Paz ainda é sonho na América Central
Pedro J.
Bondaczuk
A América Central, onde floresceu uma das mais
fantásticas civilizações da Terra, a maia, quando a Europa ainda não passava de
um amontoado de tribos bárbaras e selvagens que se digladiavam por comida, tem
sido palco de violência, de golpes e contragolpes e de toda a sorte de ações de
exploração do homem pelo homem nos últimos cinco séculos.
De tempos em tempos, a região desaparece do
noticiário e fica a impressão nas pessoas não muito bem informadas que os
centro-americanos finalmente lograram obter a paz. Todavia, os fatos demonstram
que, por maiores que tenham sido os esforços de seus líderes para alcançar esse
objetivo, isto está ainda muito distante de ser uma realidade. O que ocorre é
que, com o fim da guerra fria, norte-americanos e soviéticos não precisam mais
desse "tabuleiro de xadrez" para travar sua disputa ideológica.
À exceção da Costa Rica, país tradicionalmente
pacífico e ordeiro, até por vocação, tanto é quem nem Exército possui, os
demais povos centro-americanos continuam em idêntica situação que sempre
tiveram. É verdade que os regimes militares caíram na região. Isto, porém, não
implica em dizer que haja democracias de fato por ali.
Os generais foram substituídos no poder por membros,
ou representantes, das elites locais, indiferentes à sorte de seus respectivos
Estados, pretendendo manter as coisas como elas sempre foram. Ou seja, de um
lado, uns pouquíssimos "terratenientes", possuidores de vastas
propriedades, a maioria incultas, esbanjando dinheiro no Exterior e julgando-se
escolhidos dos deuses. E de outro, uma vastíssima maioria de camponeses,
indígenas ou descendentes de índios, sobrevivendo parcamente ao deus-dará.
Em El Salvador, por exemplo, somente 21 famílias
eram, até recentemente, virtuais proprietárias de tudo o que havia no país, que
é o mais populoso e o menor em área de toda a América Central, com seus sete
milhões de habitantes. Hoje, dois terços do território salvadorenho são
dominados pela guerrilha, que promete não ceder um milímetro do que conquistou
pelas armas.
O governo norte-americano, ou por desconhecimento da
realidade, ou por oportunismo político, teima em carrear milhões de dólares ao
governo dessa violenta República, para que tudo possa ser mantido como está.
Tal procedimento, inclusive, é pernicioso para a própria superpotência.
Sem uma perspectiva de progresso em sua pátria,
milhões de centro-americanos têm seguido para os Estados Unidos, a maioria
ilegalmente, em busca de uma vida melhor.
Hoje, a população do vizinho do Norte já tem uma
cifra bastante considerável de cidadãos hispânicos. Como a taxa de natalidade
dessa gente é praticamente seis vezes maior do que a norte-americana, nem é
preciso ser gênio ou profeta para intuir o que irá ocorrer dentro de duas ou
três gerações.
A continuar dessa forma, os Estados Unidos se
encaminham para ser o maior país "latino-americano" do mundo, com os
indivíduos dessa origem superando, em muito, os que são de descendência
anglo-saxã ali. Não seria, pois, mais prático dar condições a salvadorenhos,
guatemaltecos, hondurenhos e nicaragüenses para que se desenvolvessem, enquanto
pessoas, em suas pátrias de origem?
Quanto à paz na região, as partes em conflito até
que se esforçam. Guerrilhas e governos negociam, por exemplo, em El Salvador e
na Guatemala. Mas os resultados têm sido virtualmente nulos. De um lado, as
elites não estão dispostas a abrir mão de nenhum de seus privilégios. De outro,
radicais marxistas, na contramão da história, querem implantar regimes
comprovadamente utópicos e desastrosos. Vai daí...
(Artigo publicado na página 18, Internacional, do
Correio Popular, em 28 de junho de 1991).
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