Escravidão
infantil
Pedro J. Bondaczuk
A verdadeira civilização, aquela caracterizada pelo
respeito absoluto e irrestrito ao ser humano, chegou a pouquíssimas partes do
mundo, neste final de milênio, tido como o dos mais notáveis avanços no campo
da tecnologia. Mas em termos de relacionamento entre as pessoas, a humanidade,
ou pelo menos parte considerável dela, continua na Idade da Pedra, quando a
luta pela sobrevivência se caracterizava pelo extremo egoísmo; pelo instinto
substituindo a razão.
Os delegados da Comissão dos Direitos Humanos das
Nações Unidas, em Genebra, ouviram, certamente estarrecidos, ontem, uma
revelação, sobretudo chocante. A de que cerca de 20 milhões de crianças
trabalham, como escravas, em parte considerável do Sul asiático.
Embora nestas questões não se deva olhar o lado
quantitativo, mas o princípio em si, o número é, simplesmente, assustador. Como
ademais também seria se um único menor fosse o escravizado, para produzir
riquezas para outro indivíduo, pois esta é uma brutalidade intolerável.
Pode parecer óbvia, esta afirmação, mas há milhões
de pessoas que não entendem isso. Tanto, que existe uma quantidade tão grande
de pequeninos sendo explorada da maneira mais vil e covarde que se possa
conceber.
Mas não é somente o Sul da Ásia que conta com essa
aberração. Foi ventilado, na ONU, o caso de lá, porque a denúncia partiu de um
desses (já um tanto raros) abnegados idealistas, que ainda existem por todas as
partes (poucos, infelizmente, e ficando a cada dia mais escassos), que realmente
se preocupam com os semelhantes, que é dessa região.
Escravidão infantil, no entanto, (ostensiva ou
disfarçada), existe em várias outras partes. Recentemente, comentamos a
respeito da imensa covardia praticada por alguns governos africanos, que transformam
meninos, de oito a doze anos, em “soldados”. Melhor qualificaríamos se
disséssemos: em “buchas de canhão”.
Em muitas regiões, as crianças são exploradas
sexualmente, para satisfazer a tara de degenerados, de seres doentios, que
requerem tratamento adequado e não podem estar andando à solta nas ruas (alguns
ocupando, até, cargos de destaque na sociedade).
Nas Filipinas, por exemplo, um desses centros de
pedofilia chega ao perverso requinte de utilizar computadores para selecionar
parceiros sexuais para as crianças. São situações como essa que provocam asco e
desalento naqueles que ainda crêem que haja esperança para o mundo. Ela existe,
mas é indispensável que se cobre alguma ação de quem de direito, para coibir
aberrações tão assustadoras, que mostram que a sociedade do nosso tempo está
profundamente doente e carente de rumos.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 4 de agosto de 1989)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment