Tuesday, November 12, 2013

Turismo sexual


Pedro J. Bondaczuk

A exploração sexual de crianças e adolescentes é  praga mundial, e não é de hoje, que governos e organizações ligadas às Nações Unidas, ou entidades defensoras de direitos humanos, buscam, a todo o custo, combater e eliminar. Mas estão perdendo essa guerra. Por que? Porque as estratégias de combate são inadequadas. Tragédias são noticiadas, com certa freqüência, envolvendo pedófilos – como o belga Mark Dutroux, por exemplo –, alguns até ocupando posições de responsabilidade na sociedade, em que crimes bárbaros são cometidos contra menores. Tais episódios, porém, só vêm à tona quando nada mais pode ser feito pelas vítimas.

Mark Dutroux, para quem não acompanhou o caso pela imprensa, ou que não se lembra do episódio, é um serial-killer belga, cumprindo sentença de prisão perpétua, que, entre 1995 e 1996 seqüestrou, torturou, abusou sexualmente e matou pelo menos seis meninas antes que fosse descoberto e preso. As autoridades desconfiam que as vítimas foram em muito maior número. Ele foi considerado, na Bélgica, na ocasião, como o “inimigo público número um” do país. Cito esse caso, porque foi dos mais divulgados pela imprensa na oportunidade e porque o monstruoso celerado acaba de ter recusado mais um dos tantos pedidos feitos à justiça de liberdade condicional. Como libertar um monstro desse tipo?

No Brasil, e em vários outros países em que o turismo está entre as principais fontes de divisas, fazer sexo com garotinhas ou garotinhos tornou-se, pasmem, "atração turística", em muitos casos, até a principal delas. Há muito que se conhece essa prática, que pessoas equilibradas e de bom senso, lutam para coibir e extinguir. Trata-se de tarefa muito mais árdua do que parece à primeira vista. Para ter êxito, precisa contar com a irrestrita colaboração de todos que saibam de casos do tipo, cujo dever moral e legal é o de comunicá-los às autoridades para que adotem as providências cabíveis.

A exploração sexual de meninas e meninos é, não apenas prática sumamente imoral, como, principalmente, ilegal. É crime!!! Só faltava não ser! Está capitulada no artigo 244-A do Código da Criança e do Adolescente, com pena prevista de 4 a 10 anos de reclusão, além de multa. Entendo que a punição ainda é muito branda para a gravidade do delito. E, ainda assim, poucos pedófilos e detentores de outras taras relacionadas são denunciados e devidamente punidos, como deveriam ser.

E o que o escritor tem a ver com esse tema que lhe causa tamanho asco e horror e do qual, via de regra, busca se afastar? Tem muito! Afinal, trata-se do guardião dos costumes, tradições e também aberrações do seu tempo. Poucos, pouquíssimos, têm a coragem e a habilidade de um Vladimir Nabokov, por exemplo, que tocou no assunto com sensibilidade e bom gosto, no seu romance “Lolita”, hoje um clássico da literatura contemporânea e que fez grande sucesso também no cinema, em mais de uma versão. Seu livro chamou a atenção do mundo para esse tipo de comportamento asqueroso e muito mais até do que as diversas campanhas publicitárias, de escassos resultados, feitas em vários países.

Detesto abordar o assunto, para mim bastante penoso, mas sempre que tenho oportunidade, boto o dedo nessa ferida, embora o tema me desperte um misto de ira e de asco. Entendo que o escritor deva encarar e abordar não apenas o que lhe agrade e lhe dê prazer, mas também (e principalmente) o que o choque, aterrorize e enoje, como é o caso. Aliás, esse é o grande desafio para testar seu talento e sua capacidade de comunicação. Se não for competente, acabará, mesmo que à sua revelia, em vez de conscientizando a população a combater essa aberração, fazendo apologia desse tipo de tara.

A rigor, embora haja dispositivo legal para punir esse crime, não existem medidas preventivas para evitar que as crianças sejam sexualmente exploradas. Não há  uma cultura de preservação da sua integridade física e emocional. Falta uma consciência generalizada de que todos somos responsáveis por todos. De que aquilo que acontece ao nosso vizinho pode, de alguma forma, nos afetar também algum dia. As pessoas preferem ignorar o problema. Apenas ficam indignadas quando crimes bárbaros, como o de Dutroux ou do casal West na Grã-Bretanha (o da "casa dos horrores"), são noticiados. Essa indignação, no entanto, tem muito de hipocrisia.

O caso dos West – Fred e Rose – foi outro que freqüentou as manchetes internacionais em 1996, e que chocou o mundo. O casal de serial-killers, ao longo de vinte anos, violou e assassinou doze meninas, cujos corpos foram enterrados na garagem e no jardim da que ficou conhecida como “casa dos horrores”, na cidade inglesa de Gloucester, que foi totalmente demolida. Entre as vítimas, incluíram-se duas das filhas de Fred West. Como pessoas assim podem ser consideradas como “seres humanos”?

Há senhores que posam de empresários respeitáveis e amorosos pais de família que atravessam continentes para fazer "turismo sexual". E o Brasil torna-se, crescentemente, um dos países mais procurados para o exercício dessa perversão, a despeito das várias campanhas para coibir essa prática e punir os que se valem dela para satisfazer seus instintos doentios. E por que? Porque tem fama de não tratar com dignidade e seriedade suas crianças. E não trata de fato. Com certa freqüência, documentários são exibidos no Exterior mostrando como vivem nossos meninos e meninas de rua.

Isto não quer dizer que tais cenas não devam ser mostradas. Não devem é existir!!! E para que isso aconteça é indispensável que se mude a mentalidade. Claro que não serão uma ou duas campanhas transitórias que vão fazer isso. Mas elas podem ser um início. É preciso que venham acompanhadas de medidas práticas que, sobretudo, eliminem, ou pelo menos atenuem, a vergonhosa miséria que ainda atinge parcela considerável dos brasileiros.

É certo que o problema não é exclusivamente nosso. Estudos indicam, por exemplo, que entre 30% a 35% de todas as prostitutas do Mekong, sub-região da Ásia, estão na faixa etária dos 12 aos 17 anos. No Sri Lanka, as crianças se tornam presas de exploração sexual de turistas por influência de amigos e de parentes, com fins de obterem altos lucros financeiros dos pagamentos que disso resultam. Na Tailândia, 40% das pessoas que trabalham nos prostíbulos do país é de meninas dos 12 aos 17 anos, dadas a exigência e a preferência dos “clientes”. E no Brasil, a situação é melhor? Dispensam-se até estatísticas para comprovar que não, o que é, infelizmente, até do conhecimento geral.Triste, deprimente e vergonhosa realidade... Pense nisso e faça sua parte para coibir essa prática doentia, criminosa, nojenta e inconcebível, mas que ainda é frequente.


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