Saturday, November 09, 2013

Guerra que extrapola fronteiras


Pedro J. Bondaczuk

O terror voltou a agir, desta vez em dois atentados sincronizados, realizados nos aeroportos Leonardo da Vinci (conhecido carinhosamente por Fiumicino pelos romanos) na capital italiana e de Schwechat, em Viena, na Áustria. Numa demonstração cabal de insânia absoluta, 17 pessoas inocentes, entre as quais uma criança de onze anos, filha de um jornalista norte-americano, foram mortos em ambos os locais, sendo 14 no primeiro ataque e três no segundo.

Cento e dez outras vítimas tiveram um pouco mais de sorte e apenas sofreram ferimentos. Mas dez estão em estado grave e podem vir a engrossar o número de vítimas fatais de mais esse episódio sangrento. Confirmam-se, dessa forma, as previsões feitas por alguns analistas de que os extremistas voltariam a atacar com dureza, para vingar alguns revezes sofridos no ano.

O interessante de se observar é que não faltou queem prevenisse as autoridades para essa possibilidade. Antes do Natal, a Interpol havia comunicado o pessoal de segurança de diversos aeroportos, alertando quanto à possível ocorrência de algum ataque terrorista no período dos festejos natalinos. Eles aconteceram dois dias depois.

O que o observador fica a se perguntar é: como foi possível o ingresso de extremistas nos dois locais atingidos, armados como estavam, sem que nenhuma autoridade policial percebesse? É necessário que os governos, especialmente os europeus, se compenetrem que a guerra do Oriente Médio extrapolou, há tempos, os meros limites daquela região.

Hoje ela tem caráter total e é inconcebível que se abram brechas, por descuido ou por desleixo, para que os guerrilheiros atuem. O resultado sempre acaba sendo trágico e justamente para pacatos cidadãos, alheios às transas ideológicas ou às questiúnculas territoriais que deflagraram esse processo de violência.

Nos dois atentados de ontem, o alvo evidente foi Israel, representado por sua empresa aérea El Al, atacada tanto em Roma quanto em Viena. E as autoridades israelenses não ficaram alheias a isso. Tanto que o ministro da Defesa desse país, Yitzhak Rabin, comentou ontem mesmo sobre os ataques e acusou a Organização para a Libertação da Palestina por eles. Isso, mesmo os líderes dessa entidade, nas capitais italiana e austríaca, apressando-se em negar qualquer participação da OLP nessas ações e em condenar os atos de violência.

Consoante a política israelense no trato com o terrorismo, é bastante previsível qualquer ataque retaliatório do Estado judeu nas próximas horas. Como o deflagrado em 1º de outubro passado, quando Phantoms F-16 de Israel voaram 2.400 quilômetros para arrasar o quartel-general da OLP num subúrbio da capital tunisina.

Naquela oportunidade, a ação foi para punir um seqüestro de um iate particular em Lanarca, no Chipre, com três mortos. Imaginem agora que as vítimas fatais foram 17 e que mais de uma centena de pessoas foram feridas!

Até que ponto vai essa guerrinha particular e quais os países que ela irá atingir, é algo que fica por conta do imponderável. O próximo ataque tanto pode ser em Paris, quanto em Londres, Copenhague, Haia ou Bruxelas. Será onde as autoridades se descuidarem mais da segurança, confiando numa possível imunidade, que de fato não existe,

O número de cidadãos inocentes atingidos também é outra incógnita, podendo ser 20, 50, 70 ou até mesmo algumas centenas. E o pior de tudo é que não há como evitar essas carnificinas, a não ser redobrando a vigilância, assim mesmo sem nenhuma garantia de que essa atitude surta efeito.

Pelo menos nesse aspecto, o do terrorismo, as previsões para 1986 não são para entusiasmar ninguém. Fica, pois, provado, de uma vez por todas, que a força, por maior que seja, tem suas limitações que às vezes chegam a ser até insuperáveis.

(Artigo publicado na página 8, Internacional, do Correio Popular, em 28 de dezembro de 1985).


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