Crise administrativa
Pedro J. Bondaczuk
A administração de Francisco Amaral vem encontrando
sérias dificuldades políticas, na quase metade de seu mandato, com a
popularidade do prefeito despencando a níveis praticamente inéditos. Isto se
deve, em parte, às deficiências de seu próprio gabinete (no qual já ocorreram
nove mudanças) e, em parte, a problemas que fogem de sua alçada, mas que lhe
são injustamente atribuídos. Neste último caso, está a alta (intolerável, na
verdade) taxa de criminalidade registrada nos três primeiros meses deste ano em
Campinas. Todavia, a segurança pública, o chamado "poder de polícia",
é atribuição exclusiva do Estado, fugindo, portanto, da esfera municipal.
Os campineiros sentem-se assustados, acuados e em
certos casos até apavorados com a onda de violência que atinge a cidade --- há
pouco tempo um burgo pacato e hospitaleiro --- com o aumento vertiginoso do
número de homicídios, furtos e roubos, mormente de veículos. Hoje em dia, sair
de casa, em especial no período noturno, é uma temeridade, quando não uma
aventura. E isso é intolerável.
Alguns associam esse fenômeno às inúmeras invasões
de terra (por si sós um ato ilegal, a merecer uma ação mais enérgica por parte
da Justiça) que ocorrem na periferia, praticadas, ao que se constata, por
pessoas vindas de várias partes do Estado, mormente dos municípios que integram
a área metropolitana da Capital. A ação de traficantes de drogas, no entanto,
tem muito a ver com parte considerável dos delitos.
Por outro lado, manifestações, como a dos perueiros,
que bloquearam os acessos a Campinas, no dia 13 de março passado, ferindo o
sagrado direito de ir e vir da população, garantido pela Constituição, foram
igualmente atribuídas ao prefeito. Neste caso, ressalte-se, a acusação é‚ absolutamente
injustificada. Caberia às autoridades estaduais de segurança, mormente à
Polícia Militar, desbloquear as rodovias e garantir a ordem pública, o que não
foi feito.
É certo que fracassou a tentativa de Chico Amaral de
inovar, em termos administrativos, com a criação do cargo de "gerente da
cidade". A idéia até que é boa. Provavelmente, faltou coordenação entre
esse "super-administrador" e o secretariado municipal, que aliás
mostrou falta de sintonia e um certo "vedetismo", com uma infantil e
inútil disputa interna por poder. Para complicar, o efeito El Niño aprontou das
suas neste ano, também em Campinas, a exemplo do que ocorreu em várias partes
do mundo, fazendo com que a fragilidade do aparato urbano campineiro ficasse à
mostra.
Além das já tradicionais enchentes de verão, nas
áreas de risco sobejamente conhecidas, o asfalto de várias ruas --- tanto do
Centro quanto dos bairros --- se deteriorou, abrindo crateras, que se
constituíram (e em alguns lugares ainda se constituem), em tormento para os motoristas
e em alegria para as oficinas mecânicas.
Mas, possivelmente, o maior "pecado"
político de Chico Amaral tenha sido o de evitar aparições públicas, gesto
interpretado por seus adversários como de "omissão". Diante da onda
de descontentamento que se avoluma, a melhor estratégia seria a de se expor, de
dialogar, de debater e até de discutir, se necessário, mas nunca se esconder.
O prefeito poderia, e deveria, valer-se dos meios de
comunicação, para explicar à população as dificuldades da falta de recursos que
atinge não somente Campinas, mas a quase totalidade dos municípios brasileiros,
e rebater as críticas (algumas nitidamente impertinentes, típicas de anos
eleitorais e por isso destrutivas, e outras bastante justificáveis). É como
dizia o velho Chacrinha, do alto de sua experiência: "Quem não se
comunica, se trumbica".
(Artigo escrito em 29 de março de 1998)
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