"Aulas de terror"
numa escola de criminalidade
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente peruano, Alan Garcia Perez, nas inúmeras promessas que fez durante a
campanha presidencial do ano passado, deu maior ênfase a uma muito especial: a
de que, em pouco tempo, se fosse eleito, chegaria a bom termo com os vários
grupos rebeldes que então atuavam no Peru, para pacificar a nação e iniciar um
vigoroso processo de recuperação nacional, com a participação de todos.
Os
guerrilheiros não se abalaram e desde o primeiro instante demonstraram não
acreditar, nem um pouco, nesse tipo de proposta. Não só não aceitaram qualquer
espécie de pacto, com o então candidato, como ainda procuraram impedir a
própria realização desse pleito, que tentaram, de todas as formas, sabotar.
Após
conseguir a vitória nas urnas, o jovem presidente, quando ainda
recém-empossado, bem que tentou cumprir o que havia prometido. Entretanto, os
guerrilheiros ignoraram solenemente essa mão estendida. E foram mais longe
ainda. Passaram a sabotar as várias sedes do partido governamental, a outrora
legendária APRA de Haya de La Torre, explodindo inúmeras de suas unidades.
Em
pouco tempo, tudo o que Alan Garcia criticou em palanque, acerca dos métodos do
seu antecessor, Fernando Belaunde Terry, de tratar com os terroristas, teve que
ser reconsiderado. Ele prometeu, por exemplo, durante a campanha, suspender o
estado de sítio em várias províncias do país onde o "Sendero
Luminoso" é mais atuante. Não cumpriu essa promessa. E as prisões passaram
a ficar cada vez mais superlotadas de guerrilheiros, ao invés de se esvaziarem.
Os
vários grupos extremistas deram o troco a esse recrudescimento da repressão.
Voltaram a agir, com virulência redobrada, desmoralizando todas as medidas
oficiais para repor o Peru à ordem. As rebeliões nos três maiores presídios
peruanos, registradas desde anteontem, não são nada mais do que uma decorrência
dessa ausência de soluções para a questão.
Diz
o bom senso que concentrar num mesmo local meia dúzia de terroristas, gente que
se supõe seja cheia de truques e de expedientes, já é uma rematada tolice.
Imagine-se fazer isso com 500! Pois foi o que aconteceu, especialmente em El
Frontón. A conseqüência natural e lógica dessa concentração foi exatamente o
que aconteceu. Pretextando um protesto contra a possível transferência para uma
instituição penal localizada em pleno deserto, esses presos especiais se
rebelaram e ocuparam a própria prisão. Mais do que isso, a transformaram numa
verdadeira fortaleza, onde estão enfrentando até o Exército.
Causa
estranheza ao observador o fato dos amotinados disporem de tantos recursos. Não
quanto às armas de fogo que estão usando, pois essas não são muito difíceis de
serem infiltradas, por maior que seja a vigilância estabelecida para evitar tal
procedimento. Mas os guerrilheiros construíram dentro de El Frontón uma
fortificação de pedras e cimento! É incrível, mas é verdade!
Onde
estavam os guardas que não viram quando essa paredes reforçadas estavam sendo
levantadas? Onde os amotinados obtiveram o material para que isso pudesse ser
feito? E qual a razão de tantos "senderistas" estarem juntos num
mesmo estabelecimento penal?
Já
é hora do presidente Alan Garcia, que tem mostrado tanta aptidão e competência
para equacionar algumas das graves questões econômicas peruanas, se voltar para
a área social. Socorrer populações miseráveis, desvalidas, virtualmente
abandonadas, que acabam por se transformar, fatalmente, em autênticos
"caldos de cultura" para que o vírus destruidor do extremismo surja e
se multiplique assustadoramente. E que, sobretudo, haja mais racionalidade e
bom senso no sistema carcerário do Peru.
No
Brasil, quando foram misturados presos políticos com marginais comuns em
algumas instituições penais, todos se lembram bem o que aconteceu. Os
extremistas ensinaram métodos sofisticados de guerra urbana aos delinqüentes. E
por anos e anos seguidos, os assaltos cinematográficos a bancos
transformaram-se até em uma rotina. Ao que tudo indica, o processo está em
acelerada reprodução no Peru.
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 20 de junho de
1986)
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