Saturday, November 30, 2013

Escravidão infantil


Pedro J. Bondaczuk

A verdadeira civilização, aquela caracterizada pelo respeito absoluto e irrestrito ao ser humano, chegou a pouquíssimas partes do mundo, neste final de milênio, tido como o dos mais notáveis avanços no campo da tecnologia. Mas em termos de relacionamento entre as pessoas, a humanidade, ou pelo menos parte considerável dela, continua na Idade da Pedra, quando a luta pela sobrevivência se caracterizava pelo extremo egoísmo; pelo instinto substituindo a razão.

Os delegados da Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, ouviram, certamente estarrecidos, ontem, uma revelação, sobretudo chocante. A de que cerca de 20 milhões de crianças trabalham, como escravas, em parte considerável do Sul asiático.

Embora nestas questões não se deva olhar o lado quantitativo, mas o princípio em si, o número é, simplesmente, assustador. Como ademais também seria se um único menor fosse o escravizado, para produzir riquezas para outro indivíduo, pois esta é uma brutalidade intolerável.

Pode parecer óbvia, esta afirmação, mas há milhões de pessoas que não entendem isso. Tanto, que existe uma quantidade tão grande de pequeninos sendo explorada da maneira mais vil e covarde que se possa conceber.

Mas não é somente o Sul da Ásia que conta com essa aberração. Foi ventilado, na ONU, o caso de lá, porque a denúncia partiu de um desses (já um tanto raros) abnegados idealistas, que ainda existem por todas as partes (poucos, infelizmente, e ficando a cada dia mais escassos), que realmente se preocupam com os semelhantes, que é dessa região.

Escravidão infantil, no entanto, (ostensiva ou disfarçada), existe em várias outras partes. Recentemente, comentamos a respeito da imensa covardia praticada por alguns governos africanos, que transformam meninos, de oito a doze anos, em “soldados”. Melhor qualificaríamos se disséssemos: em “buchas de canhão”.

Em muitas regiões, as crianças são exploradas sexualmente, para satisfazer a tara de degenerados, de seres doentios, que requerem tratamento adequado e não podem estar andando à solta nas ruas (alguns ocupando, até, cargos de destaque na sociedade).

Nas Filipinas, por exemplo, um desses centros de pedofilia chega ao perverso requinte de utilizar computadores para selecionar parceiros sexuais para as crianças. São situações como essa que provocam asco e desalento naqueles que ainda crêem que haja esperança para o mundo. Ela existe, mas é indispensável que se cobre alguma ação de quem de direito, para coibir aberrações tão assustadoras, que mostram que a sociedade do nosso tempo está profundamente doente e carente de rumos.   

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 4 de agosto de 1989)


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