Decisão infeliz e perigosa
Pedro J.
Bondaczuk
A Câmara de Deputados da Colômbia
tomou, anteontem à noite, uma atitude incompreensível e absolutamente absurda,
que se confirmada pelo Senado, vai deixar a população do país numa situação
incômoda e sobretudo perigosa.
Os parlamentares resolveram
submeter aos cidadãos, através de plebiscito nacional, a questão da extradição
de narcotraficantes colombianos para os Estados Unidos, onde a Justiça não tem
medo das ameaças e das ações desses bandidos de casaca.
Como esperar uma manifestação
livre de pensamento nas circunstâncias atuais, quando as organizações
criminosas movem uma guerra sem quartel contra o governo, não se importando em
matar pessoas inocentes, que circunstancialmente estejam passando pelos locais
onde elas praticam seus atentados?
Quem ousará votar a favor da
manutenção do envio de traficantes para o território norte-americano? Os
deputados tiveram mais uma oportunidade, ontem, de constatar o grau de maldade
desses indivíduos, que jamais se importam com ninguém, a não ser com o próprio
bolso.
Nem é preciso mencionar que a sua
atividade (produção e venda de cocaína), os torna “inimigos número um” da
própria espécie humana. Como conceder a essa gente o beneplácito de uma decisão
popular, que certamente ela não irá respeitar? Quem não tem respeito sequer
pela vida, como irá acatar as normas e vontades da sociedade da qual são
declaradamente inimigos?
O observador pode somente especular acerca do que levou os
parlamentares a tomarem tão infeliz atitude. Talvez tenha sido um ultrapassado
e descabido nacionalismo, com o ranço retrógrado da xenofobia, numa época em
que o mundo se abre à internacionalização.
Pode ser, por outro lado, apenas uma manifestação
irresponsável de birra contra o governo do presidente Virgílio Barco Vargas.
Afinal, o atual Congresso colombiano é predominantemente conservador, enquanto
o chefe de governo pertence às fileiras liberais.
Mas será que esses legisladores
insensatos entendem ser o seu papel o de legislar em causa própria?
Recusamo-nos a crer que se trate de uma questão de suborno a que tenha levado
os representantes do povo a agirem em detrimento daqueles que dizem
representar.
Mas fica a suspeita no ar, mesmo
que seja injusta. Afinal, o que querem os deputados? A Justiça colombiana não
tem proteção suficiente para decidir, com o rigor que o delito do tráfico
merece. A pressão sobre os magistrados é insuportável. Anteontem, por exemplo,
outro juiz que investigava casos de drogas foi morto. O que fazer? Deixar os criminosos
em liberdade, como “pagamento” pelo mal que praticam? Isto seria atentar contra
todos os foros de civilização de um país, o que a Colômbia, pátria de Simon
Bolívar, tão progressista e hospitaleira, não merece em absoluto.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 7
de dezembro de 1989).
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