Tuesday, November 26, 2013

Decisão infeliz e perigosa


Pedro J. Bondaczuk


A Câmara de Deputados da Colômbia tomou, anteontem à noite, uma atitude incompreensível e absolutamente absurda, que se confirmada pelo Senado, vai deixar a população do país numa situação incômoda e sobretudo perigosa.

Os parlamentares resolveram submeter aos cidadãos, através de plebiscito nacional, a questão da extradição de narcotraficantes colombianos para os Estados Unidos, onde a Justiça não tem medo das ameaças e das ações desses bandidos de casaca.

Como esperar uma manifestação livre de pensamento nas circunstâncias atuais, quando as organizações criminosas movem uma guerra sem quartel contra o governo, não se importando em matar pessoas inocentes, que circunstancialmente estejam passando pelos locais onde elas praticam seus atentados?

Quem ousará votar a favor da manutenção do envio de traficantes para o território norte-americano? Os deputados tiveram mais uma oportunidade, ontem, de constatar o grau de maldade desses indivíduos, que jamais se importam com ninguém, a não ser com o próprio bolso.

Nem é preciso mencionar que a sua atividade (produção e venda de cocaína), os torna “inimigos número um” da própria espécie humana. Como conceder a essa gente o beneplácito de uma decisão popular, que certamente ela não irá respeitar? Quem não tem respeito sequer pela vida, como irá acatar as normas e vontades da sociedade da qual são declaradamente inimigos?

O observador pode  somente especular acerca do que levou os parlamentares a tomarem tão infeliz atitude. Talvez tenha sido um ultrapassado e descabido nacionalismo, com o ranço retrógrado da xenofobia, numa época em que o mundo se abre à internacionalização.

Pode ser, por outro lado, apenas uma manifestação irresponsável de birra contra o governo do presidente Virgílio Barco Vargas. Afinal, o atual Congresso colombiano é predominantemente conservador, enquanto o chefe de governo pertence às fileiras liberais.

Mas será que esses legisladores insensatos entendem ser o seu papel o de legislar em causa própria? Recusamo-nos a crer que se trate de uma questão de suborno a que tenha levado os representantes do povo a agirem em detrimento daqueles que dizem representar.

Mas fica a suspeita no ar, mesmo que seja injusta. Afinal, o que querem os deputados? A Justiça colombiana não tem proteção suficiente para decidir, com o rigor que o delito do tráfico merece. A pressão sobre os magistrados é insuportável. Anteontem, por exemplo, outro juiz que investigava casos de drogas foi morto. O que fazer? Deixar os criminosos em liberdade, como “pagamento” pelo mal que praticam? Isto seria atentar contra todos os foros de civilização de um país, o que a Colômbia, pátria de Simon Bolívar, tão progressista e hospitaleira, não merece em absoluto.

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 7 de dezembro de 1989).
    
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