Desequilíbrio
climático
Pedro J. Bondaczuk
A agressão do homem à natureza, neste último quarto
de século, foi muito maior do que durante todo o período em que ele está sobre
a face do Planeta. Os resultados, dramáticos, estão mais do que à vista, mas as
pessoas não os vêem, ou fingem não os ver.
O clima global, de acordo com os cientistas, tende a
sofrer profunda mudança, doravante, ameaçando não apenas os um milhão de
espécies animais e vegetais, que deverão desaparecer, no máximo, em até uma
década, mas o próprio ser humano. No terreno prático, ninguém sabe, com
exatidão, quais serão as conseqüências que teremos face ao desequilíbrio
ambiental que se acentua. Por exemplo, o que acontecerá conosco se a camada de
ozônio que nos protege não for recomposta?
Esta é uma questão para nos preocuparmos agora, pois
o rombo nessa capa protetora está se expandindo sem parar. Cientistas afirmam
que ele já estaria sobre praticamente toda a região Sudeste do Brasil. Ou seja,
sobre as nossas cabeças.
E sabe o leitor o que causa a erosão desse manto
benfazejo? O reles produto contido em uma latinha de spray qualquer:
clorofluorcarbono! Será que esse produto é tão importante, se não vital, que
não possamos passar sem ele? Vale a pena arriscar o bem-estar, a saúde e, quem sabe,
a própria vida, por algo tão banal e supérfluo? Tanto não é essencial, que o
seu uso apenas se disseminou nas três últimas décadas.
É neste caso que se pode afirmar, com convicção (e
em outros mais, do conhecimento geral) que a tecnologia vem prestando um
desserviço a todos nós. Não é de se estranhar, por essa razão, a quantidade
exagerada de catástrofes climáticas ocorridas neste tormentoso 1987.
Têm ocorrido furacões em zonas não propensas ao
fenômeno, como o Sul da Europa; o inverno mais rigoroso que já castigou os
europeus em pelo menos um século, responsável por mais de 200 mortes; um verão
inusitadamente quente nesse mesmo continente, em especial na Grécia e na
Itália, que já deixou duas mil vítimas fatais; secas catastróficas na Etiópia e
na Índia, e vai por aí afora.
Seria tudo coincidência, como se procura insinuar?
Seria alarmismo alertar para tamanho desequilíbrio climático? Ou essas
ocorrências catastróficas seriam meras conseqüências da nefasta ação do homem
sobre o meio ambiente, indiferente à própria sorte e à dos descendentes?
É indispensável que se crie uma consciência
ecológica mundial. Mas que não seja associada, como ocorre agora, a nenhuma
ideologia (em geral de esquerda), pois isto é estupidez. São assuntos que não
se deve misturar. Confundi-los é querer criar uma cortina de fumaça, um
criminoso disfarce, para o que não deve jamais ser escondido.
Temos que nos dar conta de que, quando uma única
árvore, mesmo a que nos dá sombra no portão de nossa casa, é derrubada, estamos
um passo mais próximos da desertificação e, provavelmente, da morte. Estamos
contribuindo para um mundo cada vez mais cinzento, abafado e hostil, no qual,
talvez, apenas as baratas e os escorpiões consigam sobreviver.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 7 de novembro de 1987)
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