Ocidente dará mãozinha
O presidente soviético, Mikhail Gorbachev, classificado,
recentemente, pela primeira-ministra lituana, Kazimierza Prunskiene, como “o
queridinho do mundo”, será preservado de críticas durante a viagem que inicia,
hoje, em Ottawa, no Canadá, e dois países, que vai culminar com a reunião de
cúpula com o seu colega norte-americano, George Bush, a partir de amanhã, em
Washington.
As autoridades canadenses, por exemplo, não escondem sua
preocupação de que o líder do Cremlin tenha sucesso em sua passagem por esse
país, para impressionar a população da URSS. Em sua própria pátria, o mentor da
perestroika vive o ponto mais baixo de sua popularidade desde que ascendeu ao
poder, em março de 1985.
Problemas domésticos, aliás, não lhe faltam. Além dos
conflitos étnicos e da luta secessionista em seis Repúblicas –
Lituânia, Letônia, Estônia, Geórgia, Armênia e Azerbaijão – ele ainda está às
voltas com o pânico dos consumidores diante dos anunciados aumentos de gêneros
de primeira necessidade em decorrência das reformas econômicas cujo projeto
tramita no Soviete Supremo; com o desafio do reformista Boris Yeltsin, na
iminência de se tornar o presidente da Rússia e com outras questões menores,
mas nem por isso menos incômodas e desgastantes, como o déficit habitacional, o
crescimento da criminalidade e o sucateamento da indústria nacional.
É verdade que com George Bush, Gorbachev vai tratar de
temas não menos polêmicos. Um deles, por exemplo, é o que se refere à
insistência para que a Alemanha, reunificada, permaneça na Organização do
Tratado do Atlântico Norte.
O líder do Cremlin quer que o novo Estado germânico seja
neutro. O assunto do Báltico, certamente, virá à tona. Mas, estejam certos os
leitores, tudo será feito de tal maneira que nada desgaste a imagem do
presidente soviético. Até porque, ao Ocidente não interessa nenhuma surpresa
desagradável, como a queda do mentor da perestroika, que poderia pôr em risco
as incríveis mudanças que se verificam no Leste da Europa.
Ao contrário do seu país, Gorbachev goza, nos Estados
Unidos, de mais popularidade do que o ex-presidente Ronald Reagan, conforme
pesquisa de opinião publicada anteontem pelo jornal “The Washington Post”.
Perde, neste aspecto, apenas para o seu anfitrião, George Bush, mas querer
superá-lo em sua própria casa já seria esperar demais, não é mesmo?
Aliás, fica, no observador, a certeza de que a cúpula
desta semana foi acertada com um único objetivo. E este é o de reanimar o
presidente soviético, para que não se deixe abater pelos estonteantes e graves
problemas domésticos que vem tendo que enfrentar. Afinal, mesmo que Prunskiene
tenha feito sua afirmação ironicamente, ela não deixa de ter razão. “Gorby” é
hoje, de fato, o “queridinho do mundo”.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 29
de maio de 1990).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment