Ação
contra a miséria
Pedro J. Bondaczuk
A perspectiva de aumento da miséria no Brasil,
embora seja assustadora, é concreta, bastando que se consulte qualquer estudo
dos muitos que há por aí, das entidades internacionais, como a Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), ou Banco Mundial ou Fundo
Monetário Internacional.
A América Latina foi o continente que mais regrediu
em termos sociais na década de 80, e os prognósticos são de que essa corrida
para trás irá se acentuar daqui ao ano 2000, a menos que se encontrem soluções
para várias questões que bloqueiam nosso desenvolvimento.
São necessárias reformas estruturais profundas,
compatíveis com os tempos atuais, de muito maior porte até do que a
"perestroika" soviética. É preciso repensar o conceito de pátria e
seu real significado.
Todavia, o que não se pode admitir é que
permaneçamos no atual estado, de deixar as coisas como estão para vermos como é
que ficam. Angustiado com as perspectivas de crescente empobrecimento, o arcebispo
Dom Helder Câmara pretende lançar uma campanha nacional pela erradicação da
miséria brasileira até o ano 2000.
Outras personalidades públicas e instituições têm a
obrigação moral de fazer o mesmo, até por uma questão de prudência, objetivando
satisfazer seus próprios interesses.
Num país onde a população tenha condições de
satisfazer suas necessidades mínimas, o povo será mais produtivo. Irá gerar
maior volume de riquezas, ampliando o mercado num processo de enriquecimento
semelhante a uma bola de neve que desça por uma encosta. À medida em que rola,
ela mais aumenta de tamanho.
Dom Helder, ao que se anuncia, não estará sozinho em
sua ação. A Fundação Joaquim Nabuco, de Pernambuco, encampou a tese do
arcebispo, assim como várias agências de propaganda do Estado, que já começaram
a criar peças publicitárias da campanha gratuitamente.
Com isso, demonstram ter visão de futuro, de longo
prazo, de permanência e sobretudo sólida noção do que significa
"pátria", esse conceito tão precioso, que hoje tem soado até um tanto
ridículo, dada a sua distorção por parte dos que enxergam somente o aqui e o
agora. Ou seja, dos candidatos à segunda morte. Dos que, ao serem colhidos pela
grande niveladora social, a despeito de terem uma trajetória de privilégios e de
facilidades, serão esquecidos em questão de dias até pelos mais diretos
descendentes. É nesse hedonismo ilusório e inconseqüente que se deve apostar
todas as fichas deste jogo fascinante, embora às vezes frustrante e perigoso,
que é a vida?
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 18 de novembro de 1990).
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