Sunday, November 24, 2013

Crise administrativa


Pedro J. Bondaczuk


A administração de Francisco Amaral vem encontrando sérias dificuldades políticas, na quase metade de seu mandato, com a popularidade do prefeito despencando a níveis praticamente inéditos. Isto se deve, em parte, às deficiências de seu próprio gabinete (no qual já ocorreram nove mudanças) e, em parte, a problemas que fogem de sua alçada, mas que lhe são injustamente atribuídos. Neste último caso, está a alta (intolerável, na verdade) taxa de criminalidade registrada nos três primeiros meses deste ano em Campinas. Todavia, a segurança pública, o chamado "poder de polícia", é atribuição exclusiva do Estado, fugindo, portanto, da esfera municipal.

Os campineiros sentem-se assustados, acuados e em certos casos até apavorados com a onda de violência que atinge a cidade --- há pouco tempo um burgo pacato e hospitaleiro --- com o aumento vertiginoso do número de homicídios, furtos e roubos, mormente de veículos. Hoje em dia, sair de casa, em especial no período noturno, é uma temeridade, quando não uma aventura. E isso é intolerável.

Alguns associam esse fenômeno às inúmeras invasões de terra (por si sós um ato ilegal, a merecer uma ação mais enérgica por parte da Justiça) que ocorrem na periferia, praticadas, ao que se constata, por pessoas vindas de várias partes do Estado, mormente dos municípios que integram a área metropolitana da Capital. A ação de traficantes de drogas, no entanto, tem muito a ver com parte considerável dos delitos.

Por outro lado, manifestações, como a dos perueiros, que bloquearam os acessos a Campinas, no dia 13 de março passado, ferindo o sagrado direito de ir e vir da população, garantido pela Constituição, foram igualmente atribuídas ao prefeito. Neste caso, ressalte-se, a acusação é‚ absolutamente injustificada. Caberia às autoridades estaduais de segurança, mormente à Polícia Militar, desbloquear as rodovias e garantir a ordem pública, o que não foi feito.

É certo que fracassou a tentativa de Chico Amaral de inovar, em termos administrativos, com a criação do cargo de "gerente da cidade". A idéia até que é boa. Provavelmente, faltou coordenação entre esse "super-administrador" e o secretariado municipal, que aliás mostrou falta de sintonia e um certo "vedetismo", com uma infantil e inútil disputa interna por poder. Para complicar, o efeito El Niño aprontou das suas neste ano, também em Campinas, a exemplo do que ocorreu em várias partes do mundo, fazendo com que a fragilidade do aparato urbano campineiro ficasse à mostra.

Além das já tradicionais enchentes de verão, nas áreas de risco sobejamente conhecidas, o asfalto de várias ruas --- tanto do Centro quanto dos bairros --- se deteriorou, abrindo crateras, que se constituíram (e em alguns lugares ainda se constituem), em tormento para os motoristas e em alegria para as oficinas mecânicas.

Mas, possivelmente, o maior "pecado" político de Chico Amaral tenha sido o de evitar aparições públicas, gesto interpretado por seus adversários como de "omissão". Diante da onda de descontentamento que se avoluma, a melhor estratégia seria a de se expor, de dialogar, de debater e até de discutir, se necessário, mas nunca se esconder.

O prefeito poderia, e deveria, valer-se dos meios de comunicação, para explicar à população as dificuldades da falta de recursos que atinge não somente Campinas, mas a quase totalidade dos municípios brasileiros, e rebater as críticas (algumas nitidamente impertinentes, típicas de anos eleitorais e por isso destrutivas, e outras bastante justificáveis). É como dizia o velho Chacrinha, do alto de sua experiência: "Quem não se comunica, se trumbica".


(Artigo escrito em 29 de março de 1998)


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