Irá gerar maior volume de riquezas, ampliando o mercado num processo de enriquecimento semelhante a uma bola de neve que desça por uma encosta. À medida em que rola, ela mais aumenta de tamanho.

Dom Helder, ao que se anuncia, não estará sozinho em sua ação. A Fundação Joaquim Nabuco, de Pernambuco, encampou a tese do arcebispo, assim como várias agências de propaganda do Estado, que já começaram a criar peças publicitárias da campanha gratuitamente.

Com isso, demonstram ter visão de futuro, de longo prazo, de permanência e sobretudo sólida noção do que significa "pátria", esse conceito tão precioso, que hoje tem soado até um tanto ridículo, dada a sua distorção por parte dos que enxergam somente o aqui e o agora. Ou seja, dos candidatos à segunda morte. Dos que, ao serem colhidos pela grande niveladora social, a despeito de terem uma trajetória de privilégios e de facilidades, serão esquecidos em questão de dias até pelos mais diretos descendentes. É nesse hedonismo ilusório e inconseqüente que se deve apostar todas as fichas deste jogo fascinante, embora às vezes frustrante e perigoso, que é a vida?

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de novembro de 1990).


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